segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Bico calado

Imagem: AFP Contributor#AFP/Getty Images
  • «Nos conturbados anos do PREC (Processo Revolucionário Em Curso) em finais de 1974 e até finais de 1975, foi a única época política em que se formaram alguns governos provisórios integrando o PCP. Com o PM General Vasco Gonçalves (comunista) e Álvaro Cunhal como ministro sem pasta, a esquerda, com PS incluído, estava a governar contra todos os interesses da direita e extrema-direita que tinham levado um grande murro no estômago com o 25 de Abril e que continuavam a estrebuchar com as medidas revolucionárias em curso. Depois de recomposta desse atordoamento inicial, essa direita saudosa, apoiada pelo CDS e pela Igreja Católica iniciou a sua luta contra esses governos de esquerda. Como? Para enquadrar e dar a conhecer a quem não sabe, passo a relatar com um extrato do Correio da Manhã de 12-06-2005, que historiou a época: “O Norte a ferro e fogo. O arcebispo de Braga, D. Francisco Maria da Silva, foi arrastado para apoiar o terrorismo de extrema-direita. O povo do Norte do País foi surpreendido, a partir do início de Junho de 1975, por vários panfletos do ELP (Exército de Libertação Português) – um grupo de extrema-direita disposto a travar a tiro, à bomba e pelo fogo os que chamava de “assassinos comunistas”. A propaganda distribuída clandestinamente pelo ELP era um claro apelo ao terrorismo: “Cada Português deve ser um Combatente”. Sedes do PCP, do MDP/CDE e da UDP foram atacadas à bomba, assaltadas ou reduzidas a cinzas por fogo posto. Ao lado do ELP nestas acções directas o Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP) – dois movimentos ligados à extrema-direita civil e militar que actuavam clandestinamente a partir de Espanha.”Nestes tempos a ICAR era um dos acicatadores à violência, sendo o Cónego Melo (com direito a estátua em Braga) um dos seus principais chefes operacionais. Desde incêndios, ataques terroristas com bombas em sedes de partidos e assassinatos (padre Max), tudo foi feito com a ajuda da CIA comandada pelo embaixador dos EUA, Frank Carlucci. Temos, portanto aqui alguns pontos comuns com o presente que não quero deixar de relevar: 1º- A situação política tinha semelhanças: a esquerda total apoia o governo. Em 1975 e em 2017. 2º – A direita e extrema-direita estão desesperadas e veem o poder cada vez mais distante. Há que fazer qualquer coisa para alterar essa situação. 3º – Em 1975 e 2017 criam-se factos e, com uma onda terrorista, desestabiliza-se a situação e fragiliza-se o poder, o que foi conseguido nas duas épocas. (...) Portanto a dúvida que me parece ser de colocar é esta: Como seria possível existirem quinhentos incêndios/ignições num só dia, sem uma concertação e planeamento para que tal acontecesse, de modo a serem obtidos os resultados que estão à vista. (...)» Armando Leal Rosa, in O Ribatejo.
  • «(...) Marcelo mede o sucesso do seu mandato em beijinhos, frases de velório, mensagens de dó a velhinhas, ao mesmo tempo que de forma subliminar vai promovendo a destruição da imagem e credibilidade dos políticos e das instituições, ele trata-se de se promover a si próprio aproveitando-se dos sentimentos primários das populações em situações de crise e de tragédia. Como não tem responsabilidades executivas e nunca poderá ser criticado pelas consequências do seu desempenho, ignora que o subdesenvolvimento exige muito mais do que as suas mezinhas populistas e que as prioridades não devem ser definidas em função da sua agenda populista. Em vez de um país pensado a médio e longo prazo Marcelo quer um país governado segundo metas conjunturais e em função da sua popularidade. Em vez de um governo que aplica um programa aprovado no parlamento pelo qual irá responder, Marcelo deseja um governo que seja um anexo à sua Casa Civil. (...)» O Jumento.
  • »(...) Quando o Daniel Oliveira lhe perguntou se tinha lido o dito despacho para assim falar, engasgadamente reconheceu que não. Contudo, a esperteza ainda lhe chegou para dizer que não mas que tinha lido a narrativa que colegas do Expresso tinham feito sobre o assunto e que isso lhe chegava. Clara Ferreira Alves é isto. Come comida mastigada por outros e parece que isso lhe chega. Ou seja, com aquele seu ar emproado, não passa de uma catatua que papagueia o que outros dizem. Em primeira mão não sabe nada nem tem um pensamento consciente e bem informado sobre coisa alguma. Histriónica, descontroladamente excitada, ela é como muitos outros a quem a televisão dá palco: acham que é portando-se como caniches acéfalos que ladram constantemente e que se mostram prontos a morder as canelas de quem esteja debaixo de fogo por parte dos PàFs que garantirão o bem remunerado emprego de comentadeiros. (...) Ao fim do dia, vínhamos no carro e ouvimos uma notícia na Antena 1. Dizia o jornalista que Marcelo tinha avisado o Governo: que os milhões que vão ser gastos nos apoios não deviam fazer esquecer a necessidade de manter o défice baixo. Ouvimos e ficámos perplexos. O meu marido exclamou: 'Este gajo... primeiro quer medidas e agora avisa para a aplicação das medidas não dar cabo do défice?'. Mas, logo a seguir, passaram as palavras do próprio Marcelo. Afinal não era nada do que o jornalista tinha dito. Marcelo concordava com as medidas de que já tinha conhecimento e referia apenas que a fórmula de cálculo do défice não deveria contar com estas verbas excepcionais e as palavras dele eram dirigidas sobretudo a Bruxelas e a quem monitoriza as contas públicas. Ou seja, o jornalista não tinha percebido nada. Mas, mais grave, logo a seguir passam a palavra a Raul Vaz. O que achava ele das palavras de Marcelo? Pois bem. Mostrando não ter ouvido as palavras de Marcelo mas apenas o disparate do jornalista, Raul Vaz, com voz assertiva, encheu a conversa de censura ao Governo, dos apelos de Marcelo para que não esquecesse o controlo do défice, para que não use o dinheiro que agora parece que salta das pedras para dar cabo do défice. Nem queríamos acreditar naquilo. Não se tinha dado ao trabalho de ouvir as palavras de Marcelo e ali estava a desfiar disparates, papagueando o que outro tinha dito. A desinformação espalhada pelos comentadores é uma mancha que alastra pelas rádios, pelas televisões e jornais. (...)» Um jeito manso.

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