Reuters/BBC.
Um grupo de manifestantes indígenas tentou forçar a entrada na Cimeira do Clima, protagonizando provavelmente a ação mais grave registada numa cimeira climática. A segurança ao serviço da ONU controlou a agitação, exercendo alguma violência exagerada, segundo alguns observadores.
Mas o que terá motivado este protesto?
Os ativistas indígenas protestam na COP30, tal como fizeram em cimeiras anteriores, por razões fundamentais e urgentes relacionadas com a sua sobrevivência, direitos e papel único como guardiões do planeta. Os seus protestos não são contra o conceito da conferência climática em si, mas contra a inação, as falsas soluções e a exclusão que consistentemente enfrentam no processo. Embora os representantes indígenas sejam cada vez mais convidados a discursas, muitas vezes sentem que as suas vozes não são genuinamente ouvidas ou incorporadas nos acordos finais e vinculativos. São incluídos para dar uma boa imagem, mas são marginalizados quando as decisões reais são tomadas por governos poderosos e interesses corporativos.
Os grupos indígenas protestam geralmente contra o que chamam de «soluções falsas» promovidas nas cimeiras climáticas. Por exemplo, consideram que os mercados e compensações de carbono são esquemas que permitem que os poluidores continuem a poluir comprando «créditos», muitas vezes reivindicando terras em territórios indígenas para projetos como plantações de árvores, o que pode levar à apropriação de terras e violar os seus dirPor outro lado, os projetos ecológicos em grande escala, a pressão por energia «verde», como enormes barragens hidroelétricas, vastos parques solares ou mineração de minerais críticos (lítio, cobalto), muitas vezes ocorre nas suas terras sem o seu consentimento livre, prévio e informado, forçando a sua deslocalização e provocando danos ambientais.
Os povos indígenas estão entre os primeiros e mais gravemente afetados pelas alterações climáticas, apesar de serem os que menos contribuem para o problema. A sua dependência direta de ecossistemas saudáveis para alimentação, medicina e cultura torna-os muito vulneráveis a secas, inundações, desflorestação e perda de biodiversidade. Os territórios indígenas são as partes mais bem preservadas da Amazônia, mas estão sob constante ameaça do desmatamento ilegal, da mineração e do agronegócio. Eles protestam para exigir a demarcação e o registo de terras como a forma mais eficaz de proteger essas florestas vitais. Os defensores indígenas da terra e do ambiente enfrentam intimidação, violência e assassinatos a um ritmo alarmante. Eles protestam para exigir justiça e proteção para as suas comunidades e líderes.
Uma mensagem central dos protestos indígenas é que eles não são apenas vítimas que pedem ajuda; eles consideram-se parceiros essenciais, com o conhecimento e as práticas necessárias para resolver a crise. Os povos indígenas administram ou possuem direitos de posse sobre terras que abrigam cerca de 80% da biodiversidade mundial. O seu conhecimento tradicional e práticas sustentáveis têm-se mostrado uma das formas mais eficazes de proteger florestas e ecossistemas. Um dos principais pontos de protesto é que muito pouco do financiamento climático chega diretamente às comunidades indígenas. Elas exigem que o financiamento contorne os canais governamentais corruptos ou ineficientes e vá diretamente para as suas comunidades, a fim de apoiar os seus próprios projetos de conservação e resiliência.
Além disso, as cimeiras climáticas estão cheias de promessas e compromissos que muitas vezes não são cumpridos. Os ativistas indígenas protestam para pressionar os líderes e expor a discrepância entre a retórica e a realidade. Os seus protestos são uma ferramenta poderosa para denunciar publicamente determinados governos e empresas que estão a promover projetos destrutivos nas suas terras.
Finalmente, a atenção do mundo estará voltada para a necessidade urgente de salvar a Amazônia antes que ela chegue a um ponto sem retorno. Os grupos indígenas da Amazônia querem garantir que o seu papel central nessa missão seja reconhecido e financiado. Embora o governo do presidente Lula seja muito mais favorável aos direitos indígenas e ao meio ambiente do que o seu antecessor, os ativistas protestaram exigindo ações mais rápidas na demarcação de terras e contra os poderosos lóbis do agronegócio e da mineração que ainda operam no Brasil.
Em suma, os ativistas indígenas protestaram na COP30 para dizerem que não há solução para as crises climática e da biodiversidade sem eles. Respeitem os seus direitos, reconheçam as suas terras, incluam-nos na mesa de decisões e financiem as suas soluções. A sua sobrevivência e a sobrevivência do planeta estão interligadas. Os seus protestos são uma parte vital, poderosa e necessária da luta por um futuro habitável.

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