quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Bico calado

  • “(...) Lendo notícias do dia 10 de Abril descubro uma notícia aparentemente irrelevante, mas reveladora de percursos de quem influencia a nossa vida através da ideologia: “Regressou a Lisboa a delegação portuguesa ao 25º Aniversário da OTAN” — procurei saber quem participara na tal delegação: Ramiro Valadão — presidente da RTP, Engenheiro Manuel Bívar — presidente da Emissora Nacional; Professor doutor Martins de Carvalho — diretor de A Capital; Dr Barradas de Carvalho — diretor de A Época; Dr Jorge Botelho Moniz — do Rádio Clube Português, jornalista Alves Fernandes, do Século; Dr Feytor Pinto — diretor dos Serviços de Informação; jornalista Dr José Eduardo Moniz, acompanhado pelo Dr Pedro de Campos Tavares, secretário para a educação da Comissão Portuguesa do Atlântico. Segundo os jornais, os componentes da delegação portuguesa participaram em diversas reuniões com especialistas em economia, política e assuntos militares. Chamou-me a atenção o nome de José Eduardo Moniz nesta delegação de alto nível à sede da NATO (OTAN) quinze dias antes do 25 de Abril. Será o mesmo José Eduardo Moniz que após o 25 de Abril esteve sempre no topo — no teto — do edifício de controlo da informação e programação e da correspondente componente de manipulação política e cultural, na RTP, na SIC, na TVI? Como apareceu José Eduardo Moniz nestes cargos? Como apareceram tantos outros Josés nos vários órgãos de comunicação como jornalistas, comentadores, especialistas de tudo e nada? Estes Josés desempenham um papel importante no exercício do poder através do condicionamento da informação e da inculcação de pontos de vista na sociedade, da formatação ideológica que determina regimes, alianças, negócios. Mas eles, sendo importantes, são apenas instrumentos e são indícios de como o que lemos e vemos nos é cozinhado e como surgem os cozinheiros de fato e gravata. (...) Nascido em 1952 numa família de classe média da ilha de São Miguel, veio para Lisboa frequentar o curso de Filologia Germânica e, aos 22 anos, em 1974, quando os jovens da sua geração, mesmo os que tinham direito a adiamento na prestação do serviço militar, assentavam praça no final dos cursos e seguiam para a guerra em África, José Eduardo Moniz, surge, já doutor, não num quartel, mas na delegação portuguesa aos 25 anos da NATO a par com alguns dos mais influentes propagandistas do regime! (...)” Carlos Matos Gomes, Como é que isto, ou aquele foi ali parar? - Medium.
  • O PÁGINA UM começou a publicar um Boletim diário destacando os contratos por ajuste direto. Tudo porque, “em apenas oito meses, contratos púbicos por ajuste direto acima de 100 mil euros já ultrapassaram os mil milhões de euros. É uma enormidade, e não é preciso especular demasiado para perceber que, em grande parte dos casos, há corrupção pura e dura – que só o desinteresse intencional dos partidos políticos (todos) e a passividade do Ministério Público e do Tribunal de Contas se mantém e prolifera. Talvez assim se comece a reparar que os ajustes diretos não se fazem apenas na execução de empreitadas de construção civil ou na aquisição de medicamentos – talvez a única situação em que o ajuste directo se poderá justificará em muitos casos, embora a necessitar de outro tipo de controlo sobre os administradores e médicos influenciadores –, mas em muitos outros sectores.” Página Um.
  • A SpaceX de Elon Musk foi processada por suposta discriminação na contratação de refugiados. O Departamento de Justiça alega que a empresa de foguetões se recusou a considerar requerentes de asilo e refugiados para empregos por causa do estatuto de cidadania. Victoria Bekiempis, The Guardian.
  • Soldados israelitas forçaram mulheres palestinas a despirem-se durante um ataque na Cisjordânia em julho, ameaçando soltar cães de ataque contra elas se recusassem. MEM.

  • Segundo o The Economist, um serviço de segurança nacional passou de uma função de vigilância para a de implementação de operações de eliminação seletivas, ao estilo da Mossad israelita. A Ucrânia conduziu operações de “trabalho sujo”, incluindo assassinatos de comandantes adversários, ataques com mísseis e outras ações nefastas. As implicações destas operações suscitam dúvidas e preocupações, tanto em termos de estratégia como de confiança interna. Fonte.
  • A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa adjudicou à Neogames por ajuste direto de 2.129.325,00 euros para aquisição de licenciamento de software de jogo para exploração de lotaria instantânea no portal Jogos Santa Casa e integração com a aplicação mobile. Base. Via Página Um.
  • A National Endowment for Democracy, associada à CIA, prepara revolução colorida na Indonésia. KIT KLARENBERG, MPN.
  • A sofisticação tecnológica introduzida nos automóveis modernos registam tudo e mais alguma coisa acerca dos seus proprietários ou condutores. Todas as 25 marcas de automóveis pesquisadas pela Mozilla Foundation mereceram o rótulo de aviso ‘Privacidade não incluída’, o que torna os carros a pior categoria oficial de produtos para privacidade até agora analisada. Todas as marcas analisadas recolhem mais dados pessoais do que o necessário e usam essas informações por um motivo diferente do de operar o seu veículo e gerir o relacionamento com você. 84% das marcas de automóveis analisadas afirmam que podem compartilhar os seus dados pessoais – com prestadores de serviços, corretores de dados e outras empresas sobre as quais pouco ou nada sabemos. 56% afirmam que podem partilhar as suas informações com o governo ou com as autoridades policiais perante uma “solicitação”. Não é uma ordem judicial, mas algo tão fácil quanto um “pedido informal”. Apenas 2 das 25 marcas de automóveis analisadas, Renault e Dacia, garantem que todos os motoristas têm o direito de terem os seus dados pessoais excluídos. Jen Caltrider, Misha Rykov e Zoë MacDonald, Mozilla Foundation.

  • O Gabão, a dinastia Bongo e os EUA. O general que liderou o golpe no Gabão, Brice Nguema, elegeu-se presidente interino do país, afirmando que em breve haverá novas eleições, uma nova Constituição e as outras coisas que geralmente são prometidas nestes casos. O golpe de Estado pôs fim a uma dinastia de mais de dez anos, a dos Bongos, pai e filho. O chefe das Oposições Unidas, Albert Ondo Ossa, que foi derrotado nas recentes eleições vencidas por Ali Bongo por uma margem esmagadora devido à fraude e anulada pelos golpistas imediatamente após a publicação dos resultados, declarou que na realidade era "uma revolução palaciana, não um golpe de estado". Ele afirmou à Al Jazeera, explicando que o general é primo de Bongo e graças a ele fez carreira, como outros golpistas atuais. “Acho que a família Bongo livrou-se de um dos seus membros, que fazia sombra à família, porque queriam que o poder dos Bongos se perpetuasse, evitando que Albert Ondo Ossa chegasse ao poder”. Em suma, uma sucessão familiar simples, ainda que forçada.  Se é verdade que o Gabão tinha relações estreitas com o antigo senhor colonial francês, que o utilizava para os seus próprios interesses, Ali Bongo também tinha outros protetores influentes, a cujos interesses obviamente teve de ceder espaço. Segundo a Monthly Review, “o vínculo entre Obama e Bongo era tão estreito que a Política Externa definiu o líder gabonês como 'o homem de Obama na África”. Quando os EUA embarcaram na operação de mudança de regime na Líbia em 2011, ironicamente justificada como um exercício de 'promoção da democracia, graças ao apoio de Washington o Gabão foi incluído no Conselho de Segurança das Nações Unidas, onde aderiu a todas as resoluções dos EUA, que primeiro impôs sanções contra a Líbia e depois uma zona de exclusão aérea sobre os seus céus. O espírito cooperativo de Bongo rendeu-lhe uma visita a Obama 4 meses depois. Na Casa Branca, ele foi o primeiro líder africano a pedir a Gaddafi que abandonasse o poder. É inútil recordar os desastres dessa intervenção, cujo preço ainda hoje pagamos em termos de instabilidade e terror desenfreados na África do Norte e Subsariana. Um mês após sua reeleição em 2016, numa votação polémica, Bongo foi chamado de volta aos EUA, desta vez pelo Conselho do Atlântico, patrocinado pela NATO, para receber o Global Citizen Award numa gala em Nova York. Mas como persistiam dúvidas sobre a fraude eleitoral em causa – dado que numa região ele obteve 95% dos votos com uma participação de quase 100% dos eleitores – ele foi forçado a cancelar a viagem. L’Anti Diplomatico.

  • “(…) Se, no ocidente, servidores, serviçais e lacaios, cúmplices e ingénuos, desde a primeira hora, se colocaram ao lado do regime de Kiev, nascido de um golpe de estado em 2014, considerando legítimo esse ato usurpador… Já no caso do Níger, depressa calam, desconhecem ou condenam um golpe de estado o qual, ao contrário daquele que instituiu o regime neo-fascista de Kiev, não visou tomar o poder por parte de uma facção ou etnia, contra outra. Se, no caso da “intervenção” Russa, tal exército ruminante e serviçal, depressa e veementemente condenou o Kremlin pela sua atuação, num ato inaudito, nunca presenciado, impensável e hipócrita de condenação de uma intervenção militar… Tal como no caso do Iraque, Afeganistão, Jugoslávia, Sérvia, Palestina, Síria ou Iémen, também quanto ao Níger, este exército de zombies cerebrais, passou a ignorar, calar ou desconhecer as ameaças que as potências ocidentais estão a levar a cabo para obrigar a ECCOWAS a encetar uma “intervenção militar” em seu nome. Uma vez mais, a “opinião pública” ocidental convive bem como as maquinações que o ocidente coletivo desenvolve, no sentido de colocar africanos contra africanos, exigindo a potências regionais, como a Nigéria, façam o trabalho sujo, que o bloco imperialista e hegemónico não quer fazer. (...) que cor precisam de ter as pessoas para que a “opinião pública” seja com elas solidária? Que língua precisam de falar? De que região ou de que país precisam de ser? O quão ricos têm de ser? Por quem é que têm de se sentir agredidos? E quem é que decide quem é o agressor e quem é a vítima? Assim, sem descortinar qualquer contradição, esta “opinião pública”, cuja consciência crítica há-de ser uma coisa pavorosa, admite que Joseph Borrel, espanhol de origem e quadro da União Europeia (da Europa, certo?), ordene a uma organização africana que aplique sanções e intervenha militarmente contra outra! Todas as teorias de um Kremlin “imperialista”, “colonialista” e “militarista” que os afligem, logo vão por água abaixo quando o agressor, o imperialista e o colonialista passam a ser, precisamente as potências ocidentais. O mesmo ódio que sentem de Putin, quando vêem o presidente Russo exigir à Ucrânia que se renda, logo se transforma em silêncio, aceitação e complacência, quando quem exige são os EUA, ou quando Macron surge que nem um louco nas TV’s a exigir que seja reposta uma “normalidade constitucional” que apenas à França interessa e que apenas a ela enriquece. E esta “opinião pública” vê fazer isto relativamente a um país que não é o seu, de um continente que não é o seu. E nunca estranham quando, as mesmas TV’s que o transmitem, são as mesmas que nos dizem que a África é livre, que o colonialismo é Russo e o Chinês, que nós não somos racistas e respeitamos os direitos humanos. Tudo se torna ainda mais hediondo e contraditório quando, mais recentemente, o Gabão sofre também um golpe de estado militar e… Surpresa das Surpresas… Não existem ameaças de Macron, exigências de Borrel, sanções, “intervenções”, nada! Mas, que raio! No caso do Níger…. É ferro e fogo! No caso do Gabão… Silêncio! A explicação é tão simples e previsível que até chateia. No caso do Níger, as forças golpistas são de esquerda, de raiz popular, simpatizantes com a URSS e agora coma Rússia. No caso do Gabão, as forças são de direita, com pouco respaldo popular e manipuladas pela CIA. O facto é que, vendo a CIA que os africanos estão com a França pelos cabelos, sendo mais tolerantes aos EUA, logo se apressou a tomar o movimento subversivo nas suas mãos, antes que fossem as forças populares, anti-imperialistas e anticoloniais a fazê-lo, passando o Gabão a figurar entre os países da África central (a seguir ao Mali, Burkina Faso e República Centro Africana) que o bloco imperialista ocidental já não controla. Trata-se, assim, de uma tentativa de estancar um movimento de libertação imparável. (...)” Hugo Dionísio, Canal-factual.

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