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- «O engenheiro florestal Tiago Martins Oliveira, quadro da empresa The Navigator Company, foi nomeado pelo primeiro-ministro António Costa para o cargo de presidente da Estrutura de « Integrada de Fogos Rurais, criada na sequência do Conselho de Ministros extraordinário de 21 de outubro. Ao longo dos últimos 20 anos, Oliveira desempenhou vários cargos diretivos no Grupo Portucel Soporcel que entretanto foi rebatizado como The Navigator Company. Pelo meio – e sem qualquer período de nojo – exerceu as funções de adjunto do secretário de Estado das Florestas (João Manuel Soares) do Governo liderado por Durão Barroso (entre 2003 e 2004) e adjunto do ministro da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas (Jaime Silva) do Governo liderado por José Sócrates (entre 2005 e 2006). No interregno das funções no perímetro governamental, Oliveira foi coordenador executivo da proposta técnica do Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios (PNDFCI) para o Instituto Superior de Agronomia, encomendado em 2004 pelo Governo de Pedro Santana Lopes. A Navigator é uma das principais empresas portuguesas da fileira do eucalipto (a par da Altri, cujo presidente executivo detém o grupo de comunicação social Cofina).» JE. Mais uma raposa no galinheiro. Portucel-Soporcel (rebaptizada Navigator Company) e Altri acabam de reforçar o controlo do eucaliptal em que Portugal se quer tornar. Nunca João Camargo foi tão lúcido como neste texto publicado na Sábado de 23 de outubro, de onde reproduzimos, a seguir, excertos.
- «(...) As grandes responsabilidades de Cristas em matéria florestal tornam este pedido de queda do governo numa espécie de paródia de regime, que tem como paralelo a demissão solteira de Constança Urbano de Sousa. A responsável pelo combate aos incêndios, com responsabilidades efectivas na tragédia, demitiu-se sem ter havido qualquer alusão ao responsável pela Agricultura e Florestas, Capoulas Santos. Isto mostra-nos que pouco ou nada mudará na floresta. As celuloses continuam a ter um poder absoluto sobre o centrão político, e mesmo a morte de mais de uma centena de pessoas não lhes tirou o poder de mando e desmando na área. Ainda sobre as cinzas fumegantes dos incêndios de 15 de Outubro, Cristas tenta capitalizar sobre o descontentamento popular na esperança que as suas grandes responsabilidades no tema já tenham sido esquecidas. A falta de noção da moção não pode no entanto esconder as responsabilidades partilhadas entre sucessivos governos. (...) Até ao final do mandato do governo anterior, foram autorizadas arborizações de eucaliptos num total de 4620 hectares. Com as eleições de 2015 e o novo arranjo parlamentar, o governo do PS apoiado no Parlamento pelo BE, PCP e PEV cedo assumiu uma retórica contra a monocultura do eucalipto e contra a lei de Assunção Cristas. Inclusivamente fez parte do acordo parlamentar com o Partido Ecologista os Verdes a revogação do DL 96/2013. Apesar do acordo de governo, saíram recentemente os números de autorizações para arborização com eucaliptos e Capoulas Santos consegue bater Assunção Cristas (...) sob o seu ministério, já foram aprovados 6050 hectares de arborizações com eucaliptos. Após os incêndios de Pedrógão, em Junho, ocorreu uma "reforma florestal". Uma vez mais a lei dos eucaliptos não foi revogada mas introduziu-se um processo de permutas cujo objetivo declarado seria o "congelamento da área de eucaliptal", mas que na verdade permitirá transferir as áreas de eucalipto para o noroeste do país (que entretanto ardeu de forma massiva há poucos dias), área com maior disponibilidade de água e melhores condições climáticas futuras, enquanto o interior sofre a desertificação. O recente Conselho de Ministros introduziu algumas medidas interessantes do ponto de vista do combate (embora claramente insuficientes), mas alucinantes do ponto de vista da floresta, nomeadamente o apoio e investimento em biorrefinarias e centrais a biomassa, ignorando haver já hoje o dobro da capacidade instalada em termos industriais, em relação à biomassa florestal residual disponível (o que deixa a dúvida acerca de onde virá a matéria-prima e aponta claramente para a intensificação do modelo florestal extractivo que deu origem ao ponto onde estamos hoje, a perder floresta a um ritmo de 10 mil hectares por ano). (...) O eucalipto representa o oportunismo económico tão apreciado pelas elites económicas que viram na urbanização, no minifúndio e na litoralização do país a oportunidade para explorar e dinamizar o abandono com uma árvore de deserto e uma economia puramente extractivista. Mesmo hoje, com as consequências tão evidentes da escolha do eucalipto como árvore do regime nas últimas décadas, as celuloses e o seu exército de defensores consegue manter o tema tão protegido que ninguém se lembra sequer de pedir a cabeça de Capoulas Santos quando ardem 500 mil hectares de florestas. Porque seria preciso pedir a sua e a de todas e todos os ministros da Agricultura e Florestas, condicionados ou directamente comandados pela Portucel-Soporcel (rebaptizada Navigator Company) e pela Altri, que escolheram como futuro o presente que temos hoje para a floresta e populações rurais em Portugal - abandono, incêndios catastróficos, desertificação. É mais fácil pedir um despedimento que, embora merecido, não mexe com o essencial de nenhuma estrutura económica, e Constança demite-se pelo regime. Marcelo aplaude as medidas e as reformas. O PSD também. A paz na floresta foi comprada. Com as decisões tomadas em 2017 não existe qualquer modificação estrutural em relação ao passado. Por isso, quando estiverem novamente condições climáticas extremas (que ocorrerão cada vez mais e tornar-se-ão "normais"), manteremos estruturalmente a probabilidade elevada para novas tragédias.» João Camargo in Sábado 23out2017.
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