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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Açores: EUA abandonam base aérea das Lajes e deixam para trás resíduos cancerígenos

Os EUA abandonam a base aérea dos Açores e deixam para trás resíduos cancerígenos que recusam tratar, titula uma reportagem da RT.

A versão em língua portuguesa pode ser vista aqui na íntegra.

Os norte-americanos estão a abandonar a base aérea das Lajes, onde permaneceram durante 75 anos. Os terceirenses exigem a descontaminação do local, responsável, segundo cientistas, por vários casos de cancro, mas Washington discorda. 
«Os meus pais morreram de cancro. E quando eu tinha 33 anos diagnosticaram-me cancro da mama», diz Madail Ávila«É uma coincidência muito grande existirem tantos casos de cancro no seio da mesma família e na mesma área geográfica».
As queixas de pessoas como Madail Ávila são apoiadas por estudos realizados tanto pelos próprios americanos como por investigadores portugueses. «Há uma série de locais com níveis extremamente elevados de poluição causados por metais pesados, hidrocarbonetos ou PCBs», diz Félix Rodriguesprofessor de Física na Universidade dos Açores e político local(CDS-PP). «Em certas concentrações podem causar esterilidade, cancro, arritmia... Estes materiais entram na cadeia alimentar e acumulam-se nos corpos. Estamos a enfrentar venenos escondidos debaixo do tapete». Por exemplo, Rodrigues sublinha que 88 mil litros de combustível foram despejados só na década passada, e diz que o solo está 50 vezes mais contaminado do que os limites estabelecidos pelas diretivas ambientais dos principais países ocidentais.
Norberto Messias, professor de Saúde na Universidade dos Açores, diz que vizinhos da base aérea têm quatro vezes mais tumores oculares que o resto da população dos Açores. «Não temos material genético diferente, não temos uma cultura diferente, não temos hábitos alimentares diferentes, somos iguais a qualquer português. A única coisa que nos diferencia é a poluição das Lajes. A minha convicção é que existe um link», diz Messias, que está a coordenar um estudo da população local.
Há muito que os americanos conheciam os impactos da sua saída. Um relatório de 2003 referia  a existência de, pelo menos, 35 sítios contaminados na Terceira, e que ainda não foram descontaminados. Orlando Lima, um trabalhador da base, diz que o pessoal dos EUA também estava preocupado com os impactos na saúde pessoal e que, pelo menos uma vez, testemunhou a chegada de uma comissão para investigar a alegação de um ex-colaborador que havia contraído cancro terminal em resultado do seu serviço lá.

Em 2015, ficou estabelecido que os EUA pagariam, durante 15 anos, 205 milhões de dólares (167 milhões de euros) para mitigar a sua saída da base, sendo 100 milhões de euros aplicados anualmente na preservação ambiental. Mas até agora Washington não orçamentou nada. Em vez de indemnizações, os responsáveis americanos sugerem promover o turismo através da implantação de hotéis nos Açores.
Félix Rodrigues não acredita que a administração Trump avance com verbas uma vez que a Terceira pode ser substituída por qualquer outro sítio onde eles vão poder fazer o mesmo. «Isto é um inferno que se repete em várias ilhas que são ocupadas pelos americanos. Esta é quase uma política de terra queimada, onde os problemas se acumulam e o governo regional não reage, a população não tem capacidade para tomar uma posição», diz. 
Para Madail Ávila, cujo cancro de mama está agora em remissão, qualquer decisão que venha a ser tomada não será uma questão de política, mas de sobrevivência - tanto para ela como para a família. «Quero criar os meus filhos num lugar onde tenha a garantia de que lhes posso dar uma boa qualidade de vida. E esta é uma dúvida que tenho.»
Citada pela Sputnik News, a Drª Helen Caldicott considera que é urgente resolver esta grave situação de saúde pública. Caldicott fundou a Physicians for Social Responsibility, uma organização que venceu o prémio Nobel da Paz em 1985.

Nota: Em 17 de maio de 2017, este tema foi objeto de reportagem especial no Diário Insular, tendo o Ambiente Ondas3, em devido tempo, feito a devida referência.

Subsídios para melhor contextualizar o problema:

  • https://onda7.blogspot.pt/2015/02/bico-calado_11.html
  • https://onda7.blogspot.pt/2018/02/faro-revisao-do-pdm-favorece-o-turismo.html

2 comentários:

OLima disse...

ANÁLISE E ACOMPANHAMENTO DOS TRABALHOS
DE REABILITAÇÃO PARA MELHORIA DA SITUAÇÃO
AMBIENTAL ENVOLVENTE AOS FUROS DE
ABASTECIMENTO DE ÁGUA DO CONCELHO DE
PRAIA DA VITÓRIA, AÇORES
Relatório Final
LNEC 2013
http://rea.azores.gov.pt/store/asa-terceira/LNEC_407_2013%E2%80%93DHA_NRE.pdf

OLima disse...

Um relatório produzido pelo Instituto de Investigação e Tecnologias Agrárias e do Ambiente da Universidade dos Açores, para a direção regional do Ambiente, revela que há um risco acrescido de desenvolvimento de doenças, incluindo cancro, em vários locais contaminados por hidrocarbonetos e metais pesados no concelho da Praia da Vitória.
Este relatório, intitulado "Análise da situação relativa à contaminação da Base das Lajes", foi entregue ao DI por funcionários da Câmara Municipal da Praia da Vitória, que não compreendiam as fórmulas utlizadas. O chefe de redação do DI, Armando Mendes, pediu ao investigador da Universidade dos Açores Félix Rodrigues que as interpretasse.
O relatório apresenta as fórmulas, mas não produz conclusões. Aliás, o documento aposta na recomendação de "ações e medidas a desenvolver".
Os riscos para a população existem, como avança Félix Rodrigues, numa resposta por escrito. "Olhando para esses dados e tendo em conta as avaliações de risco de desenvolvimento de doença cancerígena, conclui-se para o South Tank Farm, que o contacto dérmico com o solo e a ingestão de vegetais aí cultivados produz um risco cumulativo de pelo menos 31 vezes superior ao normal, no caso mais otimista, ou de 310 vezes superior ao normal tendo em conta a referência que os autores utilizam. Se houvesse ingestão da água desse aquífero, especialmente a jusante, o risco avaliado seria no mínimo 20 vezes superior ao normal no caso mais otimista e 200 vezes superior ao que os autores usam como referência. Não existem riscos acrescidos por inalação de compostos voláteis", sustenta.
Acrescenta que "a perigosidade desse local (efeitos não cancerígenos) é 7,3 vezes superior ao normal para o contacto dérmico e ingestão de vegetais e 310 vezes superior ao normal se alguém decidir beber água desse local. O perigo de inalação de compostos voláteis no interior das habitações no local sobe para 8,9 vezes o valor normal".

https://www.facebook.com/1292030152/posts/10213649193406098/?sfnsn=mo