«(…) Hoje, a pretexto de assinaturas de contratos associados aos dinheiros da bazuca, o Público dedica duas páginas de propaganda ao assunto, e zero a jornalismo sobre o assunto.
Comecemos pelos simples facto do primeiro desses planos, o único aprovado até agora, estar a ser contestado em tribunal (o que é raríssimo em Portugal e mais raro ainda neste sector que, de uma maneira ou de outra, vai sempre depender de dinheiros públicos), coisa que o jornalista omite. Mas mais que isso, dos 270 milhões afectos ao assunto, o jornalista não consegue avaliar a distribuição de dinheiros feita, não consegue estranhar que grande parte do dinheiro vá parar a autarquias que não gerem áreas florestais, não consegue ver que há muito mais dinheiro para fazer os planos propriamente ditos que para pagar a gestão de serviços de ecossistema feita pelos donos e gestores de áreas florestais, não percebe o que significa ter na mesma rúbrica os dinheiros para pagar a capacitação técnica das equipas que vão ser contratadas para tratar dos papéis – planos são papéis, é bom não esquecer -, para fazer cadastro e a remuneração da gestão feita pelos proprietários, apesar do precedente dos Gabinetes Técnicos Florestais financiados pelo Fundo Florestal Permanente, etc., etc., etc.. Ou seja, o jornalista acredita em tudo o que lhe é dito pelos responsáveis políticos e pelos principais beneficiários – entrevistam o presidente de uma associação que consegue ver aprovados três planos destes e um consultor que vive de fazer estes planos – esquecendo-se de ir entrevistar os destinatários finais do dinheiro, isto é, quem faz de facto a gestão dos terrenos, nomeadamente na primeira e única experiência em curso no projecto piloto de Monchique. (…)»
Henrique Pereira dos Santos, Transformar a paisagem – Corta-fitas.
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