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sexta-feira, 4 de março de 2022

Reflexão: Rússia interrompe sonho ucraniano do lítio?

O subsolo da Ucrânia contém uma riqueza mineral vasta e inexplorada que poderia conter as chaves para um futuro lucrativo e de energia limpa para aquela nação.

Os investigadores ucranianos têm especulado que a região oriental do país detém perto de 500.000 toneladas de óxido de lítio, uma fonte de lítio, um mineral crítico para a produção das baterias que alimentam os veículos elétricos. Se esta avaliação preliminar se concretizar, faria das reservas de lítio da Ucrânia uma das maiores do mundo.

Mas a invasão russa surgiu precisamente quando a Ucrânia, sob o presidente Volodymyr Zelensky, estava a tentar posicionar-se como um dos principais atores na transição para a energia limpa - uma evolução para um país que há muito construiu a sua economia baceada em carvão, ferro, titânio e outras indústrias.

No final do ano passado, a Ucrânia começou a leiloar licenças de exploração para desenvolver as suas reservas de lítio, bem como de cobre, cobalto e níquel. Todas são recursos naturais que desempenham papéis críticos na tecnologia de energia limpa, essenciais para o abandono dos combustíveis fósseis que os cientistas dizem ser necessário para afastar as piores consequências das alterações climáticas.

A mudança tem uma "importância estratégica para o estabelecimento da Ucrânia na cena global”, disse Roman Opimakh, chefe do Serviço Geológico Estatal da Ucrânia, em maio passado.

O potencial da Ucrânia para a produção de lítio tinha começado a atrair a atenção global. Em novembro, a European Lithium, uma empresa australiana, disse que estava em vias de garantir direitos a dois promissores depósitos de lítio na região de Donetsk, na Ucrânia oriental, e Kirovograd, no centro do país. A empresa disse na altura que pretendia tornar-se o maior fornecedor de lítio da Europa. No mesmo mês, a empresa chinesa Chengxin Lithium também solicitou direitos sobre os depósitos de lítio em Donetsk e Kirovograd.

Embora o lítio não seja um recurso particularmente raro, é neste momento praticamente insubstituível em baterias, e espera-se que a procura dispare à medida que o número de veículos elétricos aumente, forçando os construtores de automóveis a garantir um abastecimento suficiente. Os preços do lítio subiram até 600% ao longo do último ano.

E há preocupações crescentes de que o fornecimento mundial de lítio, bem como de outros minerais críticos para a transição de energia limpa, seja controlado por um punhado de países. A China, a República Democrática do Congo e a Austrália representam três quartos da produção mundial de lítio, cobalto e terras raras. No início desta semana, 17 peritos militares escreveram uma carta a Lloyd Austin, o Secretário de Defesa dos EUA, sublinhando a necessidade de os EUA facilitarem o seu acesso aos minerais.

"Pode não ser a motivação para a invasão, mas há uma razão pela qual a Ucrânia é tão importante para a Rússia. E é essa a sua base mineral, juntamente com a produção agrícola da nação", disse Rod Schoonover, um cientista e antigo diretor de ambiente e recursos naturais do Conselho Nacional de Informações, que dirige agora o Grupo de Futuros Ecológicos. "Esta invasão põe esses minerais em jogo". NYTimes, via The NYLedger.

Refira-se que, em julho de 2021, a UE e a Ucrânia lançaram uma parceria estratégica sobre matérias-primas com enfoque no lítio para as gigafábricas de baterias em construção em França e na Alemanha. Os bancos europeus, o BEI e o BERD, irão também mobilizar instrumentos financeiros e de investimento para apoiar projetos concretos. O apoio destes bancos foi fundamental para a criação das fábricas de baterias NorthVolt na Suécia e na Alemanha, que irão fornecer a Volkswagen e outros fabricantes europeus de veículos elétricos. EENews.

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