quinta-feira, 14 de julho de 2022

Reflexão - «fala-se em "floresta", "fogos rurais", só se vê eucalipto a arder»

  • «Abram qualquer canal de notícias e vejam o que arde - eucalipto. A palavra não é pronunciada - fala-se em "floresta", "fogos rurais", só se vê eucalipto a arder. É o fantasma, tem cor, tem cheiro, queima, destrói, imparável, mas não tem nome. O seu nome foi suprimido das notícias. Façam esse exercício com qualquer imagem. Vale a pena isto? O eucalipto rende 7%. É super rentável. É verdade, é do mais rentável que há no campo. No mercado mundial plantar batatas dá prejuízo, a fome ameaça os pobres do mundo, o eucalipto rende 7%. É um "investimento". As armas são mais rentáveis. Medicamentos que não curam também. Qual é o preço deste inferno "rentável" e até quando o vamos permitir? Queremos viver num mercado rentável ou numa sociedade sustentável? Não esgrimam o argumento estatístico para crianças de 5 anos de que as explorações das celuloses não ardem. Primeiro, ardem. E já arderam. Mesmo assim representam uma ínfima parte. E estão ordenadas, com guardas florestais, helicópteros, e vigilância 24 horas/dia. Mas o negócio das celuloses não é ter explorações. Isso é uma ínfima parte. O negócio é outro. É esperar que milhares de pequenos proprietários no país plantem eucalipto, em qualquer lado. Uma parte irá arder, mas outra vai ser rentável, uma roleta russa. Quem planta fá-lo perto de casas e aldeias - os accionistas das celuloses não vivem em aldeias rodeadas de eucalipto. (...) Enquanto existirem manchas ininterruptas de eucalipto, com um campo abandonado, sem biodiversidade, com as populações concentradas nas cidades, e o eucalipto for lucrativo, podem cortar todos os matos e chamar todos os bombeiros e meios que o país vai arder. (…) País encaliptado vai arder, mesmo que lhe chamemos "floresta", mesmo que a comunicação política insista em dizer que a culpa é de quem não limpa matos ou das ondas de calor. A destruição ecológica não causa fogos no eucalipto por ondas de calor, são os eucaliptais que provocam a destruição ecológica porque são parte da política predatória dessa onda de calor chamada "capitalismo", "mercado", "investimento".» Raquel Varela, aqui e aqui.
  • «Como habitual anunciou milhões de euros em fundos comunitários para resolver problemas estruturais, mas em todo o seu discurso Costa ignora o facto de ser primeiro ministro desde 2015. Quantos hectares de floresta foram convertidos de monocultura de eucalipto e pinheiro para espécies mais resilientes em territórios vulneráveis deste então? Quantos ha de florestas mistas foram plantados ou semeados até ao momento? Quantos pequenos agricultores localizados em áreas vulneráveis passaram a receber apoios da PAC para não abandonarem a atividade e continuarem a garantir a fragmentação da paisagem e a proteção dos povoamentos? Que investimento extra foi concretizado ao longo do seu mandato para garantir gestão coletiva em território vulnerável, quantos hectares e quantos proprietários florestais? Onde está o prometido ecoregime da PAC para apoiar a implementação das Áreas Integradas de Gestão da Paisagem (ausente do plano estratégico apresentado em Bruxelas)?» Ricardo Vicente.

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