segunda-feira, 4 de março de 2024

REFLEXÃO – PELLETS: BARÓMETRO ANUAL DA INDÚSTRIA

Fotografias tiradas em seis grandes fábricas de pellets no Centro de Portugal mostram que são altamente dependentes de troncos de árvores inteiras, especialmente pinho, apesar das empresas afirmarem que apenas utilizam biomassa residual. A enorme procura de madeira pela indústria de pellets está a contribuir para o declínio acentuado dos povoamentos de pinheiro bravo em Portugal e as dificuldades de abastecimento de madeira a esta escala estão a levar ao encerramento de algumas fábricas de grandes dimensões.

Algumas receberam apoios públicos para a sua instalação, como a ATGreen, que era até ao momento a maior fábrica de Portugal, e a Futerra Fuels em Valongo - ambas as fábricas só funcionaram durante pouco mais de um ano. A fábrica Pinewells do Grupo Visabeira, em Arganil, que na atualidade é a maior fábrica do país, recebeu recentemente mais de 4 milhões de euros da UE para financiar a remodelação e modernização da fabrica, o que a ajudou a aumentar em 31% o valor dos seus negócios em 2022 enquanto outras fábricas de grande escala fechavam as portas. Para tal, centrou a sua produção quase exclusivamente no mercado de exportação de pellets industriais, com a maior parte da sua produção a ser destinada à central elétrica da Drax, no Reino Unido. A central elétrica da Drax continua a ser o maior consumidor individual de pellets portugueses e o Reino Unido o maior mercado de exportação.

Em 2022, cerca de 43% da produção nacional foi queimada em centrais elétricas no Norte da Europa.

É de referir que a queima de biomassa nas centrais elétricas é fortemente subsidiada, sendo exemplo a Drax, que recebe cerca de 2 milhões de euros por dia em subsídios às energias renováveis. Sem estes incentivos, a instalação de fábricas de pellets de grande escala em Portugal não seria economicamente viável e não teria acontecido.

Em 2022, em comparação com 2021, a produção portuguesa de pellets caiu ligeiramente para cerca de 750.000 toneladas, uma redução de 11,8%, refletindo uma tendência observada em toda a UE. A diminuição deve-se à queda da procura dos sectores da energia industrial e do aquecimento doméstico, em resultado dos fortes aumentos de preços associados à guerra na Ucrânia. A forte concorrência por matérias-primas escassas em Portugal, em particular rolaria de pinho, também foi um fator. A produção de pellets em Portugal em 2022, exigiu cerca de 1,4 milhões de toneladas de madeira, sendo que esta indústria continua a ser o segundo maior consumidor de pinho, representando 20% do consumo total.

Recomendações

Já é claro que a escassez de matérias-primas atingiu o ponto de ruptura para a indústria de pellets em Portugal, pelo que duas das maiores fábricas do país foram forçadas a fechar as suas portas nos últimos dois anos.

O governo português deve introduzir um plano para eliminar gradualmente as fábricas de pellets de grande escala em Portugal. Isto permitiria uma maior proteção das florestas de pinheiro em rápido declínio em Portugal, reduziria a contribuição de Portugal para os impactos climáticos da produção de energia e ajudaria a proteger outros utilizadores industriais de pinho que produzem bens de maior valor e não o queimam, como serrações e fabricantes de painéis de madeira.

Para tal, são apresentadas quatro exigências:

- Parar com o financiamento público para a instalação, remodelação ou aumento de capacidade das indústrias de pellets.

- Introduzir parecer vinculativo do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas relativo à sustentabilidade do abastecimento florestal, tanto para o licenciamento de novas fábricas, como para o aumento da capacidade de produção das existentes. Apesar da disponibilidade de madeira ser cada vez mais escassa, a indústria das pellets está a competir com outros setores que fabricam produtos de maior valor acrescentado e que mantêm o carbono sequestrado por muito mais tempo, como a indústria de serração, painéis de madeira, postes, varas e usos exteriores.

- Aumentar o financiamento público para a gestão florestal, de forma a inverter a tendência de declínio. 

- Avaliar o real impacto da indústria dos pellets na floresta Portuguesa e na restante indústria que compete pela biomassa florestal.

Fonte: Zero.

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