Reflexão –Enquanto a Amazónia arde (4)
- Ameaçados pelo fogo, deflorestação e invasão, o povo Xikrin do norte da Amazônia contra-ataca, escreve Fabiano Maisonnave no The Guardian: Enquanto as autoridades permanecem ociosas e o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, tenta minar os seus direitos territoriais, a comunidade indígena resolveu o problema com as suas próprias mãos expulsando os madeireiros e fazendeiros que ocuparam ilegalmente as suas terras e incendiaram a floresta. Munidos de espingardas e varapaus, grupos de guerreiros xikrin varreram o seu extenso território no estado do Pará na semana passada. Sempre que encontravam terras incendiadas, clareiras e habitações ilegais, iam de cabana em cabana, expulsando os invasores e confiscando motosserras e outras ferramentas. Legalmente, essa devia ser a tarefa da polícia federal. O território indígena Trincheira Bacajá foi oficialmente reconhecido pelo governo em 2000. Ninguém, exceto os 1.100 membros da comunidade Xikrin, tem o direito de viver nele. Mas os idosos sabem que há pouca esperança de que o governo faça valer os seus direitos. Os grileiros começaram a invadir a área em junho de 2018, usando uma estrada improvisada que tinha sido cortada na floresta por madeireiros ilegais. O Xikrin apresentou queixas às agências oficiais várias vezes, mas sem sucesso. Em julho, grileiros destruíram uma área de floresta virgem do tamanho de 1.500 campos de futebol. Estes problemas são antigos, mas Bolsonaro piorou as coisas. Em vez de defender os territórios do crime, os críticos dizem que ele mina repetidamente os indígenas nos seus discursos e nas suas políticas. Durante uma reunião com os governadores da região amazónica em 27 de agosto, BOlsonaro alegou que as comunidades nativas foram usadas por interesses estrangeiros para limitar o crescimento do Brasil. “[Os povos indígenas] não falam a nossa língua, mas de alguma forma conseguiram obter 14% do nosso território nacional”, disse Bolsonaro recentemente, acrescentando: “Um dos objetivos disso é prejudicar-nos.” Bekara Xikrin, chefe da vila Rapkô, disse que os grileiros foram encorajados pelo presidente. “Um cara [entre os invasores] nos disse que a terra é de acesso livre, que Bolsonaro concedeu acesso a ela, que essa não é uma terra indígena.” As ações de autodefesa dos Xikrin não assustaram os grileiros. Numa mensagem de áudio divulgada pelo WhatsApp, um deles avisou que cerca de 300 pessoas estavam a preparar um ataque contra uma aldeia indígena próxima. Para evitar a violência, a promotora federal da região, Thais Santi, solicitou formalmente uma ação pela polícia em 26 de agosto. Ela sugeriu a realização de uma operação dentro de 24 horas, mas dois dias depois nada aconteceu. Muitas outras terras indígenas na região do rio Xingu estão sob pressão semelhante. Esta bacia - uma das maiores da Amazónia – desenvolveu-se mercê da hidroelétrica de Belo Monte, que trouxe um fluxo de empresários e trabalhadores. O município em torno da principal cidade de Altamira lidera o Brasil em termos de surtos de incêndio. De 1 de janeiro a 26 de agosto, o município sofreu 2.566 incêndios, um aumento de 459% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Inpe. Vizinho da Trincheira, é o território indígena Apyterewa do povo Parakanã, que sofreu uma grande invasão de pecuaristas. Em julho, 28 Km2 foram desflorestados nesta área - a maior dentro de um território indígena brasileiro naquele mês, segundo o Imazon. Na mesma região, o território indígena Ituna / Itatá perdeu 9 km² de floresta no mês passado. Estas três terras indígenas são as mais afetadas no Brasil nas últimas semanas, segundo o Imazon. A pressão contra os Xikrin vem principalmente da pecuária. A indústria pecuária representa um forte apoio a Bolsonaro. Não muito longe do seu território, encontra-se São Félix do Xingu, município com o maior rebanho bovino do país, com 2,24 milhões em 2017.
- A empresa dona das marcas Kipling, Timberland e Vans confirma a suspensão de compra de couro brasileiro. A VF Corporation diz que defende a vida sustentável e já não tem segurança sobre matéria prima do Brasil. Folha de S. Paulo.
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