O plano “Água que Une” que o Governo pretende ver concluído até ao final de 2024 prevê a construção de três novas barragens a instalar no Baixo Vouga, no Mondego e em Alportel. A razão apresentada pelo Governo para a concretização destes projetos reside na necessidade de garantir capacidade de encaixe das albufeiras para evitar situações de cheia, como se testemunhou recentemente com o drama que ocorreu na comunidade valenciana. No entanto, Rui Cortes, professor na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), diconsidera que “em circunstância alguma” a existência de barragens de retenção de cheia evitaria o que ocorreu na região espanhola.
Com a alusão aos temporais de Valência, o Governo pretende apenas “sensibilizar a opinião pública para um plano que está, essencialmente, virado para os aspetos agrícolas e para a seca”, critica o investigador. Quando se fala em seca e no combate que deve ser feito para a debelar com um grande programa de infra-estruturas da água que visam “transportar, reter e armazenar, com diferentes escalas”, através da construção de barragens e melhoria no maior número possível de barragens como se refere no plano “Água que Une”, subsiste uma contradição: a água será destinada ao regadio numa área do território (Alentejo e Algarve) onde escasseia.
“Estamos a ir atrás da satisfação dos interesses que têm sido revelados pelo agronegócio”, denuncia Rui Cortes, frisando que nas reuniões de trabalho sobre o plano do Governo, quando se discutem as interligações entres bacias, se exclua a agricultura intensiva e superintensiva — que utiliza grandes quantidades de água — como, por exemplo, o amendoal, o olival, os frutos vermelhos e o abacate.
Carlos Dias, Público.
Sem comentários:
Enviar um comentário