sábado, 19 de outubro de 2024

LEITURAS À MARGEM

White Trash - A história não contada de 400 anos de classes na América (42)

“O poder (seja ele social, económico ou meramente simbólico) raramente é sondado. Ou, se o é, nunca se torna um imperativo nacional tão urgente que exija uma resolução generalizada, satisfazendo simultaneamente um imperativo moral e perseguindo uma causa prática. Sabemos, por exemplo, que os americanos têm resistido vigorosamente ao alargamento do direito de voto; os detentores do poder têm negado o direito de voto aos negros, às mulheres e aos pobres de inúmeras formas. Sabemos também que, historicamente, as mulheres têm tido menos proteção civil do que as empresas. vez de uma democracia completa, os americanos têm-se contentado com a encenação democrática: Em retórica de alto nível, ampliada, e líderes políticos que se aperaltam em churrascos ou saem para caçar. Vemo-los de calças de ganga, camuflagem, chapéus de cowboy e bonés Bubba, tudo num esforço para parecerem pessoas comuns. Mas os presidentes e outros políticos nacionais são tudo menos pessoas comuns depois de serem eleitos. Disfarçar esse facto é a verdadeira camuflagem que distorce a verdadeira natureza de classe do poder do Estado. As atuações teatrais dos políticos que prometem falar em nome de um 'povo americano' nada fazem para pôr em evidência a história da pobreza. O rendeiro com a sua mula e o seu arado não é uma imagem romântica a reter na memória histórica. Mas esse indivíduo é tão importante para a nossa história como qualquer guerra que tenha sido travada ou qualquer eleição que tenha sido disputada com grande intensidade. O inquilino e a sua barraca devem permanecer connosco como um símbolo duradouro de trégua social.”

Nancy Isenberg, White Trash – The 400-year untold history of class in America. Atlantic Books 2017, pp 311-312.

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