terça-feira, 31 de agosto de 2021

Bico calado

Boris Johnson treina o seu gabinete para recitar, em uníssono, as frases feitas para manipular a verdade.

  • O Reino Unido transfere a sua embaixada afegã para o Qatar, sede do gabinete político dos Talibãs e fonte do maior apoio armado aos extremistas sírios e líbios nos últimos anos.  Sam Clark, iNews.
  • Antigos generais e políticos eleitos estão a inundar os media para exigir que os EUA continuem a sua ocupação do Afeganistão, omitindo as suas relações com as empresas de defesa que lucraram muito com a guerra. Jaisal Noor, The Real News.
  • «(…) Uma autoproclamada “elite” persiste, no entanto, em escrever na antiga ortografia, marca para ela de pertença à “boa sociedade”, preferindo esquecer (ou ignorar) que esta antiga ortografia é fruto de acordos assinados em 1911, 1943, 1945 e 1971. Mas a dita “elite” não quer ver isso, quando a simples consulta de uma publicação (livro, jornal, cartaz) de fins do século XIX põe em evidência a evolução ortográfica (e lexicográfica, bem entendido) da língua portuguesa. Curiosamente, esta mesma autoproclamada “elite” purista não diz nada da avassaladora invasão da terminologia inglesa na versão estado-unidense. Não só adotando termos recentes para os quais as autoridades em matéria de linguística não acharam por bem criar adaptações à língua portuguesa (caso do inglês “football” para o português “futebol”, por exemplo). Mas, o que é ainda muito mais chocante, substituindo cada vez mais termos portugueses precisos por termos ingleses (“em linha” por “on line”, “sítio” por “site”, “[tele]carregamento” por “download”, “classiÆcação” por “ranking”, “notação” por “rating”, “vale” por “voucher”.(…)» Nobre Correia, Ainda se fala e escreve português neste país? – Público 30ago2021.
  • «Seria exagerado dizer que este homem [ThomasThistlewood, um proprietário de escravos na Jamaica] é o protótipo dos britânicos imperiais. Mas a sua dissonância cognitiva, a sua capacidade de compartimentação, a sua recusa em aceitar a realidade brutal do que estava a fazer, mesmo quando cultivava um comportamento sofisticado, sugerem um padrão psicológico que é comum nas abordagens britânicas à escravatura. Vê-se na forma como o Oxford Dictionary of National Biography evita a frase "proprietário de escravos" a favor de expressões eufemísticas como "proprietário de plantações" e "mercador das Índias Ocidentais", enquanto que a escravatura é descrita como possuindo "propriedade considerável na Jamaica". É evidente quando se lê historiadores descrevendo proprietários de escravos como "aventureiros" e o sistema de escravatura como "agricultura de plantação", e usando termos eufemísticos como "apropriação" e "importação" quando se referem a roubo, rapto e escravidão forçada. E pode ver-se exemplos de tais dissonâncias cognitivas nas atitudes britânicas em relação ao império em geral. (...) Como quando o primeiro-ministro David Cameron declarou, ao visitar a cidade indiana de Amritsar, palco do infame massacre de 1919, 'penso que há um enorme orgulho naquilo que o império britânico fez e pelo que foi responsável'. E também como quando Liam Fox afirmou que ‘o Reino Unido é um dos poucos países na Europa que não precisa de enterrar a sua história do século XX». Sathnam Sanghera, Empireland – Penguin 2021.
  • «Afirma o embaixador da UE no Reino Unido, o português João Vale Almeida, numa entrevista ao DN, que os "Estados Unidos JÁ não querem ser a polícia do mundo". (…) Os Estados Unidos, como qualquer império, nunca quiseram ser polícia e nunca foram. Representaram o papel de potência imperial, e, como aconteceu com outros impérios, estão a ser ameaçados por competidores (a China, sobretudo) e a concentrar forças para defender as áreas e os pontos que lhes parecem vitais para os seus interesses. A ideia do embaixador de que os Estados Unidos se estão a transformar de polícia de choque em assistentes sociais e cuidadores informais, em escuteiros é pueril e não abona muito ou da honestidade intelectual do senhor, ou da sua capacidade para ler a história e a realidade.» Carlos Matos Gomes.

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