Bico calado
- «(…) A associação desta personalidade ao Benfica é extremamente prejudicial para o clube. Muitos interrogam-se porque se não demarca o Benfica de tal personalidade. Como benfiquista sinto-me muito perturbado e envergonhado, questionando-me se o Benfica da minha juventude, se o Benfica que ergueu uma estátua a Eusébio é o mesmo que tem por "representante" um deputado do partido populista Chega que, despudoradamente, quer "enviar para a sua terra" uma deputada portuguesa negra? Que impacto tem esta associação nos jogadores negros do Benfica? Só pode ser desmoralizante. Que negro corre motivado e com gosto por um clube que permite que um racista fale em seu nome? Hoje é a deputada amanhã será o jogador, o treinador, ou qualquer membro da estrutura. Que impacto tem esta personalidade nos benfiquistas negros, portugueses ou estrangeiros? Só pode ser muito negativo. Que impacto tem esta personagem nos benfiquistas brancos que na sua esmagadora maioria repudiam o racismo e o preconceito? Também não é positivo. André Ventura afasta os benfiquistas do Benfica. Se fosse um verdadeiro benfiquista demitia-se voluntariamente. Como reagirão a UEFA e a FIFA, instituições que levam a cabo intensas campanhas antirracistas, ao saber que o Benfica tem como "defensor oficioso" num canal de TV André Ventura e que dele não se demarca? Luís Filipe Vieira tem obtido êxitos desportivos relevantes e não merece ficar associado a André Ventura, ao populismo e ao racismo. Mas se deles se não demarcar acabará inevitavelmente ligado a tais políticas, o que lhe dará um lugar de destaque pela negativa na História do Clube. É tempo do Benfica cortar com este comentador, não lhe permitir arrogar-se defensor do clube, quando na verdade só o prejudica, nem fazer-lhe chegar informação que o auxilie na sua prestação televisiva.» Jorge Fonseca de Almeida, in Jornal de Negócios 4fev2020.
- André Ventura contratou Patrícia Alexandra Martins Carvalho para sua assessora de Comunicação. Curiosamente, esta jornalista assinou, no Notícias ao minuto, dezenas de notícias acerca daquele deputado do Chega muito antes de ter sido contratada, sublinha Os truques da imprensa portuguesa.
- «Eu estava há pouco tempo na Lusa e era editora, o que quer dizer que tinha um cargo de chefia. E às 10h30 da noite tive de lidar com um assessor do anterior primeiro-ministro José Sócrates que tinha um relacionamento bastante complicado com os jornalistas e os assessores. Essa altura não foi nada fácil entre o Governo e os jornalistas. E o assessor ligou para mim, pediu para fazer as coisas de uma determinada maneira e eu expliquei-lhe que não podia ser assim como ele estava a dizer. Ele basicamente queria falar pelo primeiro-ministro, o que está tudo bem desde que possa ser citado, mas sem ser citado. Portanto, ele estava a dar-me um on [on-the-record] que não era um on, porque não lhe ia passar o telemóvel. Se eu tivesse ouvido aquilo do primeiro-ministro não havia problema em dizê-lo, mas ao mesmo tempo eu não podia citá-lo como assessor. Eu discuti isto com ele, expliquei-lhe. Ele, ainda por cima, é ex-jornalista portanto sabia perfeitamente do que é que eu estava a falar. Ele fez queixa ao meu diretor que estava em casa e o meu diretor deu-me uma ordem para fazer aquilo que ele estava a dizer e eu disse que não fazia e eu era a pessoa responsável na Lusa. Fisicamente, aquilo não podia passar sem ser por mim. E gerou-se ali um conflito. O diretor não tinha o computador com ele para fazer ele próprio a notícia que achava que se devia fazer. Teve que pedir a um diretor-adjunto que tinha o computador com ele e que fez a notícia sem me telefonar e pediu a outra jornalista que também nunca me telefonou para escrever um on que não era um on. A notícia que saiu na linha da Lusa dizia “o primeiro-ministro José Sócrates disse hoje à agência Lusa”, o que é falso porque ninguém o ouviu dizer. E aquilo saiu. O facto de eu ter rejeitado fazer aquilo teve várias consequências. No dia a seguir eu não era editora e fui enviada para uma secção durante dois anos que não escolhi.» Sofia Branco, in Convergente.
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