A equipa liderada por Boris Johnson tem-se revelado
exímia na arte da propaganda. Tudo tem feito para fazer crer que a ele se devem
todas as medidas conseguidas para combater a crise climática.
O frenesim dos responsáveis e profissionais contratados
fá-los divulgar declarações enganosas e exageradas durante a cimeira. Tudo isto
através da orquestração de uma série de grandes anúncios e acordos sobre
florestas, finanças e carvão, para manter um fluxo de notícias positivas,
impulsionando as conversações enquanto os negociadores trabalhavam nos detalhes
complicados. Por exemplo, considerando o carvão o fator chave para o sucesso da
COP26, propagandearam que ‘graças a um pacote de apoio do Reino Unido e dos
nossos parceiros internacionais, uma forte coligação de 190 parceiros concordou
com a eliminação progressiva da energia do carvão e o apoio final a novas
centrais eléctricas a carvão.’ Mas isto já tinha sido aprovado na última
cimeira do G7, embora omitindo se estes países poderiam criar novas centrais de
carvão nos seus próprios países - eles ainda o podem fazer -, e também omitindo
o papel dos bancos – que ainda podem financiar o carvão mesmo que tenham
subscrito a outra grande iniciativa financeira do governo britânico.
O mesmo documento de propaganda dizia que o Reino Unido
tinha ‘assegurado uma forte coligação de 190 países e organizações na Cop26,
com países como a Polónia, Vietname, Egipto, Chile e Marrocos a anunciarem
compromissos claros para a eliminação gradual da energia do carvão.’ Essa
coligação de 190 parceiros, agora referida como países e organizações, deixa
escapar um pormenor: a Polónia e o Vietname são grandes utilizadores de carvão,
mas o Egipto, o Chile e Marrocos são utilizadores menores. O Egipto, por
exemplo, utiliza apenas 0,1% do carvão do mundo. E, mais abaixo, o documento de
propaganda revela que, afinal, apenas 18 países concordam, de facto, em
eliminar gradualmente a energia do carvão, e não incluem 15 dos maiores
utilizadores de carvão do mundo.
Esta referida declaração, compromete nações de todo o
mundo:
- a acabar com todo o investimento na nova geração de
energia a carvão a nível nacional e internacional
- a rápida expansão da produção de energia limpa
- a eliminação progressiva da energia do carvão nos anos
2030 para as grandes economias e 2040 para o resto do mundo
- a fazer uma transição justa do poder do carvão de uma
forma que beneficie os trabalhadores e as comunidades.
Os anos 2030 é demasiado tarde para as grandes economias
- deveriam estar a eliminar gradualmente o carvão nos anos 2020 para que seja
possível uma meta de 1,5C. A Alemanha, por exemplo, está considerar 2038 para a
sua eliminação progressiva do carvão - demasiado tarde, dizem os especialistas.
E a década de 2040 pode ser sustentável para alguns países em vias de
desenvolvimento, mas que países são esses? A Polónia considera-se um país em
vias de desenvolvimento, apesar de ser a 21ª maior economia do mundo em termos
de PIB. E a Polónia irá eliminar gradualmente o carvão até 2049. Tecnicamente,
isso significa que poderá atingir emissões líquidas zero até 2050. Mas se todos
os países o fizessem, a meta de 1,5C estaria muito fora do alcance.
Os anúncios acerca do carvão não foram as únicas notícias controversas da semana passada. O anúncio acerca de 130 países que concordaram em parar a desflorestação, também foi criticado quando a Indonésia pareceu negar que pretendia fazer cumprir o objetivo, e os críticos sublinharam que os acordos florestais anteriores não tinham sido cumpridos. A aliança GFANZ foi também criticada por permitir que as 450 instituições financeiras participantes - que a propaganda do Reino Unido disse terem um valor combinado de $130tn, mas que não conseguiram assinalar que só iriam provavelmente utilizar uma pequena fatia do mesmo para fins verdes a curto prazo - continuassem a investir em combustíveis fósseis.
Mohamed Adow, director do laboratório de ideias Power
Shift Africa, baseado em Nairobi, resumiu a frustração de muitos: "Esta
semana assistiu-se a um grande número de anúncios do Reino Unido que podem
gerar manchetes, mas avaliar o seu verdadeiro valor é extremamente difícil,
especialmente à pressa durante uma reunião. Boris Johnson tem sido criticado
por governar através de comunicados para os media e parece que está a fazer o
mesmo nesta cimeira. Estes anúncios são doces para os olhos, mas o impulse de açúcar
que eles dão são calorias vazias".
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