“(…) E todos os anos, sem excepção, assistimos a descargas ilegais em rios, a poluição diversa no mar. A investimentos estapafúrdios em obras e construção de monos com dinheiros públicos. Fecha-se os olhos a projectos poluidores porque criam empregos? Baixam-se os requisitos ambientais para atrair aquele investimento na fábrica que até foi classificado de PIN (projecto de interesse nacional)? Autoriza-se o abate daquelas árvores protegidas para aquele empreendimento de luxo? Dá-se o OK a mais um campo de golfe em zona onde falta a água? Avança-se com a construção de um novo aeroporto em zona de migração e nidificação única na Europa? Olha-se para o lado para o uso de pesticidas que acabam com espécies de relevo e causam cancro? Arrasa-se aquele rio selvagem e aqueles ecossistemas para construir mais uma barragem? E incentiva-se ao consumo. Muito consumo. A quantidade de embalagens e lixos produzidos hoje é estonteante. Avassaladora. Os governos lucram com isso através dos diferentes impostos cobrados. O ambiente é que se lixa, tal como todos nós. E o planeta. (…)Talvez porque acompanhe os mercados de capitais há várias décadas, desconfio destas promessas “verdes” que até agora renderam milhares de milhões a fundos e “veículos” de investimento, filantropos, fundações e políticos a vender este peixe da economia “verde” e trouxeram mais e mais problemas ao planeta e às populações. (...)
A meu ver, na
defesa do ambiente e do planeta e na defesa do jornalismo existe algo em comum:
jamais serão defendidos por políticos do actual establishment, nem pelas
grandes indústrias, por bilionários donos de multinacionais ou filantropos com
um histórico ético duvidoso. Nem por jornalistas que há muito se
vergaram perante dinheiros públicos, privados ou de fundações, com medo de
perderem o emprego, a nomeação a prémios e bolsas, além dos que não escondem
agendas ideológicas.
Nem a defesa
do planeta, nem a defesa do jornalismo irão ser feitos por aqueles que têm
contribuído para criar os problemas existentes, seja pelas suas acções seja
porque pactuaram com os ataques, ficando em silêncio. Num mundo de árvores de
Natal de plástico, enfeitadas de bolas e fitas de fantasia em material
sintético, o jornalismo é hoje um adereço brilhante para vender frases bonitas
sobre como políticos e bilionários que contribuíram para nos trazer ao
desastre, são agora os maiores defensores do ambiente e da vida no planeta.
Num mundo de
cimeiras do clima da tanga e congressos dos jornalistas da treta, temos de
começar a pensar se está na altura de deixarmos de ser totós. Em relação
aos políticos, aos media que destroem o jornalismo e em relação ao que podemos
fazer sobre o futuro do planeta e do jornalismo.”
Elisabete Tavares, Marketing para totós: Cimeiras do Clima e Congressos dos Jornalistas - P1.
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