sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Reflexão - «O manual empresarial de falsas soluções para a crise do plástico»

Este relatório investiga as táticas da indústria face a uma crise de poluição por plástico sem precedentes e à crescente pressão pública para a resolver.

Com base em pesquisas e investigações em mais de 15 países de cinco continentes, é revelado como, por detrás de um véu de iniciativas e compromissos atraentes, a indústria passou décadas a obstruir e a tentar enfraquecer soluções legislativas comprovadas.

Fizemos uma análise crítica dos compromissos voluntários dos maiores poluidores por plástico, examinámos as iniciativas coletivas mais significativas (algumas delas promovidas por governos e organizações não governamentais) e revelámos como as empresas ao longo da cadeia de distribuição do plástico atuam nos bastidores – da indústria petrolífera às marcas de consumo e distribuição.

Os nossos estudos de caso mostram que as iniciativas voluntárias não só falharam em conter a crise do plástico, mas também têm sido utilizadas pelas empresas como tática para atrasar e obstruir uma legislação progressista, enquanto distraem consumidores e governos com promessas vazias e falsas soluções.

Principais conclusões dos estudos de caso

Nos Estados Unidos, a indústria conseguiu transferir o ónus e a responsabilidade da poluição por plástico das empresas para os consumidores e entidades públicas, enquanto promovem a reciclagem como desculpa conveniente para produzir ainda mais plástico. Falsos grupos ambientais e números crescentes de iniciativas voluntárias são usadas para desviar responsabilidades, enquanto legislações como a proibição de sacos de plástico e a regulamentação de embalagens têm sido, durante anos, fortemente combatidas.

Na Europa, investigamos os esforços da indústria ao nível da União Europeia para enfraquecer e atrasar a Estratégia da UE para os Plásticos e a Diretiva SUP da UE. Também olhamos em detalhe para alguns estudos de caso na Europa, incluindo as tentativas da Coca-Cola de eliminar sistemas de retorno de depósitos na Escócia; esforços de distribuidores, produtores de bebidas e organizações de responsabilidade dos produtores para pôr em causa sistemas de retorno de depósitos na Áustria, Espanha e República Checa; e uma oportunidade perdida na França, onde objetivos de reutilização foram introduzidos sem a existência de sistemas suscetíveis de os realizar em grande escala.

• Na Ásia, analisámos a China e o Japão.

A primeira abalou o mundo dos resíduos em 2018 ao proibir as importações de resíduos de plástico. Isto contrasta com uma ação limitada por parte das empresas, com o único foco em limpezas e uma série de compromissos de mudança para alternativas biodegradáveis e compostáveis.

No Japão, apesar do elevado nível de envolvimento dos cidadãos na recolha separada, há pouca consciência de que a maioria dos resíduos é, na realidade, incinerado ou exportado. Além-fronteiras, o governo está também a promover tecnologias de incineração problemáticas e plásticos de base biológica, biodegradáveis e compostáveis como parte das suas “soluções” de ajuda externa.

À medida que as organizações não governamentais e os jornalistas têm aprofundado as suas investigações e exposto os seus truques, as grandes empresas - e a rede de organizações por elas apoiada - tornaram-se cada vez mais sofisticadas no seu jogo de engano. Escondem-se atrás de compromissos atraentes e colocam recursos aparentemente significativos em procurar soluções - mas, como este relatório mostra, isso não passa de uma ilusão. A grande maioria dos seus compromissos centram-se na reciclabilidade, mas lutam contra soluções comprovadas que as facilitem.

Muitos materiais - não apenas o plástico - podem ser reciclados (e reutilizados), e a indústria poderia adotar esses tipos de embalagens, em combinação com sistemas de depósito que permitissem aos consumidores devolvê-los. Em vez de abraçar essas soluções, a indústria aumentou a quantidade de plásticos flexíveis e multicamadas baratos (como wraps e bolsas) que são impossíveis de reciclar, e recentemente começou a promover a reciclagem química, uma técnica não comprovada e prejudicial, como uma “solução”. Quando a reciclagem química inevitavelmente falhar, o mundo terá perdido várias décadas de progresso potencial na luta contra a poluição por plásticos.

As conclusões deste relatório são, sem dúvida, apenas a ponta do iceberg. No entanto, elas mostram como a indústria funciona - mobilizando-se rapidamente para parar qualquer tentativa de regular ou restringir o uso de plásticos, fazendo lóbi contra legislação, apostando no “greenwashing” através de compromissos que se concentram em soluções de fim de ciclo de vida, e transferindo a responsabilidade para os consumidores.

Fonte.

Este é um tema há muito abordado pelo Ambiente Ondas3. Para aprofundar a temática, pode consultar os seguintes postes, abaixo listados por ordem cronológica da sua publicação:

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