domingo, 3 de julho de 2022

Bico calado

Diferença entre refugiados ucranianos e africanos, segundo a União Europeia. Por Carlos Latuff.

  • Os EUA vão enviar cerca  de 55 milhões de dólares para ajudar o Afeganistão após o terramoto. Este novo financiamento eleva a ajuda total dos EUA ao Afeganistão para mais de 774 milhões de dólares no último ano. The Hill/Yahoo News. Ai sim? Mas então como é? EUA congela quase 9,5 mil milhões de dólares de ativoss do Banco Central do Afeganistão. Bloomberg,17ago2021.
  • «(…) E todas as noites Zelensky, o Presidente dos ucranianos, aparece-lhes na televisão, vestido com a sua eterna T-shirt verde-militar, a prometer mais guerra e a pedir aos amigos da NATO novas e mais mortíferas armas para combater os russos. Fora isso, e das raras vezes que vai ao terreno, curio­samente só vemos Zelensky entre militares — discursando-lhes, condecorando-os, exortando-os a prosseguir o combate —, mas jamais o vemos entre os civis, prometendo-lhes mais sangue, suor e lágrimas e encorajando-os a sofrer mais morte e destruição sem fim à vista. Uma falha na meticulosa operação de imagem do Churchill dos tempos modernos. (…) A guerra na Ucrânia convinha e convém à Grã-Bretanha cujo primeiro-ministro precisa desesperadamente de causas externas — a Ucrânia, a violação dos acordos do ‘Brexit’, a expulsão dos emigrantes negros para o Ruanda — para que o seu patético desempenho do cargo lhe permita ainda flutuar durante uns tempos mais à tona da sua mediocridade política. Biden precisa da Ucrânia para fazer esquecer a vergonha da retirada do Afeganistão, para substituir junto dos europeus os fornecimentos de gás e petróleo de Moscovo e para lhes vender armas, pois que, desgraçadamente, toda a política americana está cativa dos fabricantes de armas: quer a política interna quer a política externa. E a NATO, nas mãos desse sinistro Stoltenberg, tem tudo a ganhar: importância acrescida depois de ter estado à beira da morte, novos membros e novas áreas de actuação, mais poder militar e mais poder político, recuperando os EUA como líder indispensável em troca de subscrever e acompanhar todos os seus interesses estratégicos, até aos mares da China, se necessário, e como Stoltenberg já foi avisando. (…)» Miguel Sousa Tavares, Prisioneiros de guerra – Expresso 17jun2022.

  • Lyudmyla Denisova foi demitida do seu cargo de representante dos direitos humanos após voto de censura aprovado pelo parlamento ucraniano. No cerne da decisão estiveram, entre outros fatores, as notícias falsas que divulgou acerca de casos de violações levadas a cabo por militares russos. Fontes: Deutsche Welle, Newsweek e The Wall Street Journal.
  • «(…) as mulheres pobres, oprimidas, violentadas, desesperadas ou, simplesmente, infelizes que vão engravidar e, se nada se alterar, irão morrer a tentar abortar sem assistência médica adequada. Morrerão em nome da “Defesa da Vida”Pedro Tadeu, A luta antiaborto é uma luta pelo poder político? - Diário de Notícias, 29jun2022.
  • «Direito de Resposta a artigo de opinião do Embaixador de Israel em Portugal, “Entre o Orgulho e o Preconceito”, jornal Público, 21 de Junho. Face à exigência do jornal Público de condicionar - amenizando - o conteúdo do nosso legítimo Direito de Resposta ao artigo de opinião "Orgulho e Preconceito" (da autoria do embaixador de Israel em Portugal, Dor Shapira, publicado naquele jornal a 21 de Junho), e considerando a sua recusa de publicação sem que fossem eliminadas do nosso Direito de Resposta a palavra "genocídio" e a descrição de várias das sucessivas resoluções das Nações Unidas sobre o conflito israelo-palestiniano (incluindo a Resolução 37/123 da Assembleia-Geral da ONU, de 1982, que determina os massacres nos campos de refugiados de Sabra e Shatila, no mesmo ano, como tendo sido "um ato de genocídio"), publicamos o referido Direito de Resposta pelos nossos meios, sem prejuízo do encaminhamento para a Entidade Reguladora da Comunicação Social de uma queixa por manifesta violação da Lei de Imprensa.» Marcha do Orgulho LGBTI+ de Lisboa.
  • «O que os ocidentais designam por Ocidente ou civilização ocidental é um espaço geopolítico que emergiu no século XVI e se expandiu continuamente até ao século XX. Na véspera da Primeira Guerra Mundial, cerca de 90% do globo terrestre era ocidental ou dominado pelo Ocidente: Europa, Rússia, as Américas, África, Oceânia e boa parte da Ásia (com parciais excepções do Japão e da China). A partir de então o Ocidente começou a contrair: primeiro com a revolução Russa de 1917 e a emergência do bloco soviético, depois, a partir de meados do século, com os movimentos de descolonização. O espaço terrestre (e logo depois, o extraterrestre) passou a ser um campo de intensa disputa. Entretanto, o que os ocidentais entendiam por Ocidente foi-se modificando. Começara por ser cristianismo, colonialismo, passando a capitalismo e imperialismo, para se ir metamorfoseando em democracia, direitos humanos, descolonização, auto-determinação, “relações internacionais baseadas em regras” – tornando sempre claro que as regras eram estabelecidas pelo Ocidente e apenas se cumpriam quando servissem os interesses deste – e, finalmente, em globalização. Em meados do século passado, o Ocidente havia encolhido tanto que um conjunto de países recém-independentes tomou a decisão de não se alinhar nem com o Ocidente nem com o bloco que emergira como seu rival, o bloco soviético. Assim se criou, a partir de 1955-61, o Movimentos dos Não-Alinhados. Com o fim do bloco soviético em 1991, o Ocidente pareceu passar por um momento de entusiástica expansão. Foi o tempo de Gorbatchev e o seu desejo de a Rússia integrar a “casa comum” da Europa, com o apoio de Bush pai, um desejo reafirmado por Putin quando assumiu o poder. Foi um período histórico curto, e os acontecimentos recentes mostram que, entretanto, o “tamanho” do Ocidente sofreu uma drástica contração. No seguimento da guerra da Ucrânia, o Ocidente decidiu, por sua própria iniciativa, que só seria ocidental quem aplicasse sanções à Rússia. São neste momento cerca de 21% dos países membros da ONU, o que não chega a ser 15% da população mundial. A continuar por este caminho, o Ocidente pode mesmo desaparecer. (…)» Boaventura de Sousa Santos, O encolhimento do Ocidente - Outras palavras.

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