- Duas das empresas que serão julgadas em Espanha por corrupção e manipulação do mercado de contratação de aviões de combate a incêndios dividiram um contrato de 43 milhões de euros da Força Aérea Portuguesa. A empresa que ganhou o aluguer de quatro aviões contratou dois à principal concorrente. O esquema passaria pela corrupção de políticos através da oferta de carros, relógios, armas ou estadias em hotéis. Um deles, Serafín Castellano, do Partido Popular, que foi conselheiro da comunidade de Valência, terá lucrado pelo menos 163,7 mil euros. Para além disso, dividiam o mercado da contratação e acordavam entre si as condições que eram apresentadas nos concursos. Alguns destes ficavam sem concorrentes de forma a que novo processo fosse lançado por um preço maior. Esta concertação ter-lhes-á rendido 151,5 milhões de euros, o que significou um aumento de 236% nos preços. Usavam ainda uma frota de aviões em conjunto e quando uma ganhava um concurso tratava de arrendar aviões a uma das outras empresas para os lucros serem partilhados. A Força Aérea lançou um concurso de 43,4 milhões de euros para alugar quatro aviões anfíbios para combater fogos. A empresa que ganhou o concurso, a Agro-Montiar, sub-alugou dois aviões à dona da empresa que ficou em segundo lugar, a CCB Serviços Aéreos. Ambas são atualmente detidas por empresas espanholas envolvidas no caso. A Agro-Montiar pertence desde 2014 à Aviacion Agricola de Levante que por sua vez integra a Titan Firefighting, o novo nome da Avialsa que foi rebatizada pelo seu dono, Vicente Huerta, depois do escândalo. A CCB Serviços Aéreos foi vendida à Martínez Ridao em 2019, quatro meses após ter ganho um concurso de 8.2 milhões de euros para alugar dos aviões de combate. Para além do envolvimento no caso espanhol, esta também foi multada no início do ano em cinco milhões de euros no Chile por práticas semelhantes. As autoridades portuguesas não desconhecem estas empresas. O Departamento de Investigação e Ação Penal investigou, durante três anos, dois contratos da Avialsa no valor de 3,8 milhões de euros mas o caso acabou arquivado por falta de provas. Expresso, via Esquerda.
- Um conjunto de famílias afetadas por subidas abusivas de rendas, organizadas pelos sindicatos de inquilinos, ocuparam dois hotéis da Blackstone em Madrid e Barcelona. Acusam o fundo especulativo norte-americano de aumentos abusivos e práticas especulativas. El Salto, via Esquerda.
- NATO não sabe por onde andam os 10 mil milhões de dólares em armas dadas à Ucrânia. EUA, União Europeia e NATO temem que parte das armas desapareça e sejam vendidas para grupos criminosos ou apareçam nas mãos de terroristas neonazis fora da Ucrânia. AbrilAbril.
- "O recente caso dos Uber Files reforçou a minha decisão de abandonar o jornalismo de investigação. Os escândalos sucedem-se, mas o quadro sistémico é sempre suprimido ou simplesmente ignorado. Primeiro, quais foram os elementos estratégicos da campanha de lóbi da Uber? Até agora, eram políticos a nível da UE, nacional e municipal; meios de comunicação empresariais; e académicos. O que todos eles têm em comum, com excepções, é que estas pessoas foram subornadas para agirem no interesse da Uber. No entanto, as palavras suborno e corrupção não apareceram num único artigo, declaração de ONG, ou tweet. No entanto, estes foram acordos quid pro quo, dinheiro por influência. O que se tem de entender com corrupção é que quid pro quo não significa uma troca imediata. É possível entregar a própria parte do acordo e cobrar a taxa recíproca mais tarde. A ex-comissária da UE Neeli Kroes é um exemplo típico. Como era comissária da UE, a Uber prometeu-lhe mais tarde uma posição generosamente remunerada no seu conselho. Por seu lado, durante o seu mandato e posteriormente, utilizou o seu poder e influência para promover os interesses financeiros da Uber. Depois de deixar a UE, esperou até esgotar o chamado period de nojo de 18 meses (embora durante este período estivesse ativa para a Uber) antes de entrar oficialmente para o conselho consultivo de Uber. Os registos mostram que a Uber lhe ofereceu 200.000 dólares por ano para presidir ao conselho. Tais reciprocidades também podem ser implícitas: "Cumprirei a minha parte do acordo e contatar-vos-ei quando precisar de alguma coisa". Isto não tem de ser em dinheiro. Pode ser um trabalho para o filho ou sobrinha, acesso a ações, influência. Que este sistema funciona tão bem - sem contratos escritos - é a prova da confiança que os participantes nele depositam. Outros políticos que sabemos terem sido abordados pela Uber são o antigo vice-presidente dos EUA Joe Biden, o ex ministro da Economia francês Emmanuel Macron, o ex primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, o ex primeiro-ministro irlandês Enda Kenny. Com os principais media, a estratégia da Uber era oferecer a estas grandes empresas a venda de ações muito cobiçadas, dando-lhes um pedaço da ação. Isto funcionou extremamente bem com o conglomerado alemão Springer. Outros investidores dos media que compraram ações da Uber incluíram Lord Rothermere, proprietário do britânico Daily Mail; Ashley Tabor-King, fundador do maior grupo de rádio comercial da Europa; Bernard Arnault, CEO do conglomerado de bens de luxo LVMH, que é a empresa-mãe do diário financeiro francês Les Echos; e Carlo de Benedetti, editor do semanário italiano L'Espresso. Será esta a liberdade de imprensa que nos preocupa tanto afirmar que defende a democracia? Não, os media corporativos são a subversão da democracia e do mercado livre, se é que alguma vez existiu. Acrescente-se a isto os académicos influentes, que foram pagos para fabricar estudos destacando as vantagens questionáveis da Uber para o bem comum. Um académico francês terá escrito um relatório dizendo que a Uber era um "caminho para sair dos banlieues franceses", citado no Financial Times. Honorários de consultoria para o relatório? 100.000 euros. Um conhecido economista alemão fez o mesmo, recebendo apenas 40.000 euros. O seu estudo recebeu um selo de legitimidade, pois foi realizado em colaboração com um ramo de consultoria do prestigioso Instituto Alemão de Investigação Económica. Por mais 4.000 euros, o professor alemão escreveu um artigo que apareceu num influente jornal comercial alemão, que diz ser uma fonte de informação séria. Não sejamos ingénuos e assumamos que a Uber inventou subitamente este esquema de corrupção agressivo para alcançar influência na classe política, nos media corporativos e nas redes sociais. Temos de perceber que milhares de corporações estão a fazer o mesmo. Isso significa que, para o exemplo da Neeli Kroes que veio à luz, há outros 999 de que nada sabemos. Isto está a acontecer a toda a hora. É por isso que o sistema político na Europa funciona de acordo com o interesse das corporações e não do povo. É considerado o direito da classe dominante. Mas isso nunca é um tópico nos muitos artigos escritos sobre os Uber Files. E os perpetradores desta subversão da democracia, teoricamente responsáveis pela sua proteção, vendem-na diariamente a quem der a oferta mais alta. Não haverá quaisquer consequências para eles, nem o esperamos realmente. Em vez disso, esperaremos ansiosamente pelos próximos ‘files’ excitantes e pensemos "Que fixe que são a liberdade de imprensa e a democracia liberal"! Os Uber Files levantam uma série de questões, que na realidade ninguém está a colocar. Alguém pensou que não há nenhum projeto de jornalismo de investigação sedeado em Bruxelas e praticamente nenhum relatório de investigação proveniente de lá. É possível encontrar todos os anos centenas de artigos sobre corrupção no Quirguizistão, Tajiquistão, Uzbequistão, Cazaquistão por organizações de jornalismo de investigação. E a UE em Bruxelas? Lembremo-nos então que tais ‘files’ não são o resultado de longas e árduas pesquisas. Vêm de denunciantes que contatam jornalistas, fornecendo-lhes uma enorme quantidade de e-mails e documentos. Isto não são os media a monitorizar ativamente a nossa democracia. É estar à espera de capitalizar sobre o próximo sensencionalismo. (…)» Mathew D. Rose, Uber Files: Another victory for EU corruption - BNE.
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