A Polícia
Judiciária de Vila Real realizou dezenas de buscas no âmbito da Operação Gota
d'Água, que investiga a atividade fraudulenta de um laboratório responsável
pela colheita e análise de águas destinadas a consumo humano, águas residuais,
águas balneares, piscinas, captações, ribeiras, furos, poços e outras. Entre
os locais das 60 buscas realizadas estão as Câmaras de Vila Flor, Mirandela,
Alfândega da Fé, Macedo de Cavaleiros, Miranda do Douro e Mogadouro, além do
laboratório responsável pelas análises, - Laboratório Regional de
Trás-os-Montes -, detido a 50% pela AGS,
também presente na privatização dos sistemas municipais de água.
O laboratório visado procedia à falsificação de todos os procedimentos de amostragem e análises relativas ao controlo de águas de consumo humano contratadas pelas entidades gestoras (Câmaras Municipais, Entidades Intermunicipais ou outras entidades em que foi concessionado aquele serviço público), em conluio com alguns dos funcionários, dirigentes e eleitos locais destas entidades. O objetivo da falsificação era reduzir os custos do laboratório, colocando assim em causa a confiança e fiabilidade dos resultados das análises e, consequentemente, a qualidade da água ingerida diariamente pelas comunidades.
A operação policial deteve 20 pessoas, com idades
compreendidas entre os 25 e 61 anos de idade, que são funcionários e dirigentes
do laboratório, funcionários, dirigentes e eleitos locais das Entidades
Gestores e ou empresas (câmaras municipais e empresas concecionárias) e serão
presentes a interrogatório judicial.
Além dos municípios visados, o laboratório em causa viu
serem adjudicadas nos últimos anos diversas análises às águas por parte de
muitas outras autarquias, como Resende, Alijó, Bragança, Lamego, Boticas,
Macedo de Cavaleiros, Marco de Canaveses, São João da Pesqueira, Moimenta da
Beira, Guarda, Sabugal, entre outras, e por empresas como a Águas do Norte,
Águas do Vale do Tejo, Águas Públicas da Serra da Estrela ou a AdRA - Águas da
Região de Aveiro.
O laboratório é detido em 50% pela multinacional AGS, antiga empresa do grupo Somague e adquirida em 2014 por capitais japoneses. João Faria Feliciano é o seu CEO em Portugal. A empresa tem atividade aberta no Brasil, Chile, Angola, Espanha, Roménia, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné, Filipinas e Timor Leste. Em Portugal está ativa na privatização dos sistemas municipais de água, com participação entre 40% e 100% do capital de onze empresas de norte a sul do país.
Refira-se que gerente do laboratório visado foi notícia
na última década pelos conflitos com as populações de Barcelos, Paços de
Ferreira e Marco de
Canaveses, que viram as faturas da água disparar após
os seus municípios terem concessionado o abastecimento de água a esta empresa.
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