«(…) É preciso acautelar caudais, aquíferos e a reutilização, promovendo “fábricas de água” (Portugal só reutiliza cerca de 1,5% das suas águas residuais), uma política da economia circular da água, e sobretudo o seu uso sustentável.
(…) estamos muito longe de garantir as metas de separação e reciclagem a que nos comprometemos. Desde logo, porque um sistema de gestão com taxas demasiado baixas estimulou o contrário daquilo que era necessário: tornou-se barato enviar os RU para aterro ou incineração, o que contribuiu para abrandar a reciclagem. Esta perversa situação nota-se bem nos plásticos e é muito grave nos resíduos elétricos e eletrónicos, não só pelo incumprimento das metas como pelos impactos ambientais e de saúde pública que a deposição destes resíduos implicam. É, pois, preciso concertar urgentemente toda a cadeia do processo — desde o fabricante ao consumidor, passando por um tipo de recolha cada vez mais adequado, ou seja, porta a porta.
(…) Mas o que temos hoje é o estado lastimável em que se encontram as estruturas administrativas do atual Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e a visível delapidação do nosso património de biodiversidade e paisagístico devido aos incêndios, à urbanização, à agricultura intensiva e a muitos outros abusos dos recursos naturais. Sobretudo nos últimos 12 anos, e mais ainda no governo da troika, as funções mínimas e básicas das AP deixaram de ser asseguradas, arruinando o próprio sentido da figura de ‘área protegida’.
(…) a gestão das florestas, cujo impulso depois da tragédia de 2017 corre o risco de ficar esmorecido se não se der continuidade e reforço às iniciativas que foram tomadas ou anunciadas.
(…) Em perigo está também a nossa linha de costa. O desordenamento do território e o caos administrativo na faixa litoral permitiram uma ocupação insana, incluindo em zonas de vulnerabilidade extrema, expostas à erosão, subida do mar e tempestades de intensidade crescente.
(…) a subordinação da vida urbana à dinâmica da especulação imobiliária — desde a expulsão dos habitantes para as periferias até à transformação das cidades em aeroportos, hotéis e alojamentos turísticos. Num frenesim constante, tudo se agrava: do ar ao ruído, do lixo aos usos do espaço público. Sem uma política de solos e de habitação consistente, as cidades podem acabar por esvaziar a sua razão de ser e a sua base vital. (…)o país precisa como de pão para a boca, ou melhor, como de ar para os pulmões, de aproveitar fundos e dotar-se finalmente de uma rede pública de comboio e de metro e de redes diversificadas de mobilidade limpa. (…)»
Luísa Schmidt, in Políticas de ambiente: o que há e o que falta? – Expresso.
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