segunda-feira, 21 de outubro de 2024

MONDIM DE BASTO: VESPA ASIÁTICA MATA TRABALHADOR DO ICNF

  • Um trabalhador do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas morreu em Mondim de Basto, após ter sido picado por uma vespa asiática. Fonte.
  • Um contrato celebrado no final de Setembro de 2024 pela empresa pública EDA – Electricidade dos Açores - e a Bencom, no valor de quase 50 milhões de euros, está a levantar polémica naquele arquipélago, não apenas por ter sido assinado a um sábado, mas por envolver uma empresa do Grupo Bensaúde. Esta ‘holding’ é o principal accionista, através da ESA (39,7%) da empresa de eletricidade dos Açores maioritariamente detida pelo Governo Regional (50,1%), e a decisão de adjudicação, após um concurso público internacional lançado em Maio deste ano ter ficado deserto, está a causar acusações de conflito de interesses. Os potenciais candidatos tiveram apenas um mês para apresentar propostas de fornecimento de combustível durante três anos. A administração da eléctrica açoriana, sem explicar as razões de não se precaver deste tipo de imponderáveis em concursos públicos de grande complexidade, alegou agora ser “impossível repetir um novo procedimento concursal a tempo de garantir o abastecimento de fuelóleo necessário à produção de energia eléctrica” nas ilhas de São Miguel, Terceira, Pico e Faial, daí que optou por um ajuste directo por nove meses em condições que não sequer minimamente conhecidas através do Portal Base. Na plataforma da contratação pública, consta apenas um contrato minimalista sem o caderno de encargos e sem a proposta apresentada pela Bencom. Ignora-se assim o preço unitário do fuelóleo e os custos de logística e armazenamento. O contrato nem sequer foi assinado por qualquer membro do Conselho de Administração da EDA. Fonte.
  • A campanha militar israelita provocou a destruição de mais de 75% das oliveiras em Gaza, admite um relatório do Gabinete Nacional para a Defesa da Terra e a Resistência ao Assentamento, afiliado à Organização de Libertação da Palestina. Israel continuou seus ataques aéreos e terrestres no enclave palestino desde a incursão transfronteiriça do Hamas em outubro passado. Ele disse que os residentes de Gaza só podiam acessar seus campos durante um cessar-fogo temporário, que durou apenas uma semana em novembro passado, permitindo-lhes colher azeitonas em áreas que ainda não haviam sido submetidas ao desenraizamento e destruição israelenses. A publicação disse que na Cisjordânia ocupada, as autoridades israelenses revogaram todas as autorizações concedidas aos agricultores para a colheita de azeitonas, impedindo-os efetivamente de acessar suas terras. Cerca de 23 700 acres de terras plantadas com oliveiras na Cisjordânia ocupada foram declaradas zonas militares fechadas pelas autoridades israelitas. A oliveira é uma das principais culturas agrícolas da Palestina e é cultivada há milhares de anos. As oliveiras são também um símbolo do enraizamento dos palestinianos na sua terra. FonteSoldados israelitasprotegem colonos que atacam apanhadores de azeitona palestinianos na Cisjordânia ocupada. Israel limitou o acesso dos palestinianos aos seus olivais, impedindo a colheita, que é uma fonte de rendimento vital para muitas famílias.
  • A fábrica de carvão Miller, nos arredores de Birmingham, Alabama, lidera pelo nono ano consecutivo a lista de poluidores de gases com efeito de estufa dos EUA. Não foram anunciados quaisquer planos de reforma para a instalação. Fonte.

REFLEXÃO: TRANSVASES NÃO RESOLVEM O PROBLEMA DA SECA NO SUL

A transferência de água entre bacias hidrográficas para a gestão nacional da água não devia ser considerada, defendem os ambientalistas da Corema.

“Julgamos que os transvases não devem sequer ser considerados. Cada região tem as suas particularidades e problemas em termos hídricos e tem de haver uma política de resposta a esses problemas, nomeadamente ao nível das agriculturas que são praticadas”, diz Gualdino Correia.

Para o responsável, tem de haver uma política de gestão da água, senão está a transferir-se o problema para o Norte e possivelmente não se está a resolver o problema do Sul, para além de que o transvase implica sempre deslocalizar espécies e isso tem impactos.

Gualdino Correia alerta que, no Alentejo e no Algarve, estão a implementar-se culturas carentes de água que aumentam o problema da escassez, como é o caso dos frutos vermelhos.

“São culturas desadequadas, numa situação em que é preciso apostar em culturas mais resilientes e com menos gastos em termos de água”, sustentou.

Para o ambientalista, a gestão da água está, essencialmente, relacionada com o desperdício, resultante de perdas em condutas de sistemas que, em alguns casos, estão decrépitos, designadamente no Alto Minho.

“É preciso reduzir as perdas, que são enormes – para cima de 20%. Estamos a falar de um sistema já muito danificado, para não dizer inoperacional. Já era tempo de as câmaras otimizarem estes sistemas, substituindo-os”, afirmou.

O Minho.

BICO CALADO

Terry LaBan
  • “Os multimilionários estão bastante confiantes de que não podem ser tributados - não apenas de que não devem ser tributados, mas antes de que é tecnicamente impossível tributar os ultra-ricos. Também não têm vergonha de explicar porquê - e o seu exército de lambe-botas também não. Se é impossível tributar os bilionários, então qualquer pessoa que exija que tributemos os bilionários está a ser infantil. (…) Ao fazer batota nos impostos, os milionários conseguem manter - e investir - mais dinheiro do que as pessoas menos ricas. Conseguem tanto dinheiro que podem "investi-lo" na corrupção do processo político, por exemplo, lançando vastas somas de dinheiro obscuro nas eleições para destituir os políticos que se preocupam com o crime financeiro e substituí-los por legisladores amigos dos criptomoedas que farão vista grossa às fraudes dos bilionários. Quando alguém fica suficientemente rico, adquire impunidade. Tornam-se demasiado grandes para falhar. Tornam-se demasiado grandes para serem presas. Tornam-se demasiado grandes para se preocuparem. Compram presidentes. Tornam-se presidentes. Há uma década, Thomas Piketty publicou ‘O Capital no Século XXI’, traçando três séculos de fluxos globais de capital e mostrando como a desigualdade extrema cria instabilidade política, levando a revoluções sangrentas e guerras mundiais que arrasam o campo de jogo destruindo a maior parte do capital mundial numa orgia de violência, com danos colaterais maciços. Piketty argumentou que, se não tributássemos os ricos, teríamos a mesma instabilidade política que provocou as guerras mundiais, mas num mundo com armas nucleares e à beira de um colapso ecológico. Até elaborou um programa para essa tributação, que tinha em conta tudo o que os ricos tentariam para esconder os seus bens. (…) Onde quer que o debate se desenrole, os bilionários e os seus representantes aparecem para nos dizer que estamos a fazer ideologia, que não há alternativa e que é literalmente impossível tributar os ultra-ricos. Piketty destrói habilmente este argumento, mostrando como são escassos os argumentos para a impossibilidade de um imposto sobre os bilionários. Em primeiro lugar, há o argumento de que os ultra-ricos são, de facto, bastante pobres. Elon Musk e Mark Zuckerberg não têm muito dinheiro, têm muitas ações, que não podem vender. Porque é que não podem vender as suas ações? Ouvem-se muitos argumentos complicados sobre a falta de liquidez e o efeito de uma grande venda sobre o preço das ações, mas todos eles se resumem a isto: se obrigarmos os multimilionários a venderem um monte de ações, ficarão mais pobres. (…) Os bilionários não são realmente pobres. Têm montes de dinheiro, que adquirem através de uma coisa chamada "comprar, pedir emprestado, morrer", que lhes permite criar riqueza dinástica intergeracional para os seus filhos. (…) Piketty chama a atenção para o jogo de fachada que está no centro deste argumento: a livre circulação de dinheiro que permite a fuga aos impostos foi criada pelos governos. Foram eles que criaram estas leis, por isso podem alterá-las. Os governos que não podem exercer o seu poder soberano para tributar os ricos acabam por tributar os pobres, corroendo a sua legitimidade e, consequentemente, o seu poder. Tributar os ricos - uma medida extremamente popular - tornará os governos mais poderosos, não menos. Os grandes países como os EUA (e federações como a UE) têm muito poder. Os EUA acabaram com o segredo bancário suíço e conseguem tributar os americanos que vivem no estrangeiro. Não há nenhuma razão para que a França não possa aprovar um imposto sobre o património que se aplique às pessoas com base na sua residência histórica: um bilionário francês de 51 anos que foge para a Suíça para evitar um imposto sobre o património após 50 anos em França poderia ser responsabilizado por 50/51 do imposto sobre o património. (…) Os super-ricos continuam a ficar mais ricos. Em França, as 500 famílias mais ricas valiam, no seu conjunto, 200 mil milhões de euros em 2010. Hoje, são 1,2 biliões de euros. Não admira que um imposto global sobre a riqueza esteja no topo da agenda da Cimeira do G20, a realizar no Rio de Janeiro no próximo mês. Nos EUA - onde o dinheiro pode facilmente atravessar as fronteiras estaduais e onde vários estados competem entre si para se tornarem o melhor paraíso fiscal e financeiro onshore-offshore - os impostos estaduais sobre milionários estão a arrasar. O imposto sobre milionários de Massachusetts para 2024 arrecadou mais de 1,8 mil milhões de dólares, excedendo todas as expectativas, ao tributar os rendimentos anuais superiores a 1 milhão de dólares com uma taxa adicional de 4%. Este é exatamente o tipo de imposto que os bilionários dizem ser impossível. É tão fácil transformar o rendimento normal em rendimento protegido - realizando-o como uma mais-valia, por exemplo - que aumentar os impostos sobre o rendimento não vai fazer nada. Em quem vai acreditar, nos bilionários ou nos 1,8 mil milhões de presidentes mortos que jazem no Departamento de Receitas do Massachusetts? (…) E se todos esses bilionários fugirem do vosso estado? Boa viagem, e não deixem que a porta vos bata à saída. Tudo o que precisamos é de um imposto de saída, como o que existe na Califórnia, que cobra um imposto único de 0,4% sobre o património líquido superior a 30 milhões de dólares a qualquer indivíduo que saia do Estado. Os bilionários são a razão pela qual não podemos ter coisas boas - uma política climática sensata, direitos dos trabalhadores, um Supremo Tribunal funcional e parlamentos que respondam ao povo e não a doadores com grandes bolsos. A fonte do poder dos bilionários não é misteriosa: é o seu dinheiro. Se lhes tirarem o dinheiro, tiram-lhes o poder. Com mais de uma dúzia de estados a considerar impostos sobre a riqueza, estamos finalmente numa corrida até ao topo, para ver qual o estado que consegue atacar o poder corrosivo da riqueza extrema de forma mais agressiva.” Cory Doctorow, Claro que podemos tributar os bilionáriosMedium.
  • Os dois últimos relatórios e contas da Ordem dos Médicos revelam que a atual ministra da Saúde, Ana Paula Martins, e um dos vice-presidentes da bancada parlamentar do PSD, Miguel Guimarães, agiram como fiéis depositários de uma conta solidária durante a pandemia que envolveu 1,4 milhões de euros, engrossada quase na sua totalidade com dinheiros de farmacêuticas. Os dois políticos agiram durante os respetivos mandatos na Ordem dos Farmacêuticos e dos Médicos, respetivamente, sobretudo entre 2020 e 2022. Além de ficar, assim, assumido que houve contabilidade paralela, com fugas ao Fisco de permeio, o expediente de fiel depositário é completamente desajustado à gestão de donativos e coloca mesmo sérias suspeitas de fraude com eventuais responsabilidades civis e criminais, uma vez que inexistem sequer documentos formais que mandatassem Ana Paula Martins e Miguel Guimarães para essa função. Além da atual ministra e do deputado, um terceiro titular da conta foi Eurico Castro Alves, como representante das farmacêuticas (APIFARMA), que recentemente foi anfitrião das férias de Luís Montenegro no Brasil. Fonte.
  • Nos últimos dois anos, a Comissão da Carteira Profissional de Jornalista retirou a carteira a nove jornalistas, mas na sua ação sancionatória tem deixado escapar o ‘peixe graúdo’. Os jornalistas que trabalham ou colaboram em grandes grupos de comunicação social têm uma espécie de imunidade, e não sofrem sanções ou penalizações mesmo quando exercem actividades absolutamente incompatíveis com a profissão. Por exemplo, há um pivot da CNN que se orgulha de ser dono de uma empresa de consultoria em comunicação e de fazer media training para a Força Aérea. Há jornalistas a trabalhar em empresas ou agência de comunicação e conteúdos comerciais. Outros tantos dão formação em ‘media training’ ou ensinam a escrever ‘press releases’ e a saber ‘apresentar um produto’, como faz uma das mais mediáticas jornalistas da RTP. E há ainda diretores e jornalistas a executar contratos comerciais. E isto é o que se mostra visível. Fonte.

LEITURAS À MARGEM

White Trash - A história não contada de 400 anos de classes na América (43)

“Sim, é a América. É uma parte essencial da história americana. O mesmo acontece com a reação adversa que ocorre quando se tenta melhorar as condições dos pobres. Quer se trate das políticas do New Deal, dos programas de assistência social de LBJ ou da reforma dos cuidados de saúde da era Obama, todos os esforços para combater a desigualdade e a pobreza são acompanhados de uma reação dura e aparentemente inevitável. Os cidadãos revoltados atacam: consideram que o governo está a fazer tudo para ajudar os pobres (implícito ou declarado: não merecedores) e acusam os burocratas de despesas supérfluas que roubam aos homens e mulheres que trabalham arduamente. Era este o apelo de Nixon, com que a sua equipa de campanha embalou para a “Maioria Silenciosa”. No contexto mais alargado das coisas, a queixa moderna contra a intervenção do Estado ecoa o velho medo inglês do nivelamento social, que se dizia encorajar os improdutivos. Na sua última encarnação, diz-se que a assistência governamental mina o sonho americano. Calma. Minar o sonho americano de quem?

Nancy Isenberg, White Trash – The 400-year untold history of class in America. Atlantic Books 2017, p 312.

sábado, 19 de outubro de 2024

AÇORES: ASSEMBLEIA APROVA ÁREAS MARINHAS PROTEGIDAS EM 30% DO MAR DA REGIÃO

Assembleia dos Açores aprova áreas marinhas protegidas em 30% do mar da região. O Governo dos Açores, em parceria com a Fundação Oceano Azul e com a Waitt Fondation, anunciou a intenção de transformar 30% dos mares da região (cerca de 300 mil quilómetros quadrados) em áreas marinhas protegidas, metade dos quais em regime de “proteção total”. O PS fez aprovar uma proposta no sentido da apresentação de um plano de reestruturação do setor das pescas, com uma dotação mínima de dez milhões de euros, com apoios à modernização da frota e à cessação definitiva da pesca comercial por embarcações. “Passados três anos do anúncio do governo do alargamento de 15% para 30% das áreas marinhas a implantar, estranhamente não existe qualquer plano de reestruturação da frota, quando o mesmo já devia estar pronto para fazer face às medidas que serão implementadas”, disse Mário Tomé (PS). 

A Associação dos Operadores Marítimos dos Açores manifestou-se feliz com a decisão.


MARROCOS: TEMPESTADE RESSUSCITOU LAGOS

  • A recente tempestade que atingiu violentamente Marrocos, matando várias pessoas e causando danos materiais significativos, voltou a encher estes lagos, atraindo aves migratórias e encorajando o crescimento de novas plantas. Os meteorologistas prevêem que um aumento da humidade devido à evaporação dos mares e oceanos poderá levar a tempestades mais frequentes, transformando o clima desta região desértica. Fonte.
  • A poluição de dois rios na Ucrânia pela Rússia pode, se for provado que houve um despejo deliberado de produtos químicos, ser classificada como ecocídio, considera Sophie Marineau, doutoranda em história das relações internacionais na Universidade Católica de Lovaina, Bélgica. Fonte. Mantendo esta bitola, que nome esta especialista daria ao abate deliberado e sistemático, por parte dos militares israelitas, de vinhas e oliveiras em terrenos de palestinianos? Que nome lhe daria à selagem e ao envenenamento de poços de água de palestinianos por parte dos militares israelitas?
  • A General Motors lança um sistema de armazenamento residencial de energia solar. A fabricante de automóveis norte-americana afirma que o seu novo sistema de armazenamento oferece a possibilidade de integração com sistemas fotovoltaicos. Pode ser dimensionado para atingir uma capacidade de até 35,4 kWh, o que permitiria aproximadamente 20 horas de armazenamento. Fonte.


REFLEXÃO: ATUAL GESTÃO DO SISTEMAS DOS RESÍDUOS PREJUDICA O PAÍS?

CM Cascais.

“O serviço público de recolha de resíduos urbanos, uma atividade sem concorrência, não pode estar dependente de entidades privadas que têm como objetivo o lucro. Não se trata de uma questão ideológica, trata-se de uma questão de lógica. Temos de fazer muito em muito pouco tempo, precisamos de investir e reinvestir todo o resultado desta atividade. E precisamos de reverter a privatização dos sistemas em alta, criando um novo modelo de gestão que garanta a sustentabilidade económica e ambiental integrada dos territórios, independentemente da divisão alta e baixa.

É necessário alterar a governança económica deste sistema fazendo com que o resultado da valorização dos resíduos, no todo, seja distribuído por todos: munícipes que separam, municípios que recolhem e encaminham, sistema em alta que tratam e agentes económicos que valorizam. A gestão pública dos sistemas tem de ser assegurada, retirando da cadeia de operação um agente que não corre qualquer risco – empresas privadas – que com a decisão do XIX Governo de coligação PSD-CDs, passaram a ser protegidos ao substituir a metodologia cost plus pela metodologia revenue cap. Este último modelo permitiu, em 2023, que a tarifa da Amarsul tenha aumentado 39%, enquanto os gastos aumentaram apenas 13, 6%, conforme referido no seu relatório anual.

Mesmo o concedente não assume qualquer risco com a operação, ficando todos os riscos para os municípios, o que é inaceitável. A devolução do valor gerado pelo sistema aos munícipes é a única forma de os envolver de forma permanente no processo de qualificação do sistema de resíduos em Portugal. A gestão pública integral do sistema tem de ser devolvida aos municípios, num modelo que garanta capacidade efetiva de decisão. (...)

Hoje, os munícipes produzem e separam os resíduos; os municípios recolhem, transportam e entregam; os munícipes e os municípios pagam; os sistemas em alta e os agentes económicos lucram. E isto não pode continuar.”

Carlos Rabaçal, presidente do Conselho de Administração dos Serviços Municipalizados de Setúbal (SMS) e vereador da Câmara Municipal de Setúbal. 

BICO CALADO

 
Issam H.s. Alasmar, Anadolu Agency.

  • Israel dispara e mata mulher palestiniana durante a apanha da azeitona em Faqqu'a, a norte de Jenin, Cisjordânia. Fonte.
  • O Conselho da Europa declarou que a destruição do património cultural ucraniano por parte da Rússia é compatível com o genocídio. Fonte. Mantendo esta mesma bitola, que dirá o Conselho da Europa sobre a destruição de hospitais, escolas, e património cultural palestiniano por parte de Israel?
  • Estivadores bloqueiam contentor com munições para o exército israelita no porto do Pireu,Grécia. Fonte.
  • Moedas. "Por que tenho a Carris e não o Metro? Não faz sentido". Fonte. Ricardo Moreira responde: 'Moedas geriu mal a Carris; a velocidade média dos autocarros é a mais baixa dos últimos 15 anos; foram retiradas faixas BUS da cidade.'
  • Os trabalhistas acabaram de supervisionar uma VENDA DE 1,3 BILHÕES de libras esterlinas de serviços do NHS a uma empresa de capitais privados. Foi adjudicado a uma empresa privada um contrato no valor de cerca de 1,3 mil milhões de libras esterlinas para dirigir os serviços de saúde comunitários de todo um sistema de cuidados integrados durante um período máximo de nove anos. O HCRG Care Group será o principal prestador de todos os serviços para adultos e comunitários em Bath e North East Somerset, Swindon e Wiltshire Integrated Care System a partir de abril. Fonte.
  • O secreto Comando de Operações Especiais dos Estados Unidos (JSOC) está a contratar empresas que ajudem a criar utilizadores da Internet tão convincentes que nem os humanos nem os computadores serão capazes de detetar que são falsos. O plano do Comando Conjunto de Operações Especiais do Departamento de Defesa (JSOC) descreve as tecnologias avançadas desejadas para os esforços militares clandestinos de elite do país. "Para além de imagens fixas de pessoas falsas, "a solução deve incluir imagens faciais e de fundo, vídeo facial e de fundo e camadas de áudio". O JSOC espera poder gerar "vídeos de selfies" a partir destes seres humanos fabricados. Estes vídeos não serão apenas de pessoas falsas: cada selfie deepfake virá com um fundo falso correspondente, "para criar um ambiente virtual indetetável pelos algoritmos das redes sociais". Em 2022, o Meta e o Twitter removeram umarede de propaganda que utilizava contas falsas operadas pelo Comando Central dos EUA, incluindo algumas com fotografias de perfil geradas com métodos semelhantes aos delineados pelo JSOC. Uma investigação da Reuters de 2024 revelou uma campanha do JSOC usando usuários falsos de redes sociais com o objetivo de minar a confiança estrangeira na vacina Covid da China. No ano passado, o Comando de Operações Especiais expressou interesse em usar "deepfakes" de vídeo, um termo geral para dados audiovisuais sintetizados destinados a serem indistinguíveis de uma gravação genuína, para "operações de influência, engano digital, interrupção de comunicação e campanhas de desinformação". Fonte.
  • Quartel de bombeiros novinho em folha na Alemanha destruído num incêndio não tinha sistema de alarme de incêndio. Não foi instalado um sistema de alarme de incêndio no edifício porque os peritos não o consideraram necessário. Fonte.
  • “Primeiro vieram buscar Julian Assange/E eu não gritei/Porque não era Julian Assange/Depois vieram buscar os jornalistas palestinianos/E eu não gritei/Porque não era um jornalista palestiniano/ Depois vieram buscar os jornalistas independentes/E eu não gritei/Porque não era um jornalista independente/Depois vieram buscar os jornalistas de investigação/E eu não gritei/Porque não era um jornalista de investigação/Nunca vieram buscar-me/E eu nunca precisei de gritar/Porque não era um verdadeiro jornalista” Jonathan Cook, Substack.


Associação Empresarial de Penafiel, Agrival, 29ago2024.

“(…) Montenegro foi hábil a gerir a folga orçamental que herdou para as eleições que desejava, mas da arte da governação, até agora, só herdou do antecessor o erro de português. Ontem, mesmo, reincidiu na expressão ‘há dez anos atrás’. Não é apenas uma questão de bom gosto. O verbo haver, referido ao tempo, tem implícito o ‘tempo decorrido’. Não esqueçam, leitores, não há anos atrás, só há ânus atrás, …e órgãos reprodutores à frente. Repitam comigo, só há ânus atrás, não há anos atrás.” Carlos Esperança, O governo e a língua portuguesaPonte Europa.

Tal&Qual: Rangel ofende chefe da Força Aérea.

LEITURAS À MARGEM

White Trash - A história não contada de 400 anos de classes na América (42)

“O poder (seja ele social, económico ou meramente simbólico) raramente é sondado. Ou, se o é, nunca se torna um imperativo nacional tão urgente que exija uma resolução generalizada, satisfazendo simultaneamente um imperativo moral e perseguindo uma causa prática. Sabemos, por exemplo, que os americanos têm resistido vigorosamente ao alargamento do direito de voto; os detentores do poder têm negado o direito de voto aos negros, às mulheres e aos pobres de inúmeras formas. Sabemos também que, historicamente, as mulheres têm tido menos proteção civil do que as empresas. vez de uma democracia completa, os americanos têm-se contentado com a encenação democrática: Em retórica de alto nível, ampliada, e líderes políticos que se aperaltam em churrascos ou saem para caçar. Vemo-los de calças de ganga, camuflagem, chapéus de cowboy e bonés Bubba, tudo num esforço para parecerem pessoas comuns. Mas os presidentes e outros políticos nacionais são tudo menos pessoas comuns depois de serem eleitos. Disfarçar esse facto é a verdadeira camuflagem que distorce a verdadeira natureza de classe do poder do Estado. As atuações teatrais dos políticos que prometem falar em nome de um 'povo americano' nada fazem para pôr em evidência a história da pobreza. O rendeiro com a sua mula e o seu arado não é uma imagem romântica a reter na memória histórica. Mas esse indivíduo é tão importante para a nossa história como qualquer guerra que tenha sido travada ou qualquer eleição que tenha sido disputada com grande intensidade. O inquilino e a sua barraca devem permanecer connosco como um símbolo duradouro de trégua social.”

Nancy Isenberg, White Trash – The 400-year untold history of class in America. Atlantic Books 2017, pp 311-312.

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

ESPINHO: QUANTAS ESTAÇÕES ELEVATÓRIAS ESTÃO INOPERACIONAIS?

A Câmara Municipal de Espinho tem descurado a manutenção das estações elevatórias que apoiam a rede de saneamento do concelho. Fonte digna de crédito confirmou-nos que, neste momento, há, pelo menos, 6 inoperacionais, algumas há mais de 3 anos.

Soube-se, entretanto, que avarias em estações elevatórias foram a causa da interdição a banhos em algumas praias de Espinho. Por exemplo, a estação elevatória da rua 13, entre a Piscina Solário Atlântico e o Hotel PraiaGolfe, foi responsável pela descarga de esgoto bruto na Praia da Baía. E há meses que os esgotos desta Piscina têm sido regularmente aspirados por camião especial...

TORRES VEDRAS: PACTO DE AÇÃO CLIMÁTICA

  • Pacto de Ação Climática de Torres Vedras tem como objetivo envolver cidadãos, empresas e instituições numa ação colaborativa para a descarbonização do território e o aumento da sua resiliência aos impactos das alterações climáticas. O Pacto está relacionado com o Plano Municipal de Ação Climática de Torres Vedras, que é o instrumento que define o quadro de atuação no âmbito das alterações climáticas ao nível do concelho. O Plano Municipal, recorde-se, incorpora as componentes da descarbonização e da adaptação, estabelecendo para o território metas ambiciosas de redução das emissões de carbono (redução de 56% das emissões de CO2 até 2030 e atingir a neutralidade carbónica até 2050). Fonte.
  • Figueiró dos Vinhos investe 200 mil euros no ordenamento florestal. Fonte.

REFLEXÃO: TRANSVASES ENTRE BACIAS HIDROGRÁFICAS SEM IMPACTOS SOCIAIS?

Um investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro afirma que as transferências de água entre bacias hidrográficas criam grandes conflitos sociais e problemas de défice nos locais de onde é retirado o recurso.

As necessidades de água, obviamente, são mais prementes no sul do país, onde chove menos, mas é exatamente onde têm aumentado as áreas de culturas altamente exigentes em água”, salienta Rui Cortes, investigador do Centro de Investigação e Tecnologias Agroambientais e Biológicas, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Na sua opinião, é fundamental encarar-se as questões agrícolas como um aspeto essencial e não caminhar, como parece que está a suceder, no sentido de aumentar a artificialização dos cursos de água, do uso de águas subterrâneas (através de furos) ou aumentar o número de barragens (a regularização).

Está-se a caminhar para uma situação que é muito perigosa que é o facto de que a gestão dos recursos hídricos deve ser feita por bacia hidrográfica e, ao proporem-se os transvases, vai-se quebrar completamente o que está preconizado na Diretiva Quadro da Água”, desta ainda, lembrando que há dois meses foi aprovada uma estratégia europeia da biodiversidade que prevê precisamente a redução de barreiras e o aumento de rios livres. E, refere, Portugal está a “pensar caminhar para uma situação de criação de mais barragens e de transvases, o que não vai ao encontro do que é proposto por essa estratégia europeia”.

Relativamente aos transvases, Rui Cortes considera que é uma medida que, a concretizar-se, irá ter uma “repercussão negativa do ponto de vista da biodiversidade e da qualidade ecológica dos cursos de água”. Fazer transferências de água de uma bacia para outra é criar problemas de défice nas bacias de onde é retirada a água”, afirma, considerando ainda que os “transvases criam grandes conflitos a nível social”.

Exemplifica com o caso de Espanha, designadamente com a transferência de água do Alto Tejo para a Andaluzia, referindo que os agricultores da zona do Tejo espanhol têm protestado fortemente e que o Governo espanhol já decidiu reduzir os transvases em 40%.

Fonte.

REINO UNIDO: COMPANHIA DE ÁGUA DESCARREGA ESGOTO BRUTO EM LAGO DURANTE 3 ANOS

  • Uma empresa de água despejou repetidamente milhões de litros de esgoto bruto ilegalmente num dos lagos mais famosos da Inglaterra durante três anos. Mais de 140 milhões de litros de resíduos foram bombeados para Windermere entre 2021 e 2023 em momentos em que não era permitido, e a United Utilities não relatou a maior parte deles. Fonte.
  • A Friends of the Earth quer que o governo britânico retire o seu apoio a um projeto de gás em Moçambique, envolvido em alegações de rapto, homicídio e violação. Refira-se que, no mês passado, uma unidade militar moçambicana ao serviço da TotalEnergies massacrou pelo menos 97 civis em 2021. Fonte.
  • A NATO anunciou que o seu exercício nuclear anual vai começar na próxima semana - uma notícia que chegou no momento em que os sobreviventes da bomba atómica japonesa que defendem o desarmamento receberam o Prémio Nobel da Paz. Fonte.


BICO CALADO

  • “(…) Por detrás deste espetáculo do julgamento de Ricardo Salgado encontra-se a relação de dupla dependência entre a política e a finança anunciada no final do século XVII por Mayer Amschel (Bauer) Rothschild, o fundador da família que criou o sistema bancário que da Europa, através do Banco de Inglaterra, expandiu para os Estados Unidos, onde se associou à família Rockefeller e que está na base do FED, a Reserva Federal Americana. O sistema que os Espirito Santo e os outros banqueiros utilizaram e utilizam para obter lucros assenta no que pomposamente se designa por fractional reserve lending, (FRL) ou “empréstimo baseado numa reserva fracionada”, ou “empréstimo sem cobertura ou base real”. Embora de enunciado complexo, a prática é muito simples;significa emprestar mais dinheiro do que está em caixa e transformou-se na maior fraude legal de todos os tempos. (…) Todo o negócio bancário se baseia na usura, toda a utilização do capital para obter lucro é abusiva, isto porque o lucro é obtido com a venda de um produto que não tem base material, que existe apenas porque as autoridades de um dado estado garantem que o banqueiro, o moneychanger, é de confiança e honrará o compromisso de pagar os juros aos depositantes. O BES sob a administração de Ricardo Salgado vendeu mais dinheiro do que aquele que podia remunerar aos juros acordados. E fê-lo coberto pela reputação de confiança que lhe era e foi publicamente demonstrada pelas mais altas figuras do Estado, o presidente da República, Cavaco Silva, tido por eminente professor de Finanças, pelo primeiro-ministro Passos Coelho, pela ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, recentemente nomeada pelo atual governo comissária europeia, pelo governador do Banco de Portugal, a entidade reguladora, Carlos Costa, pelos mais conceituados comentadores políticos com acesso aos mais poderosos meios de comunicação, caso de Marcelo Rebelo de Sousa. Todos serviram de fiadores de Ricardo Salgado! Todos e todos os ministros que assinaram a ata do Conselho de Ministros que decretou a “resolução” do BES deviam responder em tribunal e serem corresponsabilizados pelos prejuízos. O BES foi também a instituição escolhida pelo ministério da Defesa dirigido por Paulo Portas para conduzir as operações financeira de leasing que esteve e está na base do fornecimento dos helicópteros EH 101 e dos submarinos da classe Tridente, que pertencem formalmente a uma empresa e não ao Estado Português. Um banco da maior confiança do Estado e dos seus governos, de que nenhum agente político desconfiou, antes pelo contrário afiançou. O que aconteceu ao BES, ou no BES, foi, em termos simples um excesso do abuso de confiança dentro de um sistema, o bancário, que assenta num contínuo abuso da confiança instituído pelos Estados que obrigam os cidadãos a confiar nos usurários (os banksters) para terem acesso aos bens essenciais, desde a habitação ao transporte, à alimentação, à educação, ao lazer. Quem estabelece o valor dos bens são, em última instância, os banqueiros que em Washington e na Wall Street de Nova Iorque impõem o valor do dólar como moeda de troca universal. São eles que estabelecem a inflação que gera lucros aos banqueiros e prejuízos aos clientes. São eles que desencadeiam crises e guerras para manipular o valor do dinheiro. (…) O julgamento de Ricardo Salgado conduz à triste conclusão de que no capitalismo os cofres dos bancos contêm papel que tem o valor que a Reserva Federal dos Estados Unidos lhe atribuir e que os Estados nacionais atestam com a assinatura do governador do banco nacional. Nenhum cidadão sabe o que significam os algarismos do seu extrato bancário. Alguém decidiu que as “obrigações” emitidas pelo BES eram papel sem valor e eram, mas resta a pergunta, porque elas, porque aquelas? Porque ninguém do BCE em Franckfurt ao Banco de Portugal em Lisboa viu o que se estava a passar no BES? Essas perguntas jamais serão colocadas em tribunal. O espetáculo no Campo da Justiça, centrado na figura de um vencido que gera sentimentos de vingança a vários níveis, a do poderoso arrastado para o cadafalso, também esconde a vileza das ratazanas políticas que continuam a representar o seu número de macacos cegos, surdos e mudos. Já agora, não há lesados no caso BPN, dos amigos de Cavaco Silva, nem do BANIF da Madeira.” Carlos matos Gomes, O julgamento de Ricardo Salgado — Big Show BESMedium.
  • Ontem, na festa de inauguração do Camões, apinhada de gente, foi anunciado o Ministro da Educação, nem uma palma, Carlos Moedas, nem uma palma. E o Director, um homem de Abril, João Jaime Pires e o auditório levantou-se de pé, durante vários minutos a aplaudi-lo. Digo sempre aos meus alunos, a história popular não é uma história ‘engraçadinha’ sobre as classes trabalhadoras, é a história total. Quem, daqui a muitos anos, for fazer a história da luta pelo Camões, lugar apetecível para a especulação imobiliária, sem a mobilização dos que por ele lutaram e sem este voto com os pés, este des-reconhecimento feito a Moedas e ao Ministro, faz uma história manca. Vivemos tempos de estrelas e figuras públicas. Mesmo quando há dirigentes intelectuais públicos, raros, sobrevaloriza-se o papel de “falar bem”. Primeiro, como tudo, a oralidade também se aprende e devia aprender, em Oxford aprende-se a debater em público, onde se formam as classes dirigentes, as dirigidas não têm voz nem devem aprender tal coisa. Mas, todos devíamos ser dirigentes e todos devíamos aprender a falar em público. Segundo, não se pode esquecer o papel dos organizadores na nossa sociedade, existem figuras não muito públicas, por exemplo o João Jaime é acanhado e discreto, a sensação que nos dá é que nem sabe por vezes onde colocar as mãos. E no entanto ele encarna a figura do organizador, aquele que sabe administrar, democraticamente, colectivos. Essa qualidade é das mais importantes e, hoje, raras, de uma sociedade. O que temos hoje são gestores, a destruir tudo, mas precisamos muito de organizadores, administradores, que pensam o bem público e organizam pessoas, diferentes e complexas. Organizar não é mandar, é uma arte de tecer relações humanas. O Camões é filho de lutas e é uma comunidade, uma escola aberta, que nunca falhou uma manifestação pelos docentes e teve sempre as portas abertas à democracia dentro das suas portas. Ontem Moedas foi interrompido por gritos de estudantes “Palestina Livre”. Só lamento não ter gritado junto, fiquei a olhar para ver se todos se juntaram, creio que tantos ficaram como eu, mas os estudantes, aqueles estudantes, salvaram a honra. Não podemos hoje celebrar nada sem recordar que estamos a viver um genocídio e que a educação é e só pode ser se for também política e humanista radical. (…)” Raquel Varela, Camões, hoje e ontem a Democracia.
  • O navio que transporta explosivos para os militares israelitas continua fundeado ao largo de Malta, com vários países a não permitirem a sua entrada em portos nacionais, receando vir a ser responsabilizados por cumplicidade com o genocídio por parte da justiça internacional. O Kathrin demorou 18 dias a tirar o pavilhão português e hasteia agora a bandeira alemã, segundo refere o registo nos sites que monitorizam a marinha mercante. Fonte.
  • O embaixador ucraniano na UE, Vsevolod Chentsov, pressionou os aliados a não participarem na COP29]organizado pelo Azerbaijão, se este receber o líder russo. Fonte.

LEITURAS À MARGEM

White Trash - A história não contada de 400 anos de classes na América (41)

“Em 1980, Carter perdeu para Ronald Reagan, um homem que percebia muito pouco da cultura sulista, mas sabia tudo o que precisava para criar uma imagem. A sua Casa Branca assumiu os contornos de um cenário glamoroso de Hollywood. Reagan podia fazer de irlandês quando visitava Ballyporeen, em County Tipperary; podia usar um chapéu de cowboy e montar um cavalo, como fez num dos seus filmes mais conhecidos, Santa Fe Trail. O ‘presidente ator’ tinha uma competência que poucos políticos possuíam, na medida em que estava treinado para produzir falas comoventes, ter boa aparência para a câmara e projetar o tom e a emoção desejados. Uma vez que a verdadeira eloquência tinha morrido com o advento da televisão, Reagan era menos o ‘grande comunicador’ que os seus adoradores afirmavam do que um ator com ‘reflexos mediáticos’ cuidadosamente aperfeiçoados. Chegou ao cargo rejeitando tudo o que Carter representava: o Sul rural, o homem comum, a imagem do americano caseiro de pés descalços e calças de ganga. Reagan ficava fantástico num smoking. Em 1980, correu o boato de que Nancy Reagan dizia às suas amigas que os Carter tinham transformado a Casa Branca numa ‘pocilga’. Aos seus olhos, eles eram lixo branco e todos os vestígios deles tinham de ser apagados.”

Nancy Isenberg, White Trash – The 400-year untold history of class in America. Atlantic Books 2017, p 285.