Tal como os incêndios florestais, as secas espalham-se
com o vento, conclui um estudo publicado na Nature
Geoscience. Investigadores da Universidade de Gand na Bélgica descrevem que uma
área sujeita a uma seca severa se espalhará e contribuirá para a seca de áreas
a favor do vento.
Este fenómeno é particularmente pronunciado em zonas
áridas, onde a evaporação está diretamente relacionada com a humidade do solo e
menos com a vegetação. Em períodos de seca severa, a evaporação da água do solo
é reduzida e o ar é, portanto, muito seco. Este ar seco limitará o
abastecimento atmosférico de água nas zonas a jusante e, por conseguinte,
aumentará a seca. "É um círculo vicioso", diz Diego Miralles,
co-autor do estudo. O solo seco produzirá ar seco que, por sua vez, secará o
solo a jusante, e assim por diante.
Esta descoberta não é totalmente nova. Os hidrólogos
sabem que uma diminuição da evaporação reduz a precipitação localmente. E
inversamente, perante uma aumento de evaporação, pode verificar-se o aumento da
precipitação numa região. "Mas até agora, ninguém identificou uma
propagação da seca no sendido do vento", diz Diego Miralles, ecologista da
Universidade de Ghent. As regiões tropicais e zonas temperadas são menos afetadas
graças às florestas, que, ao humedecerem o ar, quebram este mecanismo de
secagem contínua do solo e do ar.
Utilizando dados das quarenta secas mais recentes do
mundo, a equipa de Gand conseguiu quantificar a parte relacionada com este
mecanismo de auto-propagação. Em zonas áridas, a precipitação pode diminuir entre
15% e 30%. Em regiões mais a norte, esta proporção não excede 10%. "Com as
alterações climáticas e a diminuição da humidade do solo, este fenómeno pode
também tornar-se mais pronunciado na Europa", diz Diego Miralles. "À
luz das projetadas reduções generalizadas da disponibilidade de água, este
feedback poderá exacerbar ainda mais futuras secas", sublinham os autores.
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