domingo, 27 de setembro de 2020

Bico calado

  • «Existe depois, a nível individual, um empresário português identificado num dos ficheiros Excel que complementam os relatórios sobre atividades suspeitas dos FinCEN Files. Trata-se de Mateus da Silva Alves, dono da Uniself, empresa líder no sector da alimentação escolar em Portugal, com um fornecimento diário a centenas de cantinas. Só em 2020 a Uniself já acumula 92 contratos com o Estado, no valor de €76 milhões. Mateus da Silva Alves é referenciado por uma única transferência no valor de 1.923.429,46 dólares que recebeu a 8 de maio de 2015 enquanto beneficiário de uma conta no Crédit Suisse, na Suíça, com origem numa conta do EuroBIC titulada pela WFS — Worldwide Food Suppliers, Ltd., uma companhia offshore registada nas Seychelles. A transferência está descrita nos FinCEN Files como "dividendos", sendo que não há informações online sobre a WFS, exceto uma breve menção num site angolano em que é descrita como uma "empresa que opera exclusivamente no âmbito do comércio internacional, assumindo um importante apoio logístico nas exportações (…)». Expresso. Perante a «nega» da busca, eis uns aperitivos para abrir o apetite:

Fonte: The International Consortium of Investigative Journalists

  • «(…) E há quem fale de corrupção sem oferecer diagnósticos nem soluções, mas apenas pela mesma razão prosaica que leva os carteiristas a gritar “apanha ladrão!” — para nos distrair e lançar a confusão, enquanto nos escondem a verdade sobre os seus próprios comportamentos. Para ilustração, serve um breve passeio pelo mundo. Nos EUA, Trump prometia “drenar o pântano” da corrupção, mas a única coisa que drenou foram dólares do contribuinte para pagar estadias nos seus hotéis e viagens aos seus campos de golfe. O seu entorno parece uma colónia de férias de criminosos de baixo calado; há pelo menos meia dúzia de indiciados por crimes diversos; um dos seus chefes de campanha está preso por diversas burlas e o outro [Steve Bannon] foi detido por meter ao bolso um milhão de dólares de um peditório para “construir o muro” na fronteira com o México; aqueles dos seus próximos que se safaram são os que Trump safou usando o perdão presidencial. No Brasil, Bolsonaro foi eleito prometendo “acabar com a mamata” da utilização desbragada de dinheiros públicos por políticos, efetivamente um problema sério no Brasil, de que o próprio Bolsonaro e a sua família representam, aliás, um dos piores exemplos. Ora, um dos seus filhos tinha no seu gabinete parlamentar representantes do chamado “sindicato do crime” e a esposa do Presidente recebeu sucessivos cheques de um chefe de uma milícia de polícias renegados que depois andou foragido e acabou por ser apanhado numa propriedade do advogado do filho de Bolsonaro. Poderíamos continuar com exemplos europeus — de Salvini a Le Pen, ambos financiados pela Rússia de Putin, e do britânico Nigel Farage, culpado de malversação de dinheiros do Parlamento Europeu, ao austríaco Strache, apanhado a oferecer contratos públicos quando achou que estava perante a sobrinha de um oligarca russo. (…) E nos imitadores domésticos que temos da extrema-direita internacional há já amplos sinais de que a mesma propensão existe e que se revelaria em todo o esplendor no dia em que os seus representantes alguma vez chegassem perto do poder.(…) — o caso das assinaturas inválidas que o partido da extrema-direita parlamentar portuguesa entregou ao Tribunal Constitucional para a sua legalização, para não falar do inimitável cheiro a esturro que dos seus orçamentos de campanha emana. (…) começam a acrescentar-se perfis mais individuais, como aquele que a última revista Sábado traça de um dos novos vice-presidentes desse partido, um ex-diplomata que foi suspenso em 2009 “devido a várias irregularidades encontradas na gestão” de uma embaixada de que foi responsável (…) Rui Tavares, Sindicatos de vigaristas – Público 25set2020.

  • Num vídeo enviado ao PÚBLICO, o activista diz que a China “quer silenciar a voz da dissidência” em Hong Kong. Jovens activistas de Hong Kong presos na China sem direito a advogado nem visitas. Público de 25 de setembro. É comovedor este empenho para com a situação dos meninos de Hong Kong. Em contrapartida, pesa um silêncio ensurdecedor, vergonhoso, em relação à sorte de Julian Assange. Porquê este frete de esconder o escândalo da repressão contra um jornalista que denunciou barbaridades cometidas por gente que tem a mania de querer dominar o mundo. Ainda não compreenderam que Assange eliminado representará o fim do jornalismo livre e de investigação?
  • Ficheiros desclassificados mostram que o Reino Unido, durante o governo trabalhista de Harold Wilson (1964-1970), uma unidade secreta do Ministério dos Negócios Estrangeiros iniciou uma ofensiva de propaganda no Chile com o objetivo de impedir que Allende, a principal figura socialista do Chile, ganhasse o poder em duas eleições presidenciais, em 1964 e 1970. O Departamento de Pesquisa de Informações (IRD) reuniu informações destinadas a prejudicar Allende e dar legitimidade aos seus adversários, e distribuiu material a figuras influentes da sociedade chilena. O IRD também partilhou informações sobre atividades de esquerda no país com o governo dos EUA. Funcionários britânicos em Santiago ajudaram uma organização de media financiada pela CIA que fazia parte de uma extensa ação secreta dos EUA para derrubar Allende, culminando no golpe de 1973. John McEvoy, Consortium News. Com que então eram teorias da conspiração…
  • Jornalista do Público mais preocupado com a embalagem, do que com o conteúdo: Ana Gomes é “populista” ou “popular e combativa”? E para isso, cita académicos e investigadores. Continuem assim. Depois, queixai-vos que perdeis audiências.

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