É o que parece ter acontecido em Davos, na cerimónia de abertura do Fórum Económico Mundial.
O Príncipe William «entrevistou» David Attenborough, o Rei de programas de TV sobre vida selvagem. Falaram das alterações climáticas e de outras questões ambientais. A meia hora de conversa soou a déjà-vu, as generalidades foram proferidas como se tivessem sido escritas e ensaiadas previamente.
Tudo isto depois de, uma semana antes, ambos terem protagonizado a antestreia absoluta do primeiro episódio de uma nova série do Planeta Azul perante um grupo de crianças. Não terá toda esta encenação tido um dedinho da BBC e da Netflix?
Attenborough pode bem ter pedido aos líderes mundiais presentes para tomarem medidas de combate às alterações climáticas, mas isso só terá sido para a fotografia. Duvido que esses líderes o tenham ouvido e, sensibilizados, tenham decidido alterar a sua postura. Convém referir que, todos os anos, em janeiro, milhares de políticos, lobistas e homens de negócios concentram-se nesta estância de esqui e privilegiam o transporte em jato particular. Previam-se, este ano, 1500 voos privados de entrada e saída dos aeroportos que servem Davos. Muitos terão pago 11 mil euros pela viagem de helicóptero entre o aeroporto e o Fórum.
Outro «artista» na ribalta de Davos foi Bolsonaro. «Somos o país que mais preserva o meio ambiente», afirmou o presidente do Brasil no seu discurso.
«Nenhum outro país do mundo tem tantas florestas como nós. A agricultura se faz presente em apenas 9% do nosso território e cresce graças a sua tecnologia e à competência do produtor rural. Menos de 20% do nosso solo é dedicado à pecuária. Essas commodities, em grande parte, garantem superávit em nossa balança comercial e alimentam boa parte do mundo. Nossa missão agora é avançar na compatibilização entre a preservação do meio ambiente e da biodiversidade com o necessário desenvolvimento econômico, lembrando que são interdependentes e indissociáveis.»
A agenda desenvolvimentista de Bolsonaro não engana ninguém: ele quer reduzir o aparelho de Estado para reduzir o controlo sobre o Ambiente, nomeadamente a floresta amazónica, permitindo o avanço inexorável de todo o tipo de patos-bravos sedentos da privatização de um imenso recurso natural tão útil na harmonização do Clima. Por isso, transferiu serviços do ministério do Ambiente para o da Agricultura, que é controlado pelo lóbi do agronegócio.
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