A divisão, não o consenso, pode ser a chave para o combate às alterações climáticas, defende Razmig Keucheyan no Guardian de 5 de maio.
As desigualdades estão piorando, graças à crise ambiental. Mas esta injustiça pode ser a nossa mais poderosa alavanca para a ação.
Ideias a reter:
(1) As probabilidades de exposição à poluição ou a resíduos tóxicos, são muito maiores se você pertencer à classe trabalhadora, ou a uma minoria racial, qualquer que seja o país onde viva. Os riscos naturais ou industriais são desigualmente distribuídos entre a população, uma vez que as áreas sujeitas a inundações ou bairros junto a fábricas de produtos químicos normalmente atraem famílias mais pobres por serem mais baratas; (2) A pobreza energética é um exemplo clássico de desigualdade ambiental. Na Grécia, muitas pessoas optaram por aquecer os seus apartamentos com madeira, porque passaram a gastar, por ano, apenas 250 euros em vez de mil. Esta subida da procura de madeira provocou o aumento no abate ilegal de floresta, o que, aliado ao despedimento de guardas florestais imposto pela política de austeridade, favoreceu a desflorestação; (3) As desiguldades ambientais não existem apenas dentro dos países, mas entre países e regiões. Ao explorar os recursos naturais dos países do sul e, consequentemente, ao prejudicar o seu ambiente, os países industrializados do norte têm uma enorme dívida ecológica para com eles, dívida que é muito maior do que a dívida financeira que o sul supostamente deve ao norte; (4) O conceito de racismo ambiental surgiu nos EUA no início dos anos 80; (5) A crise ambiental não será sentida da mesma maneira por toda a população. Sendo vividas no quotidiano dos indivíduos, as desigualdades ambientais representam uma poderosa alavanca de mobilização contra as alterações climáticas. Em vez de apelos abstratos para a comunidade internacional agir, o que deve ser sublinhado é o impacto diferenciado da crise climática sobre as populações. Por isso, a divisão, não a unidade, será a chave para vencer esta batalha.
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