Bico calado
- «Existe depois, a nível
individual, um empresário português identificado num dos ficheiros Excel que
complementam os relatórios sobre atividades suspeitas dos FinCEN Files.
Trata-se de Mateus da Silva Alves, dono da Uniself, empresa líder no sector da alimentação
escolar em Portugal, com um fornecimento diário a centenas de cantinas. Só em
2020 a Uniself já acumula 92 contratos com o Estado, no valor de €76 milhões. Mateus
da Silva Alves é referenciado por uma única transferência no valor de
1.923.429,46 dólares que recebeu a 8 de maio de 2015 enquanto beneficiário de
uma conta no Crédit Suisse, na Suíça, com origem numa conta do EuroBIC titulada
pela WFS — Worldwide Food Suppliers, Ltd., uma companhia offshore registada nas
Seychelles. A transferência está descrita nos FinCEN Files como "dividendos", sendo que não há informações online sobre a WFS, exceto
uma breve menção num site angolano em que é descrita como uma "empresa que
opera exclusivamente no âmbito do comércio internacional, assumindo um importante
apoio logístico nas exportações (…)». Expresso. Perante a «nega» da busca, eis uns aperitivos para abrir o apetite:
Fonte: The
International Consortium of Investigative Journalists
- «(…) E há quem fale de corrupção sem oferecer
diagnósticos nem soluções, mas apenas pela mesma razão prosaica que leva os
carteiristas a gritar “apanha ladrão!” — para nos distrair e lançar a confusão,
enquanto nos escondem a verdade sobre os seus próprios comportamentos. Para
ilustração, serve um breve passeio pelo mundo. Nos EUA, Trump prometia “drenar
o pântano” da corrupção, mas a única coisa que drenou foram dólares do
contribuinte para pagar estadias nos seus hotéis e viagens aos seus campos de
golfe. O seu entorno parece uma colónia de férias de criminosos de
baixo calado; há pelo menos meia dúzia de indiciados por crimes diversos; um
dos seus chefes de campanha está preso por diversas burlas e o outro [Steve
Bannon] foi detido por meter ao bolso um milhão de dólares de um peditório para
“construir o muro” na fronteira com o México; aqueles dos seus próximos que se
safaram são os que Trump safou usando o perdão presidencial. No Brasil, Bolsonaro foi eleito prometendo “acabar com a mamata” da utilização
desbragada de dinheiros públicos por políticos, efetivamente um problema sério
no Brasil, de que o próprio Bolsonaro e a sua família representam, aliás, um
dos piores exemplos. Ora, um dos seus filhos tinha no seu gabinete parlamentar representantes
do chamado “sindicato do crime” e a esposa do Presidente recebeu sucessivos cheques
de um chefe de uma milícia de polícias renegados que depois andou foragido e
acabou por ser apanhado numa propriedade do advogado do filho de Bolsonaro.
Poderíamos continuar com exemplos europeus — de Salvini a Le Pen, ambos financiados
pela Rússia de Putin, e do britânico Nigel Farage, culpado de malversação de
dinheiros do Parlamento Europeu, ao austríaco Strache, apanhado a oferecer contratos públicos quando achou que estava perante a
sobrinha de um oligarca russo. (…) E nos imitadores domésticos que temos da extrema-direita
internacional há já amplos sinais de que a mesma propensão existe e que se
revelaria em todo o esplendor no dia em que os seus representantes alguma vez chegassem
perto do poder.(…) — o caso das assinaturas inválidas que o partido da
extrema-direita parlamentar portuguesa entregou ao Tribunal Constitucional para
a sua legalização, para não falar do inimitável cheiro a esturro que dos seus
orçamentos de campanha emana. (…) começam a acrescentar-se perfis mais
individuais, como aquele que a última revista Sábado traça de um dos novos
vice-presidentes desse partido, um ex-diplomata que foi suspenso em 2009
“devido a várias irregularidades encontradas na gestão” de uma embaixada de que
foi responsável (…) Rui Tavares, Sindicatos de vigaristas – Público 25set2020.
- Num vídeo enviado ao PÚBLICO, o activista diz que a China
“quer silenciar a voz da dissidência” em Hong Kong. Jovens activistas de Hong
Kong presos na China sem direito a advogado nem visitas. Público de 25 de
setembro. É comovedor este empenho para com a situação dos meninos
de Hong Kong. Em contrapartida, pesa um silêncio ensurdecedor, vergonhoso, em
relação à sorte de Julian Assange. Porquê este frete de esconder o escândalo da
repressão contra um jornalista que denunciou barbaridades cometidas por gente
que tem a mania de querer dominar o mundo. Ainda não compreenderam que Assange
eliminado representará o fim do jornalismo livre e de investigação?
- Ficheiros desclassificados mostram que o Reino Unido, durante
o governo trabalhista de Harold Wilson (1964-1970), uma unidade secreta do
Ministério dos Negócios Estrangeiros iniciou uma ofensiva de propaganda no
Chile com o objetivo de impedir que Allende, a principal figura socialista do
Chile, ganhasse o poder em duas eleições presidenciais, em 1964 e 1970. O
Departamento de Pesquisa de Informações (IRD) reuniu informações destinadas a
prejudicar Allende e dar legitimidade aos seus adversários, e distribuiu
material a figuras influentes da sociedade chilena. O IRD também partilhou informações
sobre atividades de esquerda no país com o governo dos EUA. Funcionários
britânicos em Santiago ajudaram uma organização de media financiada pela CIA
que fazia parte de uma extensa ação secreta dos EUA para derrubar Allende,
culminando no golpe de 1973. John McEvoy, Consortium News. Com que então eram teorias da conspiração…
- Jornalista do Público mais preocupado com a embalagem, do
que com o conteúdo: Ana Gomes é “populista” ou “popular e combativa”? E para
isso, cita académicos e investigadores. Continuem assim. Depois, queixai-vos que
perdeis audiências.
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