quarta-feira, 13 de maio de 2020

Reflexão - «Estamos a engordar a indústria do plástico»


Grupos ambientalistas alertam para o caos que se verifica no tratamento de resíduos plásticos, especialmente nos plásticos associados a produtos sanitários.

A crise da covid-19 fez com que produtos sanitários de uso único como luvas de plástico, toalhetes, máscaras e recipientes descartáveis, invadissem as casas como uma barreira de proteção contra o contágio. A catarse do vírus deixou menos contaminação e mais espaço para os peões nas cidades, mas há enormes riscos no tratamento de resíduos e em projetos que os políticos reativam aproveitando a crise.
A Greenpeace sublinha que se verifica uma diminuição da reciclagem em estações de tratamento, um aumento de resíduos destinados a aterros e incineradores, um expansão de aterros e até atrasos na transposição de diretrizes europeias devido à pressão da indústria.
Segundo a Ecoembes, os resíduos dos contentores amarelos aumentaram 15%, após o governo espanhol ter feito deles o depósito de máscaras e luvas de plástico. Como não há capacidade para gerir estes resíduos, eles acabam muitas vezes em aterros comuns ou em incineradoras.  Além disso, muitos cidadãos abandonaram as suas boas práticas e deixaram de separar resíduos e receia-se que a indústria aproveite a ocasião para dar um passo atrás em relação a todos os pequenos progressos feitos até agora. 

«Estamos a engordar a indústria do plástico. Eles dizem-nos que usar e descartar é mais seguro, mas o vírus pode permanecer latente e ativo em qualquer superfície plástica», explica Julio Barea, da Greenpeace. O ecologista lembra que a crise também fez com que o preço do petróleo caísse, tornando a produção mais barata, recordando, no entanto, que o Parlamento Europeu votou pela proibição de plásticos descartáveis a partir de 2021. 
É, por isso, lamentável saber que o setor petroquímico está a pressionar Bruxelas para abrandar as medidas contempladas nessa diretiva.
A Greenpeace alerta que as preocupações com a higiene fizeram aumentar em 49% o consumo de toalhetes húmidos para a limpeza das mãos desde o início da pandemia. «Nenhum é biodegradável, é mentira que o seja, eles têm compostos microplásticos», explica Julio Barea. O ativista alerta para o desastre que esse aumento pode causar no futuro, tanto no entupimento das redes de esgotos, como no meio ambiente quando atingir a natureza.
Sara Montero, Cuarto Poder.


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