quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

BICO CALADO

Foto: Xinhua/Rex/Shutterstock

  • Há 10 anos Victoria Nuland, do Departamento de Estado norte-americano, impaciente com os líderes europeus sobre a Ucrânia, disse ao telefone "que se foda a UE"Na chamada, conversava com o embaixador dos EUA em Kiev sobre qual deveria ser o governo depois da queda de Viktor Yanukovych.
  • Pelo menos 9 deputados conservadores do Reino Unido aceitaram doações do lóbi pró-Israel desde o início da guerra genocida de Israel em Gaza. JOHN MCEVOY, Declassified UK.
  • Cristina Pedra assume cargo de presidente da Câmara do Funchal. David Pedra, o pai de Cristina Pedra em escuta telefónica feita em 2002 pela Polícia Judiciária do Funchal, confirma a fraude à Empresa de Trabalho Portuário. O senhor levava os trabalhadores da empresa pública  para trabalhar na casa dele e eram pagos pelos Portos.

  • O que estamos a testemunhar hoje em Gaza é o resultado da normalização da colonização sionista da Palestina pela ONU e do estabelecimento de Israel no território palestiniano em 1948. Para exacerbar as consequências da colonização, a ONU determinou que os colonatos estabelecidos depois de 1967 são ilegais ao abrigo do direito internacional, o que significa que os primeiros colonatos foram isentos de escrutínio e a colonização tornou-se apenas uma série de violações do direito internacional separadas do processo de concretização do conceito sionista de “Grande Israel”. O próprio Tribunal Internacional de Justiça foi incapaz de apelar a um cessar-fogo, que é um passo preliminar prático para travar o genocídio de Israel. Poucas horas após a decisão do TIJ, Israel lançou um ataque à UNRWA que levou vários países ocidentais, muitos dos quais são grandes doadores, a cortar o financiamento à agência, levando a um dos mais visíveis atos de cumplicidade no genocídio de Israel contra os palestinos até agora.” Ramona Wadi, MEM.
  • “ (…) As redes sociais foram uma grande ajuda para essa perda de influência. No entanto, ao fazer delas a nossa própria fonte de noticias, de temas, opiniões e agitação informativa, contribuímos para lhes atribuir um estatuto que não tinham. Enchemos páginas, minutos e horas de emissão com milhares de casos plasmados das redes. Acríticos e fascinados, sucumbimos ao poder de fogo de uma realidade que nos ultrapassava e que não é permeável a critérios jornalísticos. (...) o que é mais difícil de aceitar é que camaradas aceitem, ou se sintam obrigados a aceitar, condições inviáveis para o exercício da profissão e as imponham às suas redacções, sabendo que tal terá efeitos na degradação do qualidade do trabalho produzido. (...) Directores, coordenadores, editores, os cargos de chefia, fomos sempre cúmplices de uma lógica de despedir, não renovar e substituir o melhor pelo menos mau. Abdicámos de profissionais com carreira e saber para poder contratar mão de obra barata, sem nos interrogarmos se não estaríamos apenas a adiar um problema. Poucos são os grandes projectos de jornalismo que sobreviveram e recuperaram desta esta lógica suicida. (...) Não podemos ignorar que ao longos das últimas décadas fomos os únicos responsáveis por todos os atentados aos mais básicos princípios do jornalismo. Violámos todos os códigos éticos para ganhar vantagem, para conseguir mais um “exclusivo de primeira mão”. Foram muitos os exemplos que minaram o nosso património de respeito e credibilidade, agora tão pouco valorizado. Fomos nós que o fizemos, não os gestores, não o mercado. (...) Se de uma forma geral a oferta jornalística é cada vez mais superficial, espectacular, pouco sustentada, tecnicamente deficiente, acrítica, seguidista das agendas dos poderes políticos e das agências de comunicação, sem rasgos nem imaginação. Se os vários media se tornaram cada vez mais iguais, miméticos e cinzentos, só a nós se deve. Devíamos ter conseguido lutar por melhor jornalismo, melhores profissionais, melhores condições e real autonomia editorial. Quantas vezes não nos apercebemos de ingerências inaceitáveis na nossa cadeia produtiva de notícias e pouco fizemos para as contrariar, expor ou combater? Tais práticas sempre existiram, mas numa outra escala e noutras circunstâncias. Hoje, a fragilidade contratual das redacções é terreno fértil para atropelos, já tidos como aceitáveis. E assim fomos vivendo estes anos, mudando, encolhendo, em direcção a nada, em direcção a isto que vivemos hoje. (...)” Paulo Salvador, ‘Mea culpa’, jornalista - P1.

1 comentário:

OLima disse...

“(...) temo que artigos como os do Paulo Salvador https://onda7.blogspot.com/2024/01/bico-calado_01062926158.html
legitimem um atraso vergonhoso no reconhecimento de culpa da classe jornalística por parte de quem sempre possuiu todos os instrumentos de análise. Mais simplesmente: que abra caminho a Madalenas arrependidas chorando lágrimas de crocodilo que as abençoam à luz dos olhares comuns. (...) É por isso que me custa imenso aceitar estas epifanias de 25ª hora, mais ainda vindas de profissionais com cargos de chefia que podiam e deviam ter acordado a tempo de lutar contra o que agora denunciam. (...) aposto que a generalidade dos leitores do PÁGINA UM já tinha o diagnóstico mais que feito, anos ou décadas antes de o Paulo Salvador o vir anunciar. Não quero com isto, até porque não o conheço pessoalmente, insinuar que o Paulo Salvador tenha escrito o artigo para salvar a face ou fazer-se passar por bonzinho quando já quase não há caldo na malga. Até acredito na bondade do seu gesto. Mas, sinceramente, não vejo como encaixar aqui o “mais vale tarde que nunca”. Preferia o silêncio dele e uma mudança de conduta.” Marcos Cruz, Arrependimento, lembrando o poema de Brecht
- P1.
https://paginaum.pt/2024/01/31/arrependimento-lembrando-o-poema-de-brecht/