sábado, 7 de setembro de 2024

QUARTEIRA: PROJETO DE REESTRUTURAÇÃO DOS MOLHES EM CONSULTA PÚBLICA

  • Consulta pública até 17 de outubro: Reestruturação dos molhes de Quarteira. Fonte.
  • Nos EUA, o colapso das populações de morcegos provocou uma quebra da produção agrícola que foi ser compensado por um aumento de 31% da aplicação de inseticidas. Em alguns distritos, esta situação provocou um aumento de 8% da mortalidade infantil. Fonte.
  • A Exxon criou um programa em Houston que prometia libertar a cidade de quase toda a poluição por plásticos. Mas, por enquanto, tudo o que se vê são centenas de milhares de quilos de plástico a acumularem-se num local de armazenamento exterior em Houston. Nada disso está a ser reciclado e ainda não foi inaugurada uma enorme fábrica de triagem. Uma farsa, dizem os críticos. Fonte.
  • O organismo das Nações Unidas responsável pelas alterações climáticas vai atribuir uma maior percentagem de cartões de participação na COP29 a organizações não-governamentais de países em desenvolvimento, numa tentativa de aumentar a diversidade de vozes na cimeira anual sobre o clima. Fonte.
  • Na escola secundária Vincent Van Gogh, em Meurthe-et-Moselle, a Eco Radio tem tido um percurso impressionante. Esta estação de rádio Web 100% sustentável é gerida há dez anos por alunos e um professor motivados. Fonte.
  • Um traficante de glifosato que operava em Espanha foi condenado a um ano de prisão suspensa e a uma multa de 30 000 euros. O traficante terá vendido a clientes franceses herbicidas proibidos no valor de cerca de um milhão de euros. Fonte.

REFLEXÃO: A ECOLOGIZAÇÃO TENTA CRIAR RAÍZES NAS ESCOLAS FRANCESAS

A educação para o desenvolvimento sustentável faz parte integrante da missão das escolas. Foram desenvolvidos programas e criadas medidas como os eco-delegados. Mas ainda há um longo caminho a percorrer.

Ao longo dos anos, os programas escolares foram alargados, desde o ensino pré-escolar até ao último ano do ensino secundário. Foram introduzidas medidas como os delegados ecológicos. No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer: os professores carecem de formação e de apoio e algumas iniciativas são dificultadas pela falta de margem de manobra em escolas ainda com poucos recursos. Em março de 2023, o Conselho Superior de Programas escreveu: "No final da sua escolaridade, os alunos devem ser capazes de compreender os desafios do desenvolvimento sustentável, de adotar um comportamento individual e coletivo responsável, de prever um futuro justo e realista, de participar nos debates sociais e até de se envolverem".

A nível do ensino secundário, alguns conceitos como resíduos, poupança de energia e recursos renováveis foram explicitamente incluídos nos programas de física e química em 2020. A subida do nível dos mares e dos oceanos e o aquecimento global também foram incluídos no programa de ciências e tecnologias.

Estamos a assistir a uma ecologização do currículo, com alguns aditamentos", admite Maud Valegeas, secretária federal adjunta de Sud Éducation. Mas ainda é muito superficial. O ensino baseia-se essencialmente na noção de desenvolvimento sustentável". Cita as ciências económicas e sociais, onde se aborda a globalização e o fluxo de bens e pessoas, elementos que contribuem para a crise ecológica. "Mas em vez de abrandarmos, estamos simplesmente a adaptar-nos a um mundo em crise", lamenta, citando como prova o extrato do programa de estudos do último ano de Ciências Económicas e Sociais que estabelece o objetivo de "compreender que o crescimento económico sustentável esbarra nos limites ecológicos e que a inovação pode ajudar a fazer recuar esses limites". Em vez de inovação, Maud Valegeas preferia que a tónica fosse colocada na sobriedade e na redução do consumo de energia.

Formação insuficiente dos professores

Para Frédérick Heissat, da Profs en transition, "Temos tudo o que precisamos para trabalhar, graças aos conteúdos e aos recursos disponibilizados, que nos permitem melhorar as nossas competências". Esta é também a opinião de Francesca Pasquini, ex-membro do grupo Ecologiste-Nupes, que em 2023, juntamente com Graziella Melchior, liderou uma missão de investigação sobre a adaptação das escolas aos desafios das alterações climáticas. “Os professores não estão privados. Têm uma enorme quantidade de material, por vezes quase demasiado. O problema é que não recebem formação suficiente sobre estas questões e as ferramentas disponíveis não são suficientemente utilizadas. Quando são bem tratadas em algumas escolas, é quase sempre por um único professor que tem conhecimento da questão e que se voluntaria para liderar projetos e falar sobre o assunto em diferentes turmas. Mas se o ensino assenta nos ombros de uma só pessoa, não vai durar muito tempo.”

Alguns professores, sem formação científica, podem não se sentir no direito de abordar questões complexas. São assuntos que exigem conhecimentos especializados, afirma Maud Valegeas. Os professores precisam de ser formados no âmbito da sua formação contínua. Mas esta formação foi posta em causa ao nível do ensino secundário. Já não é possível fazer formação no local de trabalho. Se quiserem receber formação, os professores têm de o fazer à noite ou ao fim de semana, nomeadamente através de webinars.

No que diz respeito aos professores do ensino primário, recomenda-se que dediquem as dezoito horas anuais obrigatórias de formação contínua à educação para o desenvolvimento sustentável. "Precisamos de reservar um ano para formar todos os professores do ensino primário", afirma Francesca Pasquini.

A educação para o desenvolvimento sustentável assenta muito no trabalho transversal e interdisciplinar, mas "nem sempre é claro que professor deve ser responsável por estas matérias", observa Frédérick Heissat. "É mais fácil na escola primária, onde não há necessidade de quebrar barreiras ou de encontrar horas extra", acrescenta. É por isso que Francesca Pasquini considera que é necessário investir fortemente desde o jardim de infância até ao CM2, "pondo em prática um programa de ensino muito sólido, trabalhado progressiva e equitativamente ao longo dos oito anos de escolaridade".

Eco-delegados, o risco de desmobilização

Para além dos programas, foram introduzidas várias medidas, incluindo a obrigação, desde 2020, de eleger pelo menos um eco-delegado por turma, do sexto ano ao último ano. Acompanhados por um conselheiro adulto, estes representantes eleitos são encorajados a agir e a conceber projetos para o seu colégio ou liceu, como a instalação de caixas de nidificação, a triagem de resíduos, a plantação de árvores, etc. É uma iniciativa muito boa, diz Frédérick Heissat. A dificuldade é que muitas vezes são os professores de ciências e tecnologia que se envolvem, ou os professores que estão envolvidos em assuntos cívicos. Não se consegue envolver todos os professores. Maud Valegeas, de Sud Éducation, chama a atenção para outra limitação do projeto: "É uma montra. Os diretores das escolas estão satisfeitos, mas tudo se resume a uma eleição e a 2 ou 3 horas de formação, por exemplo com o Fresque du climat.

A representante sindical lamenta a falta de vida democrática nas escolas e a falta de recursos. Na Bretanha, explica, foram disponibilizadas subsídios para a instalação de bebedouros nas escolas, mas este tipo de projeto é difícil de realizar em Seine-Saint-Denis ou Bouches-du-Rhône, regiões com poucos recursos. A responsável alerta também para o efeito contraproducente das ações realizadas sem reflexão coletiva e sem a vontade da escola no seu conjunto: "Se, por exemplo, os alunos fazem uma triagem do lixo com cartazes informativos, mas no final vai tudo para o mesmo contentor, vão aperceber-se de que é inútil e desanimam.”

Thierry Lerévérend, diretor-geral da Teragir, uma associação de educação para o desenvolvimento sustentável que trabalha nas escolas, tem a mesma reserva: "Os eco-delegados não são uma má ideia, mas é preciso levá-los até ao fim. Acima de tudo, há que evitar sobrecarregar os jovens com a responsabilidade de fazer o que a sociedade e os adultos não conseguiram fazer. De outra forma, eles deparar-se-ão simplesmente com os limites de um papel em que não têm realmente o poder de mudar as coisas, correndo o risco de perderem a motivação para sempre.” Para ele, é preciso criar condições para que os jovens tenham a experiência de poder mudar as coisas. É isto que Teragir tenta fazer ao longo do ano através dos seus três programas: Éco-école, Jeunes reporters de l'environnement e La Forêt s'invite à l'école. Todos os anos, estas iniciativas chegam a 120.000 alunos em França. A Éco-école existe há mais de vinte anos. O programa é totalmente gratuito e acessível desde o jardim de infância até ao liceu, e é financiado por parceiros e patrocinadores: o Ministério da Ecologia francês, a Ademe, o Gabinete Francês para a Biodiversidade, a Agência Francesa de Desenvolvimento, a Citéo, a MGEN, etc.

O objetivo é fornecer uma metodologia, materiais e ferramentas para apoiar a comunidade educativa em projetos de desenvolvimento sustentável. A Éco-école apoia-se igualmente numa rede de centros locais. Um dos aspetos mais interessantes do programa é o envolvimento dos alunos no projeto, sublinha Thierry Lerévérend. Eles têm de ser partes interessadas e estar envolvidos em todas as fases. Outro aspeto importante do programa é a criação de projetos no terreno que combinem várias disciplinas e tornem os alunos mais ativos. As escolas estão a fazer progressos nesta matéria, mas continua a haver um modelo educativo muito disciplinar que ainda não foi transformado. "Assim que os alunos querem fazer alguma coisa, são frequentemente confrontados com uma organização escolar que não está concebida para integrar projectos fora da sala de aula", afirma Maud Valegeas.

Francesca Pasquini cita a falta de recursos. Cita o bom exemplo de Poitiers, onde os professores foram questionados sobre as suas necessidades de equipamento para as aulas ao ar livre. "E a cidade forneceu a todas as escolas um pequeno carrinho, lupas e instrumentos para observar árvores e pássaros". Mas nem todas as autoridades locais estão tão dispostas a isso.

Levar as crianças para o exterior também é visto como algo complicado de pôr em prática: Para levar as crianças ao exterior, não é preciso ir pedir um autocarro à Câmara Municipal e ir para longe. A escola ao ar livre também pode ter lugar no recreio, em parques próximos. Recomenda-se que se dedique meio dia por semana à educação ao ar livre nas escolas primárias. Quanto às turmas verdes, o seu número tem vindo a diminuir de forma constante ao longo dos anos. Um projeto de lei para relançar estas viagens escolares foi apresentado pelos republicanos e aprovado na Assembleia Nacional em fevereiro de 2024.

Teragir não é a única organização a oferecer programas à comunidade educativa para levar os alunos para fora da sala de aula. Graines de reporters scientifiques (Fondation Tara Océans), aires éducatives (Office français de la biodiversité), J'agis je plante (Fondation pour la nature et l'homme), etc. São inúmeros os projetos, concursos e outros desafios propostos por atores exteriores ao sistema educativo nacional. "Estes programas são uma grande ajuda. É muito, muito valioso", diz Frédérick Heissat.

Mas Sud Éducation adverte que é indispensável proteger as escolas dos interesses privados e dos lóbis das empresas poluidoras. "Por exemplo, para realizar qualquer projeto, é preciso pedir um financiamento à Odyssée Jeunes, cujo principal financiador é o BNP Paribas, um dos bancos mais poluidores, que apoia grandes projetos de combustíveis fósseis contrários aos acordos de Paris, afirma Maud Valégeas.

Fabienne Loiseau, Na escola, a ecologização está a lutar para criar raízesReporterre.

BICO CALADO

Jamie MacArthur/Animal News Agency

  • A Santa Casa da Misericórdia do Porto (SCMP) acumula quase 30 milhões de euros de prejuízos nos últimos nove anos, apesar de os seus dois hospitais (Prelada e Conde Ferreira) terem recebido 484 milhões de euros do Estado desde 2008. E perdeu 40% dos seus fundos patrimoniais em apenas 12 anos. O sufoco financeiro é mais do que evidente nas contas desta instituição controlada por homens do aparelho social-democrata, que tem um antigo deputado do PSD, António Tavares, como provedor desde 2011, e que agora também preside à Assembleia Geral do Futebol Clube do Porto. Talvez por coincidência, porque a instituição nega a sua participação, Eurico Castro Alves – membro da ‘task force’ do Plano de Emergência da Saúde, mentor da criação dos centros de atendimentos clínico (CAC) e anfitrião de Luís Montenegro nas suas recentes férias de Verão no Brasil – também integra os órgãos sociais da SCMP, como suplente da Mesa Administrativa. Com funções executivas está outro social-democrata de peso: Manuel Pinto Teixeira foi colega da ministra da Saúde, Ana Paula Martins, e do ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, na Comissão Política do PSD nos tempos de Rui Rio. Tudo misturado, e contas feitas, à boleia da criação do CAC no Hospital da Prelada, para receber doentes não-urgentes dos hospitais públicos do Porto, o Governo vai dar um ‘bónus’ à Misericórdia do Porto que atingirá, em termos líquidos, cerca de seis milhões de euros apenas este ano, permitindo assim ‘tapar’ uma gestão ruinosa, onde as subcontrações dispararam nos últimos anos. Fonte.
  • CUF investe 45 milhões em novo hospital privado. Jn 6Set2024.
  • “(…) O que está em jogo, o que interessa é muito simples: quem vai ao pote agora e só se saberá daqui a vinte anos! Ou se apoia que seja o atual grupo, que já tem prática, com as PPP da saúde, a degradação planeada e executada do SNS, que tem os rostos do anterior bastonário dos médicos e da enfermeira que fazia agitprop na anterior legislatura, mais o atual ministro das obras públicas que era secretário de Passos Coelho e que já esteve no negócio da TAP (um pequeno negócio comparado com o que está hoje em jogo), ou se vai para eleições para os portugueses decidirem claramente quem pretendem a gerir os grandes negócios e com que controlo, o que passa também pela escolha do próximo/a Procurador Geral da República, que o atual governo quer que seja um idiota útil. (…)” Carlos Matos Gomes, A propósito do Orçamento! — Eleições, já! Medium.
  • "Muitos historiadores têm feito um grande esforço para negar que a Alemanha nazi tenha copiado as políticas racistas americanas infligidas aos nativos americanos e aos negros. Em Mein Kampf, escrito quase uma década antes de se tornar chanceler alemão em 1933, Hitler elogiou os Estados Unidos como o líder mundial em políticas e leis racistas e no estabelecimento de uma ordem social racista. Hitler admirava as leis de imigração restritivas dos Estados Unidos, que favoreciam os europeus do Norte e excluíam, na sua maioria, outras nacionalidades, etnias e raças. Hitler admirava as leis penais americanas que proibiam a miscigenação, nomeadamente os casamentos mistos ou as relações sexuais entre cidadãos brancos e negros. Admirava as leis de segregação de Jim Crow e outras disposições da supremacia branca que, efetivamente, retiravam os direitos civis aos afro-americanos e os tornavam cidadãos de segunda classe. Admirava especialmente a eugenia americana que valorizava a supremacia branca e levou a leis que encorajavam a esterilização dos "débeis mentais" e de outros considerados de alguma forma defeituosos. Hitler admirava o extermínio em massa dos nativos americanos pelos colonos "nórdicos" no século XIX e o subsequente isolamento da maioria dos sobreviventes indígenas em reservas." William Spive, HornObservers.
  • Sindicatos de jornalistas, ONG de liberdade de imprensa e Federação Europeia de Jornalistas apelam a altos dirigentes da União Europeia que apliquem sanções contra Israel e que suspendam o Acordo de Associação UE/Israel. Fonte.

LEITURAS À MARGEM

White Trash - A história não contada de 400 anos de classes na América (13)

"Jefferson tinha uma opinião diferente em 1786, quando a Rebelião de Shays eclodiu no oeste do Massachusetts. O aumento dos impostos e das dívidas entre a classe média e os agricultores pobres tinha alimentado uma guerra de classes. O Capitão Daniel Shays tinha servido no Exército Continental e, fosse ou não uma descrição correta, foi chamado o “Generalíssimo” da revolta. Shays tinha adquirido mais de duzentos acres de terra, mas perdeu metade das suas propriedades durante a depressão do pós-guerra.

Os seus apoiantes encerraram tribunais que estavam a leiloar quintas e casas, formando um exército ad hoc que tentou tomar o arsenal em Springfield. Protestos semelhantes estenderam-se até à Virgínia. Escrevendo a partir de França, Jefferson não negou a existência da rebelião, mas tratou-a como um fenómeno natural e até terapêutico. Surpreendentemente, calculou que tais tempestades políticas aconteceriam muito provavelmente de treze em treze anos. Uma “pequena rebelião” era análoga a “tempestades no ambiente físico”; temporariamente abalada, voltava a acalmar-se, deixando os princípios fundamentais da sociedade renovados."

Nancy Isenberg, White Trash – The 400-year untold history of class in America. Atlantic Books 2017, p 97. Trad. OLima 2024.

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

ALGARVE: AQUICULTURA DE GRANDE ESCALA À VISTA

  • A Mariculture Systems, sediada em Israel, pretende ser a primeira empresa a montar uma plataforma de peixes offshore de grande escala na costa de Portugal. A plataforma criaria robalo e dourada e ficaria localizada a cerca de 15 Kms da costa da região sul do Algarve. Esta plataforma será apenas o primeiro de 10 sistemas que a empresa espera instalar em Portugal. “Escolhemos Portugal como o primeiro local para a plataforma CORALIS por várias razões importantes”, disse o CEO da Mariculture Systems, Yaron Bar-Tal. “Primeiro, Portugal tem uma Estratégia Nacional para o Mar para 2021-2030 que incentiva ativamente a aquicultura offshore, o desenvolvimento tecnológico e a inovação azul; segundo, o país tem um grande deficit de frutos do mar; terceiro, a costa sul oferece excelentes parâmetros em termos de qualidade da água, profundidade e estabilidade climática; e, finalmente, oferece bom acesso ao mercado europeu.” O processamento e a embalagem ocorrerão em Vila Real de Santo António, onde a empresa tem sua sede portuguesa. Segundo Fausto Brito e Abreu, vice-CEO da Mariculture Systems, as formalidades de licenciamento em Portugal estão bem definidas e a empresa está confiante de que receberá sua licença para operar até o final de 2024. Fausto Brito e Abreu, diz que os Açores e Madeira não estão excluídos mas adiantou que a prioridade são os locais ao longo da costa continental portuguesa onde se vão instalar parques de eólicas no mar. Correio dos Açores 5Set2024.

Peter Beringer, Yaron Bar-Tal, Fausto Brito e Abreu e Paulo Serra Lopes lideram a Mariculture. Foto: Nuno Botelho/Expresso.

Fausto Brito e Abreu: Assessor do Secretario de Estado do Ambiente e Ordenamento do Território do Governo Português (Abr 2005-Set 2010); Conselheiro para o Ambiente, Clima Política Marítima junto da Representação Permanente de Portugal na União Europeia (Set 2010-Abr 2013); Secretário Regional do Mar, Ciência e Tecnologia do Governo Regional dos Açores, (Julho 2014 - Nov 2016); Director-Geral  da Direcção-Geral de Politica do Mar (Jan 2017-Dez 2017); Fausto Brito e Abreu colabora com a CONSULGAL.

  • A realização da Noite Branca de Braga pode estar em causa, embora apenas na zona da Sé. A União de Freguesias de Maximinos, Sé e Cividade, de Braga, interpôs uma providência cautelar no Tribunal Administrativo contra a licença especial de ruído emitida pelo município para os três dias da Noite Branca, e que permite que os bares da zona da Sé possam abrir e com música exterior, durante a noite. A Câmara já contestou e o juiz deve decidir hoje. JN 5Set2024.
  • Os patrões das empresas de abastecimento de água poderão ser proibidos de receber bónus e até ser condenados a penas de prisão, de acordo com a nova legislação governamental de combate à poluição. As leis propostas aplicar-se-ão em Inglaterra e no País de Gales e darão mais poderes às entidades reguladoras para combaterem as empresas poluidoras e facilitarão a aplicação de multas. Mas alguns activistas em prol de águas mais limpas criticaram a nova legislação, tendo um deles dito à BBC News que se tratava apenas de "fachada". Os trabalhistas estão a tentar fazer passar como suas as medidas implementadas pelos conservadores, como a proibição de prémios para os patrões das empresas de água cujas empresas cometem infracções graves", afirmou o ministro-sombra do Ambiente, Robbie Moore. Décadas de subinvestimento deixaram as infra-estruturas de esgotos frequentemente incapazes de lidar com o volume de águas pluviais e de esgotos, o que leva a derrames. Fonte.


REFLEXÃO: QUEM ORDENA O SERVIÇO DE TROTINETES - A CÂMARA OU A OPERADORA?

"Bolt pretende disciplinar estacionamento de trotinetes e bicicletas em Ponta Delgada. A Bolt reforça o seu compromisso com a mobilidade da cidade e dos ponta-delgadenses com a introdução da tecnologia ParkAssist+. A funcionalidade verifica se uma trotinete é deixada na posição correcta, e se esta está localizada dentro de uma área de estacionamento designada de acordo com as regulamentações locais. Se estes requisitos não forem cumpridos, os utilizadores serão solicitados até duas vezes a voltar a estacionar a trotinete; se, ainda assim, terminarem a viagem ignorando os requisitos, serão notificados de que uma multa de estacionamento lhes poderá ser aplicada. “Queremos oferecer o melhor ser viço possível à população de Ponta Delgada, ajudando-a a deslocar-se de uma forma rápida e amiga do ambiente. Para isso, é essencial continuarmos, em conjunto com o município, a educar as pessoas para o bom uso dos veículos. A implementação deste tipo de tecnologia é mais uma iniciativa crucial para levar isso a cabo”, elaborou Frederico Venâncio, responsável de micromobilidade da Bolt para Portugal e Espanha. Diário dos Açores 5Set2024."

Ora aqui está mais um exemplo de publicidade encapotada de notícia. Pior: enquanto se eleva a operadora ao nível de heroína e benfeitora dos munícipes, varre-se a autoridade local para a penumbra. O leitor avisado topa o embuste. Esta e outras marcas comportam-se assim por obrigação legal e após terem incorrido em situações pouco abonatórias para o ordenamento de trânsito dos locais onde operam e terem sido, por isso, obrigadas a respeitar regulamentos camarários, lavando assim a sua imagem. Essas regras foram-lhe impostas por autoridades locais robustas. Escusa a marca de se arvorar em benemérita ou benfeitora que vem de carrinho.

BICO CALADO

David W Černý/Reuters

  • Durante os anos em que a TAP esteve nas mãos de acionistas privados, o grupo celebrou com a Atlantic Gateway (a empresa de David Neeleman e do grupo Barraqueiro que detinha a transportadora aérea) um contrato de prestação de serviços que, segundo a Inspeção-Geral de Finanças (IGF), não passou de um “negócio simulado”. O contrato serviu para pagar remunerações e prémios de 4,3 milhões de euros a três membros do conselho de administração do grupo entre 2016 e 2020. Público 4set2024.
  • EUA e Taiwan estão apoiando uma operação de mudança de regime na pequena ilha do Pacífico de Kiribati, diz funcionário do partido da oposição. Fonte.
  • décadas que Biden tem dito que Israel é um posto avançado estratégico do império norte-americano. Em 1986afirmou que "se não existisse Israel, os EUA teriam de inventar um Israel para proteger os seus interesses na região". Em 2023, disse que "se Israel não existisse, teríamos de o inventar". Fonte.
  • Israelitas bloqueiam ambulâncias que transportam palestinianos. Fonte.
  • Zelensky concretiza maior remodelação governamental desde o deflagrar da guerra. Presidente ucraniano justificou as seis substituições no Executivo com a necessidade de dar “nova energia” ao país num momento crucial do conflito com a Federação Russa. JN 5Set2024. Remodelar governo sem haver eleições? Porque não? Os ingleses fizeram o mesmo durante anos.

LEITURAS À MARGEM

White Trash - A história não contada de 400 anos de classes na América (12)

“Na Pensilvânia, o estatuto de classe ainda assentava no nome de família, pois a camada superior era dominada pelas famílias Penn, Pemberton e Logan - os proprietários e as elites Quaker. Abaixo deles, havia uma classe mercantil transatlântica em crescimento que se distinguia pela ostentação de riqueza. Estas famílias possuíam escravos, criados e serviços de chá em prata; vestiam tecidos ricos, tinham grandes casas e conduziam carruagens. Na altura em que Franklin se retirou das suas atividades de impressão, em 1748, estava no décimo percentil superior em termos de riqueza, possuindo um cavalo e uma carruagem e tendo investido numa grande extensão de terra. Mesmo entre os simples Quakers, conhecidos pelo seu vestuário simples, as carruagens eram um símbolo de estatuto. Em 1774, numa cidade de quinze mil habitantes, apenas oitenta e quatro habitantes de Filadélfia possuíam uma carruagem.

A classe era mais do que riqueza e nome de família; era transmitida através das aparências e da reputação. Franklin entendeu isso. O primeiro retrato dele, pintado em 1746, não o exibia com o seu avental de cabedal a compor tipos de impressão; nem o mostrava a empurrar um carrinho de mão pela rua, como ele próprio se descreveu - um comerciante obediente - na sua Autobiografia. Usava uma peruca respeitável e uma fina camisa de folhos, e assumia todos os ares da ‘Elite’.

Se as aparências materiais definiam os proprietários e as classes ricas como a ‘Elite’, então a mesma regra aplicava-se no outro extremo do espetro social entre a ‘Ralé’. Havia uma distinção legal entre os livres e os não livres, incluindo estes últimos não só os escravos mas também os servos contratados, os trabalhadores condenados e os aprendizes. Como dependentes, eram todos classificados como mesquinhos, servis e mal-educados. Milhares de trabalhadores não livres inundaram Filadélfia, de modo que, já em 1730, Franklin se queixava dos “vagabundos e pessoas ociosas” que entravam na colónia. Ele escreveu essas palavras depois de ter escapado de circunstâncias pobres não muitos anos antes. Chegara a Filadélfia em 1723 como fugitivo, vestido com roupas imundas e molhadas.”

Nancy Isenberg, White Trash – The 400-year untold history of class in America. Atlantic Books 2017, pp 72-73. Trad. OLima 2024.

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

SUÉCIA: RAINHA DO LIXO, UMA DAS 11 PESSOAS JULGADAS NO MAIOR CASO DE CRIME AMBIENTAL

TT News Agency/Alamy

  • Onze pessoas, entre as quais uma empresária que se auto-intitulou "rainha do lixo", foram a julgamento na Suécia, acusadas de terem depositado ilegalmente resíduos tóxicos no maior caso de crime ambiental de sempre no país. O julgamento centra-se na empresa de reciclagem Think Pink, na sua antiga diretora executiva Bella Nilsson, que entretanto mudou de nome, e no seu ex-marido Thomas Nilsson. Os investigadores da polícia, cujo relatório tem 50.000 páginas, encontraram níveis nocivos de arsénico, dioxinas, zinco, chumbo, cobre e produtos petrolíferos. Várias das lixeiras incendiaram-se, tendo um incêndio durado meses. A Think Pink despejou lixo e usou documentos falsificados para enganar as autoridades e obter grandes lucros. Há pedidos de indemnização no valor de 260 milhões de coroas suecas, principalmente por parte dos municípios, que foram obrigados a limpar as grandes montanhas de lixo. De acordo com a acusação, que abrange locais em 15 municípios diferentes, os principais suspeitos estiveram envolvidos no transporte de milhares de toneladas de resíduos de construção e demolição não selecionados, que foram depois enterrados, embrulhados em plástico em fardos e utilizados como material de enchimento. Fonte.
  • O governo da Suécia vai abolir um imposto sobre os voos para viajantes, alegando a necessidade de promover as viagens aéreas domésticas, numa medida muito criticada por grupos ambientalistas. O imposto - cujo montante foi determinado pela duração do voo - foi introduzido pelo anterior governo em 2018 como um fator de dissuasão destinado a reduzir os efeitos climáticos causados pelos voos das companhias aéreas. Fonte.
  • O congresso do Partido Trabalhista deste ano contará com eventos patrocinados pela empresa de energia Drax, o grupo de pressão dos combustíveis fósseis Offshore Energies UK e a empresa de gás Cadent. Fonte.
  • O departamento de proteção ambiental da Florida despediu um denunciante que expôs e afundou o plano secreto do governador Ron DeSantis para pavimentar parques estatais sensíveis do ponto de vista ambiental e construir hotéis lucrativos, campos de golfe e campos de pickleball. Fonte.

BICO CALADO

Peter Batty/Solent News & Photo Agency/Solent News

  • O Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) recebeu documentação das autoridades brasileiras que levantam suspeitas sobre um eventual financiamento da construtora Odebrecht à campanha da coligação Portugal à Frente, liderada por Passos Coelho, nas legislativas de 2015. Já era público o envolvimento do publicitário André Gustavo, responsável pela campanha, na ‘Lava Jato’, no Brasil. Agora, segundo a ‘Sábado’, as autoridades brasileiras enviaram documentação, que foi anexada ao caso EDP, onde dizem ter “informações indiciárias” em “é possível que os pagamentos descritos com referência à obra do Baixo-Sabor [barragem] em Portugal, possam referir-se ao financiamento da campanha eleitoral do PSD para a eleição do cargo de primeiro-ministro, disputada em 2015, pelo ex-primeiro ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho”. A Justiça brasileira analisou a contabilidade da Arcos Propaganda, a empresa de André Gustavo, e frisa que os pagamentos faturados ‘por dentro’ pela Arcos Propaganda” para o PSD e para a coligação Portugal à Frente totalizaram 868 mil euros e foram feitos no mesmo período e em valores muito semelhantes aos repasses em espécie feitos ‘por fora’” pela Odebrecht. Fonte.
  • Juntamente com a sua rede de dependências da coroa e territórios ultramarinos, o Reino Unido é o maior facilitador mundial de abusos fiscais transfronteiriços. Na verdade, a "teia de aranha" do Reino Unido, como é frequentemente conhecida, foi desenvolvida como um sistema global de extração económica durante a retirada do seu império colonial formal. Um novo documento entregue ao Comité para a Eliminação da Discriminação Racial expõe os impactos profundamente racializados desta injustiça, que prejudica os países maioritariamente não brancos do Sul Global, e o papel pernicioso que o Reino Unido está a desempenhar na tentativa de impedir os esforços de uma reforma significativa. O Reino Unido emergiu como um dos principais bloqueadores nas negociações sobre uma nova Convenção-Quadro sobre Cooperação Fiscal Internacional nas Nações Unidas, uma iniciativa apresentada pelo Grupo de África num esforço para resolver a pilhagem histórica e contínua das suas economias devido aos níveis maciços de abuso fiscal internacional. Fonte.
  • Lula e Modi espetaram uma farpa no coração dos BRICS. Hugo Dionísio, StrategicCulture.
  • As canções de protesto contra a guerra do Vietname são tão relevantes hoje como quando foram escritas. Fonte.

LEITURAS À MARGEM

White Trash - A história não contada de 400 anos de classes na América (11)


"Também fazia sentido que [Benjamin] Franklin visasse os solteiros na sua estória. Nas colónias americanas e em Inglaterra, o homem solteiro de posses era uma figura escandalosa. Era ridicularizado como hermafrodita, metade homem, metade mulher; o seu castigo, como exigiu um jornal nova-iorquino, deveria ser rapar metade da barba para indicar a sua reduzida virilidade. Outros achavam que ele devia perder a sua herança. Da mesma forma que a terra podia ser deixada em pousio, a fertilidade humana podia ser desperdiçada. Não tendo filhos, desperdiçando a sua semente, os solteiros entregavam-se ao pior tipo de ociosidade reprodutiva.

Por outro lado, os bastardos aumentavam a população e a riqueza do império. As próprias circunstâncias de Franklin reforçaram a sua opinião. O seu filho William (mais tarde governador real de Nova Jérsia) era um bastardo. William também foi pai de um filho bastardo, William Temple Franklin, e Temple, como era conhecido, acrescentou dois filhos ilegítimos à árvore genealógica da família. Os bastardos foram uma tradição da família Franklin."

Nancy Isenberg, White Trash – The 400-year untold history of class in America. Atlantic Books 2017, pp 67-68. Trad. OLima 2024.