Há uma batalha ideológica em curso na cimeira do Clima
acerca do conceito de emissões líquidas zero e da utilização de compensações de
carbono.
Deu brado o anúncio do enviado da ONU para as finanças climáticas, Mark Carney, de que mais de 450 bancos, seguradoras e gestores de ativos com 130 triliões de dólares em activos sob gestão se tinham comprometido a estabelecer metas baseadas na ciência, em conformidade com as emissões líquidas zero até 2050. A Aliança Financeira para a Descarbonização (GFANZ) "é o padrão de ouro para a descarbonização. Os enormes recursos e o foco implacável do GFANZ podem desbloquear o bilião de dólares de investimento anual adicional necessário para a transição líquida zero nos mercados emergentes e países em desenvolvimento até meados desta década", disse Mark Carney.
Porém, uma análise da Reclaim Finance defende que a GFANZ é "fundamentalmente defeituosa" e "carece de quaisquer critérios sobre combustíveis fósseis ou reduções absolutas de emissões". "A indústria e os bancos de combustíveis fósseis estão entre os maiores vilões climáticos. Ao permitir-lhes comprar compensações para reclamar neutralidade de carbon, dá-lhes um livre-trânsito para continuarem a poluir", escreveu Greta Thunberg.
Não foi só o GFANZ que foi alvo de críticas. Outra
iniciativa de Mark Carney para aumentar o mercado voluntário de carbono foi alvo
de protestos de manifestantes que denunciaram o uso de compensações dentro e
fora do centro de conferências.
Jennifer Morgan, directora executiva da Greenpeace, e Teresa Anderson, da Action Aid, interromperam um evento em que Carney estava a discursar e exibiram cartazes que diziam: "O seu grupo de trabalho é um embuste ". No exterior da conferência, ativistas indígenas levantaram a sua voz contra a mercantilização dos recursos naturais. "O comércio de emissões perpetuam o roubo das nossas terras e territórios", disseram eles.
António Guterres tentou mediar, anunciando um observatório para analisar os compromissos líquidos zero dos atores não estatais. "Há um défice de credibilidade e um excesso de confusão sobre reduções de emissões e objetivos líquidos zero, com significados diferentes e métricas diferentes", admitiu.
Esta questão corre o risco de se alastrar a outras secções
das negociações sobre o estabelecimento de regras para um mercado global de
carbono, conhecido como Artigo 6º do Acordo de Paris.
Ao abrigo do esquema de comércio de carbono, os países são
autorizados a comprar reduções de emissões alcançadas noutras partes do mundo e
contabilizá-las para o seu próprio objetivo climático - criando efetivamente um
mercado de compensação para os países.
As regras para este novo mercado têm sido uma das questões mais controversas nas negociações sobre o clima nos últimos anos e são uma das últimas questões ainda não resolvidas. A última versão do texto de negociação inclui 373 secções entre parênteses, sujeitas a debate e alteração, onde os países não conseguem chegar a acordo e estão a considerar várias opções. De facto, o leque de opções propostas pelos países aumentou desde as últimas conversações sobre o clima em 2019.
Há quem diga que há poucas hipóteses deste acordo ser bem
recebido pelos ativistas que argumentam que os governos devem concentrar-se na
redução das suas emissões em casa.
"As compensações de carbono significam sabotagem
climática", diz Teresa Anderson, da Action Aid. "Para que esta
cimeira seja um sucesso, precisamos de uma iniciativa para reduzir os mercados
de carbono, em vez de os aumentar".
CHN.
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