sexta-feira, 17 de julho de 2020

Bico calado

Cedros, Flores - Açores
  • «Em três meses, Domingos Macias, cidadão espanhol, porteiro de profissão,  ficou rico sem ter jogado no Euromilhões. Entre abril e julho de 2014, foram-lhe parar às mãos 4,5 milhões de euros. Esta até podia ser uma história com final feliz, mas Domingos Macias nunca viu o dinheiro. A sua identidade terá sido roubada  numa operação levada a cabo por Ricardo Salgado e João Alexandre Silva, antigo responsável pelo BES/Madeira, para forjar um investimento da empresa estatal dos petróleos da Venezuela, PDVSA, no Banco Espírito Santo em plena altura de crise.» Carlos Rodrigues Lima, Caso BES: Ricardo Salgado acusado de roubar identidade de um porteiro espanhol - Sábado
  • «O Facebook é a mais tentacular empresa mundial. Nunca uma multinacional teve tanto poder sobre os Estados nem tanta influência sobre os utilizadores. É a nova superpotência e não é gerida por administradores que discutem como operar num mercado, mas sim por planificadores centrais que escolhem como conduzir o ministério da verdade, na alquimia de um algoritmo misterioso e impenetrável à defesa dos consumidores. À frente do colosso, Zuckerberg é a mais moderna mistura de um barão da indústria e de um corsário do rei, que neste caso é ele próprio, apesar de se apresentar como um Big Brother amável, promotor de comunidades e semeador de amizades. E, no entanto, o negócio está a derrapar. A culpa é da indignação contra o discurso de ódio. (…) Mas o Facebook manteve-se imperturbável, até que várias grandes empresas aderiram à campanha, suspendendo a publicidade. (…) O efeito foi imediato: em três sessões de bolsa, o Facebook caiu cerca de 17% (…) Zuckerberg veio proclamar medidas para responder ao que até então não tinha considerado: limites quanto aos termos dos anúncios, mais vigilância e a recusa do racismo. Não teve efeito na confiança dos mercados, que continuaram nervosos. A empresa reagiu explicando que os cem maiores anunciantes só representam 6% do lucro (…) O problema é que o pior não é a contabilidade, é a má fama: o FB está a mostrar uma prosápia que desmente a lenda da plataforma aberta que põe toda a gente em comunicação feliz. E isso vai ser um problema para o seu futuro. Em qualquer caso, não é tranquilizante que a empresa prometa uma solução assente em vigilantes que monitorizarão as comunicações. (…) Há outra abordagem, que defende a liberdade de expressão e pune os discursos de ódio que a violam: é criar regras, um contrato entre a plataforma e o utilizador, responsabilizando uma e outro. (…) Não é preciso inventar nada, é só imperativo que não se finja que o FB não tem nada a ver com o que divulga. E cobrar-lhe essa pena.» Francisco Louçã, Gente de má famaFB.
  • «O acórdão do Tribunal da União Europeia que anula a multa à Apple põe em risco a luta contra a evasão fiscal, a credibilidade e legitimidade da Comissão Europeia e a cobrança de impostos pelos Estados-Membros. Já não se trata de admitir que a Irlanda se tornou um paraíso fiscal, ela tornou-se um paraíso fiscal à la carte, onde empresas como a Apple negociam o que pagam.» Yago Álvarez, El Salto.
  • Paciência, teimosia, resiliência, chamem-lhe o que quiserem. Foram precisas longas décadas para mandar abaixo a estátua de Edward Colston, um comerciante de escravos de Bristol. Mas logo outra se levantou, a de Ms. Reid. Apearam-na escassas horas depois. A hipocrisia em todo o seu esplendor.
  • Voos cancelados por causa da Covid-19? Faça como Kleon Papadimitriou. As saudades da família fizeram-no pedalar de Aberdeen, Escócia, para Atenas em 48 dias, com uma pausa em casa da avó, em Stuttgart, Alemanha. Iliana Magra, NYTimes.
  • O novo diretor da Voice of America não vai renovar os vistos de dezenas de estrangeiros que trabalham para aquela rádio estatal, para alegadamente proteger o emprego de cidadãos dos EUA. A verdade é que a Casa Branca considera “apodrecida” a totalidade da estrutura da VOA, tendo chegado a acusar a Voz da América de “amplificar a propaganda chinesa”. NPR.

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