Um investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
afirma que as transferências de água entre bacias hidrográficas
criam grandes conflitos sociais e problemas de défice nos locais de
onde é retirado o recurso.
“As necessidades de água, obviamente, são mais prementes no
sul do país, onde chove menos, mas é exatamente onde têm aumentado
as áreas de culturas altamente exigentes em água”, salienta Rui
Cortes, investigador do Centro de Investigação e Tecnologias
Agroambientais e Biológicas, da Universidade de Trás-os-Montes e
Alto Douro.
Na sua opinião, é fundamental encarar-se as questões agrícolas
como um aspeto essencial e não caminhar, como parece que está a
suceder, no sentido de aumentar a artificialização dos cursos de
água, do uso de águas subterrâneas (através de furos) ou aumentar
o número de barragens (a regularização).
“Está-se a caminhar para uma situação que é muito perigosa
que é o facto de que a gestão dos recursos hídricos deve ser feita
por bacia hidrográfica e, ao proporem-se os transvases, vai-se
quebrar completamente o que está preconizado na Diretiva Quadro da
Água”, desta ainda, lembrando que há dois meses foi aprovada uma
estratégia europeia da biodiversidade que prevê precisamente a
redução de barreiras e o aumento de rios livres. E, refere, Portugal está a “pensar caminhar para uma situação
de criação de mais barragens e de transvases, o que não vai ao
encontro do que é proposto por essa estratégia europeia”.
Relativamente aos transvases, Rui Cortes considera que é uma
medida que, a concretizar-se, irá ter uma “repercussão negativa
do ponto de vista da biodiversidade e da qualidade ecológica dos
cursos de água”. “Fazer transferências de água de uma bacia para outra é criar
problemas de défice nas bacias de onde é retirada a água”,
afirma, considerando ainda que os “transvases criam grandes
conflitos a nível social”.
Exemplifica com o caso de Espanha, designadamente com a
transferência de água do Alto Tejo para a Andaluzia, referindo que
os agricultores da zona do Tejo espanhol têm protestado fortemente e
que o Governo espanhol já decidiu reduzir os transvases em 40%.
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