sexta-feira, 18 de outubro de 2024

LEITURAS À MARGEM

White Trash - A história não contada de 400 anos de classes na América (41)

“Em 1980, Carter perdeu para Ronald Reagan, um homem que percebia muito pouco da cultura sulista, mas sabia tudo o que precisava para criar uma imagem. A sua Casa Branca assumiu os contornos de um cenário glamoroso de Hollywood. Reagan podia fazer de irlandês quando visitava Ballyporeen, em County Tipperary; podia usar um chapéu de cowboy e montar um cavalo, como fez num dos seus filmes mais conhecidos, Santa Fe Trail. O ‘presidente ator’ tinha uma competência que poucos políticos possuíam, na medida em que estava treinado para produzir falas comoventes, ter boa aparência para a câmara e projetar o tom e a emoção desejados. Uma vez que a verdadeira eloquência tinha morrido com o advento da televisão, Reagan era menos o ‘grande comunicador’ que os seus adoradores afirmavam do que um ator com ‘reflexos mediáticos’ cuidadosamente aperfeiçoados. Chegou ao cargo rejeitando tudo o que Carter representava: o Sul rural, o homem comum, a imagem do americano caseiro de pés descalços e calças de ganga. Reagan ficava fantástico num smoking. Em 1980, correu o boato de que Nancy Reagan dizia às suas amigas que os Carter tinham transformado a Casa Branca numa ‘pocilga’. Aos seus olhos, eles eram lixo branco e todos os vestígios deles tinham de ser apagados.”

Nancy Isenberg, White Trash – The 400-year untold history of class in America. Atlantic Books 2017, p 285.

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