terça-feira, 31 de outubro de 2017

Mineração do fundo do mar em debate

  • «O Governo português não tem a mineração do mar profundo como prioridade e só terá interesse nela quando for possível fazê-la com um mínimo de sustentabilidade ambiental, sob o ponto de vista do risco da actividade extractiva», afirmou Fausto Brito e Abreu, Director-Geral de Política do Mar, durante a conferência «Mineração em Mar Profundo – Uma escolha sustentável para Portugal?». Filipe Porteiro, Director Regional dos Assuntos do Mar dos Açores, defendeu a importância do conhecimento do potencial do fundo marinho nacional, que pode obter-se, por exemplo, através da participação em consórcios e acompanhando devidamente os processos. E deu o exemplo da Polónia, que terá apresentado uma candidatura a uma concessão para um lote marítimo numa zona adjacente à área da plataforma continental estendida portuguesa situada a sul dos Açores junto da Autoridade Internacional do Fundo Marinho (ISA, na sigla em inglês). Marta Chantal Ribeiro, professora auxiliar na Faculdade de Direito da Universidade do Porto e coordenadora do Grupo de Investigação em Direito do Mar no Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental, sublinhou os aspetos negativos do Decreto-Lei 38/2015, que estabelece as Bases da Política de Ordenamento e Gestão do Espaço Marítimo Nacional, um documento «pernicioso no que respeita à protecção dos campos hidrotermais das Regiões Autónomas». Segundo a jurista, este diploma reduz as competências regionais de ordenamento e gestão do espaço marinho regional às 200 milhas náuticas e exige um parecer obrigatório prévio e vinculativo das autoridades regionais e nacionais para estabelecer novas áreas marinhas protegidas na região. Quanto aos instrumentos de criação e gestão das áreas marinhas protegidas já existentes, o diploma prevê que podem ser suspensos ou afastados por razões de interesse nacional, sem que se diga qual o procedimento para aí chegar. JEM.
  • As organizações não governamentais da área da pesca mostram-se chocadas com o facto de o governo ter apresentado a sua proposta de gestão da sardinha apenas aos representantes dos pescadores. Os recursos marinhos pertencem a todos e não apenas a quem os explora do ponto de vista económico, sublinha a PONG-Pesca. Por outro lado, as organizações representativas dos pescadores defendem que o governo devia ser mais permissivo. JNegócios.

China encerra dezenas de fábricas para reduzir a poluição durante os próximos 5 meses

  • A holandesa SPT Offshore introduziu um novo conceito de turbina eólica de torre de sucção que diz ser de baixo custo e amiga do Ambiente. Têm a vantagem de permitir uma instalação rápida e utilizam uma tecnologia praticamente livre de ruído, tornando-as seguras para mamíferos marinhos. Além disso, a empresa diz que as torres de sucção não causam choques na base, permitindo a instalação de uma peça única até à plataforma de trabalho. A SPT afirma que as suas torres de sucção são adequadas para serem usadas em 99% do Mar do Norte e na maioria das áreas de águas rasas em todo o mundo com solos arenosos ou em camadas. REM.
  • Na China, dezenas de fábricas de aço reduziram drasticamente a sua produção ou encerraram, estando as cimenteiras do norte do país a preparar-se para encerrarem antes do Natal. Trata-se de um plano de ação agressivo que visa reduzir a poluição em 15% durante os próximos cinco meses. Unearthed.

Reflexão - «Vantagens e desvantagens do aquecimento com recuperadores a pellets»

Ponte fortificada de Ucanha. Rio Varosa. Foto: Portugal em caminhadas

«Vantagens 
A economia e o rendimento do aquecimento com recuperadores a Pellets é uma vantagem muito interessante, por ser um produto com baixo teor de humidade e isenção de resinas, a combustão é quase que na sua totalidade e as cinzas resultantes da queima variam entre 1% a 3%.
A queima por dosagem é uma maneira muito eficaz para reduzir o uso excessivo dos Pellets, além de manter a temperatura do ambiente sempre regulável, podendo configurar a velocidade do sistema de ventilação.
O fim da fumaça e do cheiro de queimada também são ótimas vantagens, ao adquirir um recuperador de calor a Pellets, ele poderá ser instalado no interior de residências, escritórios, restaurantes e demais comércios, é uma oportunidade de todos terem uma lareira eficiente em suas casas, o não uso da chaminé tradicional possibilita a instalação em qualquer ambiente, somente é necessária uma saída para o exterior para a extração do dióxido de carbono.
O acendimento automático dos recuperadores a Pellets, também possibilita um menor esforço, seu equipamento geralmente é ligado pressionando apenas um botão para começar a ignição dos pellets, o funcionamento pode chegar até 30 horas com aquecimento contínuo e o tempo limite para atingir a temperatura mínima também é constatado no sistema.
Dentre todas as vantagens interessantes o aquecimento ecológico é destacado no aquecimento com recuperadores a Pellets, os índices de poluição são bem reduzidos, as partículas de CO2 atingem apenas 1 grama por hora, deixando o ambiente e o ecossistema mais limpos.

Desvantagens 
O Aquecimento com Recuperadores a Pellets poderá ser nocivos à saúde, a produção do pó fino no fim da queimada é prejudicial, alguns sistemas possuem um filtro que inibe o escoamento do pó, mas a grande parte dos fabricantes não o utiliza, porque não é exigido pelos órgãos regulamentadores.
A cinza dos pellets não é orgânica, sendo considerado um lixo toxico e seu descarte deverá ser feito de maneira correta, antes de comprar um sistema de aquecimento pergunte ao fornecedor qual o melhor jeito de realizar o seu descarte.
Atente-se aos fabricantes de pellets, algumas marcas utilizam madeira de baixa qualidade, a desvantagem será na economia, pois a queima será mais rápida e utilizará mais pellets para aquecer o ambiente, encarecendo assim o seu uso.
Antes de adquirir o seu sistema de Aquecimento com Recuperadores a Pellets, preste atenção nos fornecedores, normas de uso, instalação correta por profissionais qualificados, regras de segurança, entre outros aspectos interessantes»

Bico calado

Foto: Andrew Matthews/PA
  • «(...) O Halloween é uma coisa parva que importámos e que ninguém sabe para que serve – é como os submarinos. Fui ao hipermercado e estavam abóboras com autocolantes a fazer de dentes assustadores e de olhos maus – se a intenção é assustar as pessoas, podiam fazer isso com autocolantes com o preço do lombo. Para mim, uma abóbora é sempre uma abóbora. De uma abóbora eu espero que seja capaz de dar origem a uma boa sopa, não espero que tente assustar o meu mais novo. Claro que se pudéssemos escolher a fruta e os legumes desta forma, tudo seria mais simples. Se o melão mau tivesse cara de mau, eu não tinha necessidade de lhe apertar as extremidades para ter um leve palpite sobre a sua natureza. "Não leves essa meloa porque está com cara de enjoada". Tornava tudo mais simples. Portanto, senhores dos hipermercados e outras lojas em geral, eu queria pedir se evitavam de assustar os miúdos com legumes porque eles já os detestam o suficiente. Podem poupar tempo. Por exemplo, não precisam mascarar um espinafre porque as crianças só de ouvirem falar no nome choram. Não faz sentido mascarar abóboras só porque é Dia das Bruxas. Se vão por aí, no dia do pai têm que pôr tomates a sorrir. (...)». João Quadros, in O nosso HalloweenSapo24.
  • «(...) Não é com beijinhos a velhinhas e abraços a torto e a direito, quase feito Evita Péron, que as zonas queimadas se vão reerguer, nem a desertificação do interior ou o abandono da floresta se vão resolver, nem os incendiários postos a descoberto e tratados (...) Naquele seu insano frenesim, se Marcelo não cai na real e não perceber que vai estatelar-se caso continue por este caminho, ainda se torna num factor de instabilidade em vez de ser aquilo que se espera dele. (...) Portanto, Caríssimo Senhor Presidente, durma um pouco mais, pare para pensar, modere a franga que existe dentro de si e que está sempre pronta a soltar-se, deixe o Governo trabalhar, transmita aos Portugueses que, nesta árdua tarefa, estamos do mesmo lado. Apreciaremos isso, pode crer.» Um jeito manso.
  • Pedro Silveira, da Heliportugal, disse na televisão que não podia falar muito sobre incompetência e corrupção no negócio dos incêndios florestais porque já estava à pega com dois processos: um movido pelo ex-ministro Miguel Macedo e outro pelo Marques Mendes. Sim, esse que nos prega cada homilia, ganda nóia! 
  • Porto Rico cancelou um polémico contrato para reparar a rede elétrica, no valor de 300 milhões de dólares com a Whitefish Energy, após publicação de uma investigação levada a cabo pelo jornalista  Ken Klippenstein. A empresa tem inúmeras ligações à família Trump e doou muito dinheiro ao partido republicano. Para além de impedir o direito do governo fazer uma auditoria ao custo e aos lucros do negócio,  o contrato não mencionava prazos de conclusão das reparações e aplicava preços astronómicos injustificados, uma vez que a sua filial tinha apenas dois técnicos no terreno e ia entregar os trabalhos a subemprenteiros. O FBI investiga o caso.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

A hidroelétrica é a energia verde mais perigosa?

Foto:Mark Ralston/AFP/Getty Images
  • A energia hidroelétrica é a mais perigosa das energias chamadas verdes, conclui um estudo de investigadores da School of Biological Sciences da University of Hong Kong e da James Cook University, na Austrália.
  • Os alunos de 7 escolas do Oakland Unified School District, na Califórnia, estiveram expostos a água com níveis de chumbo quatro vezes superiores aos legalmente permitidos a nível federal, revelam os resultados dos exames divulgados pelo programa The Chronicle show. SFChronicle. Fantástico: as autoridades confirmam que o chumbo dilui-se na água a partir das soldaduras nas tubarias, mas insistem em dizer que a água é segura. 
  • As autoridades de Telangana cortaram o fornecimento de energia a 14 laboratórios farmacêuticos em Kazipally, acusados de terem provocado a morte de peixes no lago Gandigudem. A energia será restabelecida após as empresas terem cumprido as indicações de segurança. Times of India.

Reflexão: quem lê o Ambiente Ondas3 e quais as preferências?

Foto: Dennis Wegewijs/Alamy

No Ambiente Ondas3, os três textos mais populares da última semana foram, segundo a Google Analytics:


Durante o mesmo período, as visitas vieram, por ordem decrescente, dos seguintes países: Portugal, EUA, Brasil, França, Alemanha, Suíça, Canadá, Espanha, Polónia e Ucrânia.

Ainda durante este período, a proveniência, também por ordem decrescente, dos leitores de língua portuguesa, foi a seguinte: Aveiro, Porto, Lisboa, Açores, Coimbra, Braga, Faro, Leiria,  Setúbal e Santarém.

Bico calado

Foto: Adriano Gambarini/WWF/AFP/Getty Images
  • «Um objecto passou por baixo da Terra (...)», titula o Público. A Terra voltou a ser plana? 
  • Francois Compaore, antigo conselheiro do ex-presidente de Burkina Faso, Blaise Compaore,  foi detido no aeroporto francês Charles de Gaulle por causa dos assassinatos do jornalista Norbert Zongo e de três companheiros em 1998. Daily Mail

domingo, 29 de outubro de 2017

Espinho: Câmara insiste em aplicar glifosato em espaços públicos

  • A câmara de Espinho teima em mandar aplicar glifosato em espaços públicos do munípio. Até quando? Video de Manuel Adriano Martins Teixeira, 28out2017.
  • Já não bastava a estação de Cucujães ter sido abandonada. Agora tem de aguentar com despejos de lixo, denuncia o Movimento Cívico Pela Linha do Vouga.
  • A Quercus exigiu ao Ministério do Ambiente uma inspeção urgente ao complexo industrial da empresa de tratamento de resíduos perigosos Carmona SA, devido aos odores e mau cheiro provenientes das instalações de Brejos de Azeitão, em Setúbal. Lusa/CM.

Brasil: emissões aumentaram 8,9% em 2016

Imagem colhida aqui.
  • As margens do rio San Diego têm registado um aumento significativo de acampamentos de sem-abrigo que têm sido expulsos do centro da cidade pelas autoridades. A San Diego River Park Foundation está preocupada não só com as condições precárias dos sem-abrigo, mas também com a contaminação das águas do rio por parte das pessoas que nelas fazem as suas necessidades. VSD.
  • Os freixos do Prospect Park, em Brokklyn, New York, estão a ser dizimados por uma praga de besouros-verdes, pelo que as árvores afetadas foram abatidas. BP.
  • No Brasil, as emissões de gases de efeito de estufa subiram 8,9% em 2016 em comparação com o ano anterior. É o nível mais alto desde 2008 e a maior subida desde 2004. O Brasil é o sétimo maior poluidor do planeta. O aumento deveu-se sobretudo à alta de 27% na desflorestação da Amazónia. EcoDebate.
  • Amesterdão tem uma nova solução para o excesso de turismo, in Volta ao mundo.

Bico calado

Foto: Gatha Ginting/AFP/Getty Images
  • «Já tinha sido condenado com pena suspensa, em 2012, por andar a atear fogos. Este ano, só num mês, ateou  5 fogos, mas o juiz continua a acreditar que o homem se pode curar, por isso, voltou a suspender-lhe a pena. O IPMA e a Protecção Civil avisam que as condições atmosféricas e climáticas serão favoráveis  à propagação de incêndios. Mais uma  oportunidade para o fulano se curar.» Carlos Barbosa de Oliveira, in Afinal quem é o incendiário?Crónicas do rochedo.
  • «(...) O Presidente não é alguém que tenha surgido de fora da política para salvar o país através de afectos. É um político que durante décadas a fio dispôs, como nenhum dos seus antecessores, de uma tribuna que lhe permitiu  influenciar a opinião pública e fez dele o mais eficaz spin-doctor da política portuguesa, prática que mantém através de constantes aparições e declarações públicas. Marcelo não é apenas um homem de afectos que gosta de abraçar os que sofrem. É também um político que persegue objectivos próprios e que manifestamente gosta do poder e o usa nas margens das suas competências. (...) As tragédias de Junho e Outubro foram, pois, a oportunidade para o Presidente fragilizar o governo. Ao ter feito saber repetidamente que tinha pressa que fossem apuradas responsabilidades (como se o governo estivesse a empatar o apuramento dos factos) induziu as pessoas a pensarem que o governo era inoperante e incompetente e que sem a sua presença e as suas palavras nada seria resolvido. Só assim se justifica que o Presidente tenha quebrado a lealdade institucional com o governo e tenha feito tábua rasa da informação que o primeiro-ministro lhe tinha fornecido, fingindo que não sabia que a ministra Constança Urbano de Sousa ia ser demitida e que iam ser anunciadas importantes decisões quanto às populações e zonas afectadas. O Presidente dos afectos pode ser também muito frio e calculista.» Estrela Serrano, in O Presidente dos afectos ou o político frio e calculista? - Vai e vem.
  • Um país sem Estado e apenas com impostos, por José Pacheco PereiraPúblico 28out2017.

sábado, 28 de outubro de 2017

Maioria do Parlamento é cética em relação aos chemrails

Chemtrails em Espinho, 24ago2015
  • Mais de 4000 portugueses subscreveram uma petição sobre rastos deixados pelos aviões (chemtrails) nos céus, mas os deputados não pareceram muito dispostos a discutir o tema. Só deputados do PSD, CDS-PP e PS falaram para dizer que não há evidências científicas sobre este tema, mas aproveitaram para saudar a iniciativa dos peticionários, que defendem que os rastos deixados no céu pelos aviões são de químicos e não de vapor de água condensado. DN. Para se ter uma visão informada sobre esta temática, sugere-se a consulta dos textospublicados pelo Ambiente Ondas3.
  • Seis mil árvores vão ser abatidas no município de Sheffield. Nada poderá impedir o projeto de avançar, uma vez que o contrato, firmado em 2012 com a Amey (filial da espanhola Ferrovial) está sofisticadamente blindado. Para além do debate público ter sido eliminado e não se aceitar soluções alternativas mais baratas e sustentáveis por não implicarem o abate dessas árvores, o executivo camarário escuda-se numa cláusula do famigerado contrato secreto que estipula consequências catastróficas se forem introduzidas alterações. Tudo a bem da confidencialidade comercial. The Guardian.


Bico calado

Ponta do Tristão, Madeira. Foto: AMN 24out2017

O filho do presidente da Guiné Equatorial e vice-presidente, Teodorin Obiang, foi condenado a três anos de prisão com pena suspensa por desvio de fundos públicos, abuso de confiança e corrupção. O tribunal ordenou ainda o confisco de todos os seus bens arrestados. TVI24.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

França: Bayer perde licença para o herbicida Basta F1

Imagem: WWF/PA
  • Em França, a autoridade reguladoa da saúde e do Ambiente, a ANSES, retirou a licença para o herbicida Basta F1 da Bayer, fabricado com glufosinato-amónio, alegando incerteza acerca do efeito sobre a saúde. O produto, que é usado para pulverizar vinhas, pomares de frutas e vegetais, é o único herbicida que contém glufosinato autorizado em França.. O glufosinato é uma alternativa ao glifosato, o herbicida mais popular do mundo atualmente alvo de um forte debate feroz na União Europeia sobre se a sua licença deve ser prolongada. Reuters.
  • As tendências da seca europeia confirmam as simulações até agora feitas no âmbito das mudanças climáticas, concluem investigadores do Water Research Lab da Water Research Lab. Nature.
  • Os carros elétricos emitem 50% menos gases de efeito de estufa ao longo das suas vidas do que os motores diesel, incluindo a sua produção, a produção da bateria e o seu consumo total de energia, conclui um estudo da Universidade VUB, Bélgica. The Guardian
  • O governo neozelandez prepara-se para plantar 100 milhões de árvores por ano, informa o EcoWatch

Bico calado


A Insys Therapeutics, uma empresa farmacêutica apoiada pelos fundos de investimento Orbimed Advisors e Scopia Capital, viu o seu CEO e outros cinco executivos acusados de subornar médicos para prescreverem o opióide fentanil. A Insys tenta agora lucrar com o tratamento da epidemia de opióides que ajudou a exacerbar através da venda de drogas para tratar o vício e reverter a sobredosagem. LittleSis.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Paramos, Espinho: Ribeira de Rio Maior continua a fluir muito poluída

Foto: O que nos une é Paramos, 24out2017. 

As águas da Ribeira de Rio Maior, em Paramos, continuam a fluir com elevados índices de poluição.

Claro. Estávamos à espera de quê? Obras de fachada, para tirar fotografia em vésperas de eleições, não despoluem a barrinha e muito menos as linhas de água que nela desaguam. A sua despoluição, conseguida através de investimentos a sério nas redes de esgotos a montante, continua a ser adiada.

Açores: bactérias infeciosas na água da Caldeira Velha

  • Análises oficiais detetaram a presença de bactérias infeciosas na água da Caldeira Velha, na estrada de acesso à Lagoa do Fogo. A Câmara Municipal da Ribeira Grande confirmou as irregularidades e informou que já foram tomadas medidas para resolver a situação, nomeadamente a limpeza semanal dos tanques. RTP Açores. Por favor, não atirem as culpas para os batráquios. Que tal controlarem ou refrearem a fúria da pressão humana?
  • Os Friends of the Irish Environment acabam de processar o governo irlandês por este pouco ou nada estar a fazer para combater os impactos das alterações climáticas, concretamente na redução das emissões de gases de efeito de estufa. DesmogUK.
  • Confrontada com a possibilidade de chumbo, a Comissão Europeia suspendeu a votação de uma proposta de Bruxelas para renovar a licença do uso do glifosato (Roundup, da Monsanto) por mais 10 anos. EuroNews.
  • A Namíbia é o único país africano que tem registado francos progressos no combate ao abate ilegal de elefantes e rinocerontes. MNN.
  • A exposição humana ao glifosato, a substância ativa de alguns herbicidas, aumentou cerca de 500% desde a introdução dos transgénicos, conclui um estudo de investigadores da Escola de Medicina de San Diego, da Universidade da Califórnia. UCSD.

Reflexão - «Incêndios misteriosos»

Imagens colhidas aqui e aqui.

«Esta foto aérea mostra duas frentes de incêndio rigorosamente paralelas, entre Aveiro e Figueira da Foz. A extensão era de duas ou três dezenas de quilómetros. Esta estranha ocorrência, só por si, dá azo a muitas perguntas. Acontece que o cenário repetia-se mais abaixo, entre a Figueira da Foz e a Nazaré. Na zona onde se situa (ou situava) o Pinhal de Leiria. (JAG)
(...) Pergunto eu: um incêndio como o da foto resulta de uma queimada? De um acto intencional de um incendiário isolado?
Lembro que se trata de frentes de fogo rectilíneas com dezenas de quilómetros. Não é preciso ser especialista para ter uma ideia do que aconteceu. (...)
Em todas as medidas de prevenção de incêndios florestais preconizadas, não vejo nenhuma que admita uma acção deliberada de terrorismo incendiário. E no entanto ele move-se.»

João Alferes Gonçalves, in Clube de Jornalistas.

Bico calado

  • «O ministro da Administração Interna do governo do PAF era Calvão e Silva, em Albufeira ocorreu uma enxurrada devido à incompetência e falta de prevenção por parte de autarcas do PSD. Muitas lojas ficaram destruídas e um cidadão morreu. E o ministro mandou as vítimas ir às seguradoras. E quem não tivesse seguradoras, que aprendesse a lição.



  • «(...) Com Portas, a direita portuguesa mandou a ideologia democrata-cristã às malvas e adotou na política o comportamento das tainhas, como se sabe peixes de águas salobras, lodosas que se alimentam dos dejetos sem origem recomendável ou reconhecível nas saídos dos esgotos. O comportamento do CDS e da sua líder Assunção Cristas no caso dos incêndios, atribuindo ao Estado o exclusivo da responsabilidade pelas mortes que ocorreram é a demonstração de que um único princípio rege agora a ideologia da direita portuguesa: o da oportunidade! O CDS, como as tainhas, atira-se a tudo o que surja a flutuar na corrente. Um incêndio ou uma inundação servem para culpar o Estado por ausência e responsabilizá-lo perante a coletividade. O aborto ou o casamento homossexual servem para acusar o Estado de ingerência na vida dos indivíduos! (...) A ideologia da direita clássica assenta nos deveres e responsabilidades do indivíduo, considera que lhe devem ser imputadas a ele mesmo as consequências das suas supostas más escolhas. Excepto este CDS, para quem o Estado é sempre o culpado e o responsável por todas as más escolhas, mesmo as dos indivíduos em decisões do seu interesse, ou resultantes da sua incúria (queimadas, p.ex) ou ação deliberada, mesmo que de outros órgãos de eleição e responsabilização local, como as autarquias! A direita portuguesa é actualmente, pela voz da sua líder, a favor da intervenção do Estado na regulação da floresta, mas Conceição Cristas foi até há dois anos, enquanto ministra, promotora de legislação a favor da iniciativa privada e da liberalização do plantio das espécies mais rentáveis em termos económicos e mais perigosas em termos ambientais e de incêndios, o eucalipto. Entende agora que o Estado é responsável pelas mortes que resultam da sua política liberal! É uma direita capaz de morder a própria cauda! (...) Para Assunção Cristas os princípios ideológicos podem ser tocados num acordeão, esticam e encolhem à vontade do tocador e a pedido do público presente na romariaCarlos Matos Gomes, in As mortes dos incêndios e a morte dos princípios - Medium.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Ambientalista ameaçado por denunciar poluição da Ribeira da Boa Água


«Penso que muitos dos que me seguem ainda se lembram que fui abalroado por uma viatura conduzida pelo dono da FABRIOLEO de Torres Novas em 25 Julho 2016, porque tinha filmado a grave poluição que corria na Ribeira da Boa Água. Pois bem, esses senhores através dos seus Drs Advogados tentam intimidar-me com processos na qual vou prestar declarações como arguido tentam intimidar-me com um monte de acusações. Eu é que bati eu é que menti eu é que lanço na Ribeira os venenos malcheirosos etc etc. Pois fiquem a saber que a mim não me metem medo pois a razão está do meu lado eu não minto. Se estou lixado estou, pois na minha vida profissional deparo-me todos os dias com homens que ficam presos por meia dúzia de euros e estes assassinos do Ambiente e da População continuam em Tribunal a ser absolvidos de crimes muito graves contra o Ambiente e contra as populações. Se eu aparecer morto, espancado etc etc responsabilizo diretamente o Sr António Gameiro e o Sr Pedro Gameiro donos da Fabrioleo pois o dinheiro faz quase tudo.» 
Arlindo Consolado Marques, FB.

Parlamento contra a transparência na informação sobre presença de transgénicos nos alimentos


Imagem colhida aqui.

O PS, o PSD e o CDS rejeitaram o Projeto de Lei do PAN que pretendia tornar mais transparentes as regras de rotulagem e de fiscalização relativas à presença de transgénicos em todos os alimentos e nas ementas de cantinas e restaurantes. Votos contra - PSD, PS, e CDS; votos a favor - PAN, BE e CDU; abstenção - 2 deputadas do PS: Carla Sousa e Jamila Madeira. Esta rejeição e a nomeação de Tiago Martins Oliveira, ex Soporcel/Portucel/Navigator, para presidente da Estrutura de Missão para a instalação Integrada de Fogos Rurais poderão ser um sintoma da subjugação do governo de António Costa aos poderosos lóbis da celulose e dos químicos, quiçá prenúncio do seu eventual colapso. A ver vamos.

Reflexão

Imagem colhida aqui.

«Miss Eucalipta, a tal que cortou em 20 milhões o orçamento para defesa de florestas. A tal que liberalizou a plantação de eucaliptos e dificultou a plantação de árvores autoctenes como o sobreiro. Nota: ela é dona duma das maiores explorações de sobreiro do país.....A tal cujo governo fez uma lei que proibe a PJ de investigar os culpados em caso de mão criminosa nos incêndios. A tal que antes de ir para o governo do Passos Coelho, trabalhava na empresa de advogados que defende a Monsanto. A tal que humilhou Portugal ao votar contra o fim dos neonicotinoides junto com mais 4 países pequenos da União Europeia. A tal que agora, culpa todos pelos incêndios e o abandono da flroesta. Podia continuar mas as pessoas ainda ficam a pensar que me refiro a um personagem de ficção e não a uma ex-ministra.» 

Atimati Aroso, FB.

Bico calado

Imagem colhida aqui.
  • «O engenheiro florestal Tiago Martins Oliveira, quadro da empresa The Navigator Company, foi nomeado pelo primeiro-ministro António Costa para o cargo de presidente da Estrutura de « Integrada de Fogos Rurais, criada na sequência do Conselho de Ministros extraordinário de 21 de outubro.  Ao longo dos últimos 20 anos, Oliveira desempenhou vários cargos diretivos no Grupo Portucel Soporcel que entretanto foi rebatizado como The Navigator Company.  Pelo meio – e sem qualquer período de nojo – exerceu as funções de adjunto do secretário de Estado das Florestas (João Manuel Soares) do Governo liderado por Durão Barroso (entre 2003 e 2004) e adjunto do ministro da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas (Jaime Silva) do Governo liderado por José Sócrates (entre 2005 e 2006). No interregno das funções no perímetro governamental, Oliveira foi coordenador executivo da proposta técnica do Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios (PNDFCI) para o Instituto Superior de Agronomia, encomendado em 2004 pelo Governo de Pedro Santana Lopes. A Navigator é uma das principais empresas portuguesas da fileira do eucalipto (a par da Altri, cujo presidente executivo detém o grupo de comunicação social Cofina)JE. Mais uma raposa no galinheiro. Portucel-Soporcel (rebaptizada Navigator Company) e Altri acabam de reforçar o controlo do eucaliptal em que Portugal se quer tornar. Nunca João Camargo foi tão lúcido como neste texto publicado na Sábado de 23 de outubro, de onde reproduzimos, a seguir, excertos.
  • «(...) As grandes responsabilidades de Cristas em matéria florestal tornam este pedido de queda do governo numa espécie de paródia de regime, que tem como paralelo a demissão solteira de Constança Urbano de Sousa. A responsável pelo combate aos incêndios, com responsabilidades efectivas na tragédia, demitiu-se sem ter havido qualquer alusão ao responsável pela Agricultura e Florestas, Capoulas Santos. Isto mostra-nos que pouco ou nada mudará na floresta. As celuloses continuam a ter um poder absoluto sobre o centrão político, e mesmo a morte de mais de uma centena de pessoas não lhes tirou o poder de mando e desmando na área. Ainda sobre as cinzas fumegantes dos incêndios de 15 de Outubro, Cristas tenta capitalizar sobre o descontentamento popular na esperança que as suas grandes responsabilidades no tema já tenham sido esquecidas. A falta de noção da moção não pode no entanto esconder as responsabilidades partilhadas entre sucessivos governos. (...) Até ao final do mandato do governo anterior, foram autorizadas arborizações de eucaliptos num total de 4620 hectares. Com as eleições de 2015 e o novo arranjo parlamentar, o governo do PS apoiado no Parlamento pelo BE, PCP e PEV cedo assumiu uma retórica contra a monocultura do eucalipto e contra a lei de Assunção Cristas. Inclusivamente fez parte do acordo parlamentar com o Partido Ecologista os Verdes a revogação do DL 96/2013. Apesar do acordo de governo, saíram recentemente os números de autorizações para arborização com eucaliptos e Capoulas Santos consegue bater Assunção Cristas (...) sob o seu ministério, já foram aprovados 6050 hectares de arborizações com eucaliptos. Após os incêndios de Pedrógão, em Junho, ocorreu uma "reforma florestal". Uma vez mais a lei dos eucaliptos não foi revogada mas introduziu-se um processo de permutas cujo objetivo declarado seria o "congelamento da área de eucaliptal", mas que na verdade permitirá transferir as áreas de eucalipto para o noroeste do país (que entretanto ardeu de forma massiva há poucos dias), área com maior disponibilidade de água e melhores condições climáticas futuras, enquanto o interior sofre a desertificação. O recente Conselho de Ministros introduziu algumas medidas interessantes do ponto de vista do combate (embora claramente insuficientes), mas alucinantes do ponto de vista da floresta, nomeadamente o apoio e investimento em biorrefinarias e centrais a biomassa, ignorando haver já hoje o dobro da capacidade instalada em termos industriais, em relação à biomassa florestal residual disponível (o que deixa a dúvida acerca de onde virá a matéria-prima e aponta claramente para a intensificação do modelo florestal extractivo que deu origem ao ponto onde estamos hoje, a perder floresta a um ritmo de 10 mil hectares por ano). (...) O eucalipto representa o oportunismo económico tão apreciado pelas elites económicas que viram na urbanização, no minifúndio e na litoralização do país a oportunidade para explorar e dinamizar o abandono com uma árvore de deserto e uma economia puramente extractivista. Mesmo hoje, com as consequências tão evidentes da escolha do eucalipto como árvore do regime nas últimas décadas, as celuloses e o seu exército de defensores consegue manter o tema tão protegido que ninguém se lembra sequer de pedir a cabeça de Capoulas Santos quando ardem 500 mil hectares de florestas. Porque seria preciso pedir a sua e a de todas e todos os ministros da Agricultura e Florestas, condicionados ou directamente comandados pela Portucel-Soporcel (rebaptizada Navigator Company) e pela Altri, que escolheram como futuro o presente que temos hoje para a floresta e populações rurais em Portugal - abandono, incêndios catastróficos, desertificação. É mais fácil pedir um despedimento que, embora merecido, não mexe com o essencial de nenhuma estrutura económica, e Constança demite-se pelo regime. Marcelo aplaude as medidas e as reformas. O PSD também. A paz na floresta foi comprada. Com as decisões tomadas em 2017 não existe qualquer modificação estrutural em relação ao passado. Por isso, quando estiverem novamente condições climáticas extremas (que ocorrerão cada vez mais e tornar-se-ão "normais"), manteremos estruturalmente a probabilidade elevada para novas tragédias.» João Camargo in Sábado 23out2017.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Resíduos de hidrocarbonetos contaminam areal da Reserva Natural das dunas de S. Jacinto

Reserva Natural Das Dunas de S. Jacinto. Foto de Carlos Leal, 22out2017

«Que autoridades ambientais temos nós que nada fazem para evitar situações destas?
Isto é vulgar! Os comandantes dos navios, que passam ao largo, sabem que podem lavar os tanques na nossa costa porque praticamente não há fiscalização.» FB.

Gestão de resíduos: operadoras em conflito

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  • A gestão de resíduos ameaça chegar aos tribunais caso o Ministério do Ambiente não consiga apaziguar a guerra aberta entre a Sociedade Ponto Verde, que nas últimas duas décadas deteve o monopólio do setor, e a sua nova concorrente Novo Verde, a operar desde 1 de abril de 2017 e detida em 30% pelo Pingo Doce. À equação acaba de se juntar a Amb3E, que começará operar a partir de janeiro de 2018. Um dos pomos da discórdia é o uso do símbolo Ponto Verde, que assinala as embalagens que podem ser reutilizadas. Outro problema é a exigência de auditorias aos stocks de resíduos de embalagens detidos pelos sistemas de gestão de resíduos urbanos a 31 de dezembro de 2016; a fixação de uma data para o termo do ciclo das embalagens, até ao fim de março de 2017; a constituição de uma rede própria de recolha; e um mecanismo de compensação entre os dois SIGRE. «Não vamos pagar nada que não seja a nossa obrigação legal», avisa José Eduardo Martins. A Novo Verde contesta que lhe sejam imputados encargos indevidos com o tratamento de resíduos do ano passado, dos quais não recebeu o devido ecovalor. A SPV discorda e defende que «o único método justo de contabilizar custos deverá ser a partir do dia e do ano de entrada em vigor das licenças atribuídas às entidades gestoras, 1 de janeiro de 2017». DV.
  • O Bloco de Esquerda de Ovar, alertado por populares, denunciou uma queimada de dimensões consideráveis, com cheiro intenso, realizada no dia 18 de outubro, cerca das 20h30, nas instalações da empresa Safina, na Rua da Gândara, Zona Industrial da freguesia de Cortegaça, concelho de Ovar. Pedro Coelho, administrador da Safina, confirma «a queimada realizada pelo meu pai, envolvendo paletes e outros resíduos e materiais velhos, num espaço amplo». Embora admita que possa haver lugar a críticas, Pedro Coelho explica que «quando a GNR chegou, a acção terminou e nunca chegou a constituir perigo». ON.
  • Os veículos mais antigos e mais poluentes vão pagar umasobretaxa diária de 10 libras para circularem no centrode Londres, para além da taxa de congestionamento de 11.50 libras aplicada desde 2003. The Guardian.
  • As emissões de gases de efeito de estufa dos navios aumentaram 2,4% entre 2013 e 2015, revela um relatório recente do International Council on Clean Transportation (ICCT). O maior número de emissões verificou-se nos porta-contentores (23%), seguido dos graneleiros (19%) e dos petroleiros (13%) – três classes de navios que representam 84% do transporte marítimo global. Dos 223 Estados de bandeira (países de registo dos navios), os países cuja bandeira está mais associada à poluição são o Panamá (15%), a China (11%), a Libéria (9%), as Ilhas Marshall (7%), Singapura (6%) e Malta (5%). Estas bandeiras têm um grande número de navios registados e, também por isso, representam maior poluição – 66% da frota global de tonelagem em porte bruto – pelo que a redução das emissões de gases requererá maior esforço da parte destes países, por forma a reduzir os impactos, principalmente em Estados mais vulneráveis. JE do Mar.

Bico calado

Foto: Glenn Campbell/AAP
  • Quem dá mais ou o Péron de Celorico, por O Jumento.
  • A nova primeira-ministra da Nova Zelândia considerou o capitalismo um «fracasso colossal»  antes de referir os números de sem-abrigo e salários baixos como evidência de que «o mercado falhou» para os pobres do seu país. The Independent.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Algarve: seca não melindra relvados

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A seca chegou ao Algarve mas há gente que ignora as evidências e continua a fazer jardins à inglesa com amplos relvados, como se o que mais houvesse nestas paragens fosse água. 
«Se a seca continuar, vamos ter de ir salvar peixes», diz Ana Cristina Cardoso, do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas. A operação não é inédita. Quando se deu a grande seca de 2004/2005, recorda, algumas das espécies endémicas ameaçadas, tais como a boga-do-guadiana e o barbo-de-cabeça-pequena, foram salvas pela equipa do Parque Natural do Vale do Guadiana. A empresa Águas do Algarve, responsável pelo abastecimento de água na região, desdramatiza: «Mesmo que não chova no próximo ano, está assegurado o abastecimento doméstico», garante a porta-voz da empresa, Teresa Fernandes, salvaguardando que não poderá dar a mesma garantia em relação à água para a agricultura. Público.

Memórias curtas: «Há 28 anos um povo lutou contra os eucaliptos»

«E a terra nunca mais ardeu. 
(...) A 31 de março de 1989 o povo de Valpaços invadiu uma quinta no vale do Lila para arrancar os 200 hectares de eucalipto que a Soporcel tinha plantado na região. (...)
A ação fora concertada entre sete ou oito povoações de um escondidíssimo vale transmontano, e depois juntaram-se ecologistas do Porto e de Bragança à causa. (...)
À sua espera tinham a GNR, duas centenas de agentes. Formavam uma primeira barreira com o objetivo de impedir o povo de arrancar os pés das árvores, mas eram poucos para uma revolta tão grande. (...)
Mas também lá estava a imprensa, e ainda hoje o homem acredita que foi por isso que a violência não escalou mais. Algumas cargas, pedrada de um lado, cacetadas do outro, mas nada que conseguisse calar um coro de homens e mulheres, canalha e velharia: «Oliveiras sim, eucaliptos não».

A guerra tinha começado a ser preparada um par de meses antes, quando António Morais, proprietário de vários hectares de olival no Lila, percebeu que uma empresa subsidiária da Soporcel se preparava para substituir 200 hectares de oliveiras por eucaliptal para a indústria do papel. «Tinham recebido fundos perdidos do Estado para reflorestar o vale sem sequer consultarem a população», revolta-se ainda, 28 anos depois.
«Nessa altura o ministério da agricultura defendia com unhas e dentes a plantação de eucalipto.» Álvaro Barreto, titular da pasta, fora anos antes presidente do conselho de administração da Soporcel e tornaria ao cargo em 1990, pouco depois das gentes de Valpaços lhe fazerem frente.
«A tese dominante dos governos de Cavaco Silva era que urgia substituir o minifúndio e a agricultura de subsistência por monoculturas mais rentáveis, era preciso rentabilizar a floresta em grande escala», diz António Morais. O eucalipto adivinhava-se uma solução fácil.
Crescia rápido e tinha boas margens de lucro. Portugal, aliás, ganharia em poucos anos um papel de destaque na indústria de celulose e os pequenos proprietários poderiam resolver muitos problemas de insolvência abastecendo as grandes empresas com uma floresta renovada. A teoria acabaria por vingar em todo o país, sobretudo no interior centro e norte. Mas não em Valpaços.
«Comecei a ler coisas e percebi que o eucalipto nos traria grandes problemas», continua António Morais. «Por um lado, numa região onde a água é tudo menos abundante, teríamos grandes problemas de viabilidade das outras culturas. Nomeadamente o olival, que sempre foi a riqueza deste povo. E depois havia os incêndios, que eram o diabo. São árvores altamente combustíveis e que atingem uma altura muito grande.»
Na terra quente transmontana o ano são oito meses de inverno e quatro de inferno. O fogo, tinha ele a certeza, chegaria com aquele arvoredo.
Uns meses antes da guerra, começou a conversar sobre o seu medo com algumas das mais relevantes personalidades do vale. Grandes proprietários, políticos da terra, as famílias mais reconhecidas. «Lentamente começou a formar-se um consenso de que o lucro fácil do eucalipto seria a médio prazo a nossa desgraça. Não queríamos deixar secar a nossa terra. E não queríamos arder aqui todos. Tínhamos de destruir aquele eucaliptal, custasse o que custasse.»
O núcleo duro estava formado, era constituído por dezena e meia de agricultores capazes de mobilizar o resto do povo. «Aos domingos, íamos às aldeias e no fim da missa explicávamos às pessoas o que podia acontecer à nossa terra», lembra Natália Esteves, descendente de uma família de grandes produtores de azeite feita de repente líder de protesto ecológico. «E também íamos de casa em casa, esclarecer quem não tinha estado nas assembleias.»
Ao início houve renitência, a madeira valeria sempre mais do que a azeitona, e a castanha ainda não rendia o que rende hoje. «Mas tentámos sempre centrar a conversa no que aconteceria daí a uns anos, dizer que os eucaliptos secariam os solos e o povo ficaria refém de uma única cultura, que se alguma coisa corresse mal não teriam mais nada.»
O que mais assustava aquela gente, no entanto, era o fogo. «Onde há eucalipto, tudo arde. E então o povo já não chamava a árvore pelo nome, mas por fósforos.» A primeira batalha estava ganha: tinham o apoio da população.
João Sousa era nessa altura presidente da junta da Veiga do Lila. «Oficialmente não podia dizer que era contra os eucaliptos, nem ir contra a polícia. Mas, quando falava com as pessoas, dizia-lhes o que haviam de fazer», conta agora com uma gargalhada e sem ponta de medo.
«Então se tínhamos o melhor azeite do país íamos dar cabo dele para enriquecer uns ricalhaços de fora?» Tem 86 anos e uma destreza de 30, hoje estuga o passo para mostrar a zona que podia ter sido caixa de fósforos. «Vê, nem um eucalipto plantado. E o nosso vale há mais de 30 anos que não arde. Se o povo não se tem unido hoje estávamos a viver a mesma desgraça que vimos por esse país fora.»
Essa é aliás a conversa mais recorrente por estes dias no vale do Lila. A tragédia florestal portuguesa dá a este povo a impressão que eles sim, tinham razão há muitos anos, quando o governo e as autoridades lhes diziam o contrário.
«Podem achar que somos gente do campo, sem educação nem conhecimento, mas nós cá soubemos defender a nossa terra», diz o velhote. «Temos chorado muito por esta gente que perdeu vidas e animais e casas. E há uma coisa que o meu povo sabe: se temos deixado ficar os eucaliptos, também hoje choraríamos pelos nossos.» (...)
Esse ataque tinha feito notícia no Jornal de Notícias e trazido uma mão-cheia de jornalistas à terra, nomeadamente Miguel Sousa Tavares, da RTP. «Percebi que as coisas estavam a tornar-se muito grandes e foi então que contactei a Quercus. Precisávamos de ajuda.»
Do outro lado da linha atendeu Serafim Riem, que dirigia o núcleo do Porto da organização ambientalista. O ecologista partiu imediatamente para o terreno. Nesses dias ouviriam do parlamento em Lisboa várias palavras de solidariedade. Sobretudo do PCP, d’Os Verdes e de um jovem deputado socialista chamado José Sócrates.
Agora não valia a pena esconder mais nada. A 31 de março de 1989, domingo depois da Páscoa, o povo juntar-se-ia todo na Veiga do Lila para dar cabo do eucaliptal que restasse. A aldeia enchera-se de jornalistas, havia até um helicóptero a cobrir os acontecimentos do ar.
A direção nacional da Quercus demarcar-se-ia da organização dos protestos através de um comunicado, mas os núcleos do Porto e Bragança encheriam cada um o seu autocarro de ambientalistas carregados de cartazes. Às duas da tarde o sino começou a tocar a rebate. Oito centenas de vozes entoavam «oliveiras sim, eucaliptos não» e largaram por um caminho de terra batida para a quinta do Ermeiro.
Não era preciso usar enchadas nem sacholas, os eucaliptos tinham sido plantados há pouco tempo e arrancavam-se com as mãos. A polícia tentava fazer uma linha de defesa, mas duas centenas de agentes não chegavam para aquela gente toda.
Numa hora, foram arrancados 180 hectares de pequenas árvores. «Alguns gozavam com os agentes na cara e levaram umas bastonadas das boas», recorda Natália Esteves. Os que eram de perto diziam-lhes assim: «Tendes razão, por isso vamos fingir que não vemos.» Viravam as costas e o povo ia subindo o terreno.
Num instante, o casario da quinta tornava-se no último reduto da investida. Uma dezena de guardas saíram a cavalo, era demonstração de força mas não surtiu resultado. A Soporcel tinha construído socalcos para plantar os eucaliptos e, agora, os animais não conseguiam descê-los.
«O povo ia atirando pedras aos guardas, houve um que acertou no cavalo e mandou-o abaixo», diz João Morais. Foi nesse momento que entrou em campo o corpo de intervenção, disposto a levar toda a gente pela frente. «Aí as coisas podiam ter descambado definitivamente.» (...)
António Morais, Natália Esteves, João Sousa e mais uma dezena de organizadores do protesto também seriam chamados à barra da justiça, um ano depois enfrentaram acusação de invasão de propriedade privada e foram condenados com pena suspensa.
«Ainda vieram uns engenheiros da Soporcel dizer que retirariam a queixa se nos comprometêssemos a não destruir uma nova plantação de eucalipto. Disse-lhes que nem pensar, aqui nunca teríamos árvores dessas no nosso vale.»
Nas noites seguintes arrancou-se à socapa quase tudo o que faltava, ficaram apenas meia dúzia de hectares a rodear o casario da quinta, mais passível de vigia. A Soporcel acabaria por desistir e vender a propriedade e a família que a comprou, quando ousou confessar a Natália Esteves que pensavam plantar eucaliptos, foram logo avisados: «Se os botais nós os arrancamos.»
Hoje, o Ermeiro é terra de nogueiras e amendoeiras, oliveiras e pinho. Nunca ardeu. Serafim Riem, o ambientalista da Quercus, diz que até hoje a guerra do povo de Valpaços é um marco, a maior ligação jamais vista no país entre o mundo rural e o ativismo ecológico.
«A única maneira de travar os incêndios em Portugal é reduzir drasticamente o eucaliptal e substituí-lo pela floresta autóctone, que não só tem melhor imunidade ao fogo como gera uma riqueza mais diversificada para as populações. (...)»

Reflexão – Desmontando confusões sobre o armazenamento de carbono

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Há gente a tentar fazer passar a ideia de que os impactos da plantação de árvores são os mesmos que parar de queimar combustíveis fósseis. 
É uma fraude científica afirmar que o carbono capturado pelas florestas e pelo solo é climaticamente o mesmo que o carbono armazenado no subsolo sob a forma de combustíveis fósseis. 

Plantar árvores não é a mesma coisa que deixar os combustíveis fósseis no subsolo. O carbono armazenado nos combustíveis fósseis do subsolo é estável, não entra na atmosfera enquanto as multinacionais não o extrairem e o queimarem. Os combustíveis fósseis armazenaram carbono no subsolo durante milhões de anos em segurança. O carbono armazenado em ecossistemas não é estável. As florestas podem incendiar-se, podem ser dizimadas por pragas, podem ser abatidas, arrasadas para dar lugar a albufeiras, removidas para dar lugar a minas, pradarias, plantações de soja, de óleo de palma. Por isso, o carbono só pode ser armazenado em ecossitemas de modo temporário. REDD.

Bico calado

Imagem: AFP Contributor#AFP/Getty Images
  • «Nos conturbados anos do PREC (Processo Revolucionário Em Curso) em finais de 1974 e até finais de 1975, foi a única época política em que se formaram alguns governos provisórios integrando o PCP. Com o PM General Vasco Gonçalves (comunista) e Álvaro Cunhal como ministro sem pasta, a esquerda, com PS incluído, estava a governar contra todos os interesses da direita e extrema-direita que tinham levado um grande murro no estômago com o 25 de Abril e que continuavam a estrebuchar com as medidas revolucionárias em curso. Depois de recomposta desse atordoamento inicial, essa direita saudosa, apoiada pelo CDS e pela Igreja Católica iniciou a sua luta contra esses governos de esquerda. Como? Para enquadrar e dar a conhecer a quem não sabe, passo a relatar com um extrato do Correio da Manhã de 12-06-2005, que historiou a época: “O Norte a ferro e fogo. O arcebispo de Braga, D. Francisco Maria da Silva, foi arrastado para apoiar o terrorismo de extrema-direita. O povo do Norte do País foi surpreendido, a partir do início de Junho de 1975, por vários panfletos do ELP (Exército de Libertação Português) – um grupo de extrema-direita disposto a travar a tiro, à bomba e pelo fogo os que chamava de “assassinos comunistas”. A propaganda distribuída clandestinamente pelo ELP era um claro apelo ao terrorismo: “Cada Português deve ser um Combatente”. Sedes do PCP, do MDP/CDE e da UDP foram atacadas à bomba, assaltadas ou reduzidas a cinzas por fogo posto. Ao lado do ELP nestas acções directas o Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP) – dois movimentos ligados à extrema-direita civil e militar que actuavam clandestinamente a partir de Espanha.”Nestes tempos a ICAR era um dos acicatadores à violência, sendo o Cónego Melo (com direito a estátua em Braga) um dos seus principais chefes operacionais. Desde incêndios, ataques terroristas com bombas em sedes de partidos e assassinatos (padre Max), tudo foi feito com a ajuda da CIA comandada pelo embaixador dos EUA, Frank Carlucci. Temos, portanto aqui alguns pontos comuns com o presente que não quero deixar de relevar: 1º- A situação política tinha semelhanças: a esquerda total apoia o governo. Em 1975 e em 2017. 2º – A direita e extrema-direita estão desesperadas e veem o poder cada vez mais distante. Há que fazer qualquer coisa para alterar essa situação. 3º – Em 1975 e 2017 criam-se factos e, com uma onda terrorista, desestabiliza-se a situação e fragiliza-se o poder, o que foi conseguido nas duas épocas. (...) Portanto a dúvida que me parece ser de colocar é esta: Como seria possível existirem quinhentos incêndios/ignições num só dia, sem uma concertação e planeamento para que tal acontecesse, de modo a serem obtidos os resultados que estão à vista. (...)» Armando Leal Rosa, in O Ribatejo.
  • «(...) Marcelo mede o sucesso do seu mandato em beijinhos, frases de velório, mensagens de dó a velhinhas, ao mesmo tempo que de forma subliminar vai promovendo a destruição da imagem e credibilidade dos políticos e das instituições, ele trata-se de se promover a si próprio aproveitando-se dos sentimentos primários das populações em situações de crise e de tragédia. Como não tem responsabilidades executivas e nunca poderá ser criticado pelas consequências do seu desempenho, ignora que o subdesenvolvimento exige muito mais do que as suas mezinhas populistas e que as prioridades não devem ser definidas em função da sua agenda populista. Em vez de um país pensado a médio e longo prazo Marcelo quer um país governado segundo metas conjunturais e em função da sua popularidade. Em vez de um governo que aplica um programa aprovado no parlamento pelo qual irá responder, Marcelo deseja um governo que seja um anexo à sua Casa Civil. (...)» O Jumento.
  • »(...) Quando o Daniel Oliveira lhe perguntou se tinha lido o dito despacho para assim falar, engasgadamente reconheceu que não. Contudo, a esperteza ainda lhe chegou para dizer que não mas que tinha lido a narrativa que colegas do Expresso tinham feito sobre o assunto e que isso lhe chegava. Clara Ferreira Alves é isto. Come comida mastigada por outros e parece que isso lhe chega. Ou seja, com aquele seu ar emproado, não passa de uma catatua que papagueia o que outros dizem. Em primeira mão não sabe nada nem tem um pensamento consciente e bem informado sobre coisa alguma. Histriónica, descontroladamente excitada, ela é como muitos outros a quem a televisão dá palco: acham que é portando-se como caniches acéfalos que ladram constantemente e que se mostram prontos a morder as canelas de quem esteja debaixo de fogo por parte dos PàFs que garantirão o bem remunerado emprego de comentadeiros. (...) Ao fim do dia, vínhamos no carro e ouvimos uma notícia na Antena 1. Dizia o jornalista que Marcelo tinha avisado o Governo: que os milhões que vão ser gastos nos apoios não deviam fazer esquecer a necessidade de manter o défice baixo. Ouvimos e ficámos perplexos. O meu marido exclamou: 'Este gajo... primeiro quer medidas e agora avisa para a aplicação das medidas não dar cabo do défice?'. Mas, logo a seguir, passaram as palavras do próprio Marcelo. Afinal não era nada do que o jornalista tinha dito. Marcelo concordava com as medidas de que já tinha conhecimento e referia apenas que a fórmula de cálculo do défice não deveria contar com estas verbas excepcionais e as palavras dele eram dirigidas sobretudo a Bruxelas e a quem monitoriza as contas públicas. Ou seja, o jornalista não tinha percebido nada. Mas, mais grave, logo a seguir passam a palavra a Raul Vaz. O que achava ele das palavras de Marcelo? Pois bem. Mostrando não ter ouvido as palavras de Marcelo mas apenas o disparate do jornalista, Raul Vaz, com voz assertiva, encheu a conversa de censura ao Governo, dos apelos de Marcelo para que não esquecesse o controlo do défice, para que não use o dinheiro que agora parece que salta das pedras para dar cabo do défice. Nem queríamos acreditar naquilo. Não se tinha dado ao trabalho de ouvir as palavras de Marcelo e ali estava a desfiar disparates, papagueando o que outro tinha dito. A desinformação espalhada pelos comentadores é uma mancha que alastra pelas rádios, pelas televisões e jornais. (...)» Um jeito manso.

domingo, 22 de outubro de 2017

Canadá: Nestlé acusada de ultrapassar o prazo de extração de água

«Isto dá para meia dúzia de garrafas de água» Cartoon captado aqui.

A Nestlé continua a extrair milhões de litros de água de duas cidades canadianas mesmo depois de ultrapassado o prazo do contrato. A empresa argumenta que compensa as comunidades onde trabalha através da doação de dezenas de milhares de dólares e que a situação foi provocada pela alteração das regras de gestão de água introduzidas recentemente pelas autoridades do Ontário. Os ambientalistas sublinham os impactos negativos das garrafas de plástico na região. Canadá: Vice.

Reflexão - «Incêndios: um apelo à inquietação cívica»

Foto: Zé Manel/National Geographic.

«(...) Mas é preciso lembrar mais uma vez que o estado a que se chegou não foi precipitado de um dia para o outro: são décadas de políticas de desinvestimento na floresta e no Estado, que assumiram o auge (?) no tempo do governo desses dois partidos articulados com a Troika. Sinteticamente lembre-se a transferência das competências de combate dos incêndios florestais para as corporações de bombeiros e o Serviço Nacional de Bombeiros, que deixou as próprias Matas Nacionais privadas dos meios que detinham para defesa dos recursos que o Estado administrava (1980/81, PPD/CDS); o desmantelamento do Instituto Florestal e retirada do corpo de mestres e guardas florestais da gestão das matas (1996, PS); o desligamento das tarefas de gestão florestal desse corpo, afecto à gestão e vigilância directa das matas nacionais e perímetros florestais, passando a integrar o Corpo Nacional de Guarda Florestal com funções quase exclusivas de fiscalização das leis em todo o território ; novamente a verticalização dos Serviços Florestais do Estado em 2003/4 (PSD), já sem conseguir recuperar dos estragos provocados pela "reforma" anterior (por exemplo, não existe reforço e rejuvenescimento do corpo técnico de gestão florestal desde 1994/95); transferida para a GNR a gestão da Rede Nacional de Postos de Vigia, mesmo dos que se situam no interior das Matas Nacionais e perímetros florestais e nela integrado o Corpo Nacional da Guarda Florestal (2006, PS); o impedimento pelo Ministro das Finanças Bagão Félix (2004, PSD/CDS) da adopção dos incentivos fiscais indispensáveis à transformação da floresta que hoje ele próprio reclama; o fortalecimento da prevalência do Combate em detrimento da Prevenção, pelas mãos do Ministro da Administração Interna Miguel Macedo (2011, PSD/CDS).
É confrangedor e inadmissível que muitos dos que ontem tiveram posições activas e decisivas impedindo modificações essenciais (como aconteceu também por responsabilidade de dirigentes da ANMP, que ameaçaram o Ministro da Agricultura do seu próprio governo PSD (2004), venham hoje fazer coro contra as medidas que este governo não tomou!
(...) No plano estritamente florestal, lembremo-nos de que as coisas têm de ter a participação efectiva dos profissionais: é preciso utilizar o Conhecimento que eles detêm (ninguém quereria ser submetido a uma cirurgia feita por um motorista ou por um farmacêutico...).
Refazer a floresta ardida não é substituí-la por novas plantas das espécies que arderam nos mesmo locais: é dar a racionalidade que faltava à distribuição dos espaços e das espécies. A opção necessária pela utilização em maior escala de espécies autóctones implica apoios financeiros que façam face às necessidades das pessoas que íam procurar satisfazer com os eucaliptos - os quais são absolutamente necessários a um ramo das indústrias de base florestal mais evoluído e economicamente mais forte. É o momento de pôr ordem na sua utilização, até agora tão desregrada. Como não há muitos marqueses de Pombal... é precisa sensatez, conhecimento e participação.
(...) não escancaremos agora as portas aos estrangeiros que quererão socorrer-se da pretensa liberdade de mercado para nos impingirem os seus materiais florestais de reprodução (sementes e plantas). As sementes necessárias não se importam: têm de ser colhidas cá! O nosso pinhal bravo certificado para colheita de sementes é do melhor que há no mundo. As quantidades de sementes que vão ser necessárias e a diminuição drástica das áreas de recolha exigem a maior parcimónia e eficiência na utilização dos stocks.
As tarefas que a revitalização impõe são um fortíssimo incentivo ao emprego - bem necessário para substituir os empregos que foram destruídos. Mas emprego qualificado é preciso! A capacidade empresarial existe: precisa é de confiança!
Mas antes de tudo isso está o problema do uso das propriedades. Tornou-se evidente para toda a gente que quem não tenha condições para cumprir os planos ou directivas que venham a ser adoptadas, tem de resolver o seu problema (ou o problema que herdou) transferindo para outrém as suas obrigações: não precisa de vender (não faltariam abutres!), mas precisa de transferir, sem deixar de ser dono: arrendando, integrando-se numa ZIF, associando-se de qualquer modo - o que não pode mais acontecer é que toda a sociedade tenha de pagar os efeitos do abandono (justificado ou não).
Quando se reclama - bem e justamente - que isto não pode mais acontecer, é preciso ter a noção de que a responsabilidade das soluções não é só do Governo: é de todos, desde logo os proprietários das terras. E isto não se compadece com pressas... nem com delongas, nem com demagogias!
É indispensável que se tenha consciência de que as árvores não crescem como o milho: demoram anos (algumas, muitos anos) até poderem ser utilizadas nas fileiras industriais - é nelas que ganham valor. E até lá?
Esta hora de muita dor tem de ser a hora de construir a floresta de que o País precisa, capaz de contribuir seriamente para a melhoria das condições de vida das pessoas, para a melhoria do ambiente, para a economia, para o equilíbrio do território! Que a tragédia seja transformada em oportunidade ganhadora.» 

Victor Louro in Incêndios: um apelo à inquietação cívica - DN 19out2017.