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quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Reflexão: Carta para um jornalismo à altura da emergência ecológica

O consenso científico é claro: a crise climática e o rápido declínio da biodiversidade estão em curso, e a culpa é das atividades humanas. Os impactos nos ecossistemas e nas sociedades humanas são generalizados e, para alguns, irreversíveis. Os limites planetários estão a ser ultrapassados ​​um após o outro e quase metade da humanidade já vive numa situação de elevada vulnerabilidade.

No seu sexto relatório, o Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas sublinha o papel crucial dos media no “enquadramento e transmissão de informações sobre as alterações climáticas”. Cabe a todos os jornalistas enfrentar o desafio que o clima descontrolado representa para as gerações atuais e futuras. Perante a absoluta urgência da situação, os jornalistas devem mudar a forma como trabalham para integrar plenamente esta questão no processamento da informação.

Este é o propósito desta carta. Convidamos, portanto, a profissão a:

1 Tratar o clima, os seres vivos e a justiça social de forma transversal. Esses assuntos são inseparáveis. A ecologia não deveria limitar-se a um simples título; deve tornar-se um prisma através do qual considerar todos os assuntos.

2 Fazer pedagogia. Os dados científicos relativos a questões ecológicas são frequentemente complexos. É necessário explicar as ordens de grandeza e as escalas de tempo, identificar as ligações de causa e efeito e fornecer elementos de comparação.

3 Questionar o léxico e as imagens utilizadas. É fundamental escolher as palavras com cuidado para descrever os factos com precisão e transmitir a urgência. Evitar imagens banais e expressões fáceis que distorcem e minimizam a gravidade da situação

4 Expandir o tratamento dos problemas. Não encaminhar as pessoas apenas para a sua responsabilidade individual, porque a maior parte das convulsões são produzidas a nível sistémico e exigem respostas políticas.

5 Investigar as origens das convulsões atuais. Questionar o modelo de crescimento e os seus atores económicos, financeiros e políticos, e o seu papel decisivo na crise ecológica. Lembrar que considerações de curto prazo podem ser contrárias aos interesses da humanidade e da natureza.

6 Garantir transparência. A desconfiança nos media e a difusão de informações falsas que colocam os factos em perspectiva exigem a identificação cuidadosa das informações e dos especialistas citados, identificar claramente as fontes e revelar potenciais conflitos de interesses.

7 Revelar as estratégias utilizadas para semear dúvidas na mente do público. Certos interesses económicos e políticos trabalham ativamente para construir declarações que induzem em erro a compreensão dos sujeitos e atrasam a ação necessária para enfrentar as convulsões em curso.

8 Informar sobre as respostas à crise. Investigar rigorosamente formas de agir face às questões climáticas e de vida, qualquer que seja a sua escala de aplicação. Questionar as soluções que nos são apresentadas.

9 Fazer formação contínua. Para ter uma visão global das convulsões em curso e do que elas implicam para as nossas sociedades, os jornalistas devem ser capazes de formar-se ao longo das suas carreiras. Este direito é essencial para a qualidade do processamento da informação: todos podem exigir que o seu empregador seja formado em questões ecológicas.

10 Rejeitar o financiamento das atividades mais poluentes. A fim de garantir a consistência do tratamento editorial das questões climáticas e de vida, os jornalistas têm o direito de expressar destemidamente o seu desacordo com o financiamento, a publicidade e as parcerias com os media ligadas a atividades que consideram prejudiciais.

11 Consolidar a independência da equipa editorial. Para garantir uma informação livre de qualquer pressão, é importante garantir a sua autonomia editorial em relação aos proprietários dos seus meios de comunicação.

12 Praticar jornalismo de baixo carbono. Atuar no sentido de reduzir a pegada ecológica das atividades jornalísticas, nomeadamente através da utilização de ferramentas menos poluentes, sem se desligar do necessário trabalho de campo. Privilegiar o uso de jornalistas locais.

13 Cultivar a cooperação. Participar num ecossistema midiático unido e defender em conjunto uma prática jornalística preocupada em preservar as boas condições de vida na Terra.

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