Bico calado
- O ministro dos negócios estrangeiros do Luxemburgo
afirmou aos microfones da rádio 100,7 que a guerra na Ucrânia "só pode ser
interrompida se as ações de Putin puderem ser interrompidas. Não consigo ver
outra maneira (…) tudo o que poderia desejar é que ele [Putin] também fosse
fisicamente eliminado". Depois, metendo os pés pelas mãos, veio
desculpar-se: "Mesmo depois de 18 anos como Ministro das Relações
Exteriores, não consigo reprimir as minhas emoções e o meu senso de justiça,
diante de tão imensurável sofrimento humano provocado a pessoas inocentes. Foi
um erro, mas também uma válvula de escape, na tentativa de lidar com a
situação.» Wort.
- "O atual conflito com a Rússia começou no rescaldo
da Guerra Fria. A diminuição das despesas militares asfixiou a indústria de
armamento nos EUA e noutros países da NATO. Em 1993, o Secretário Adjunto da
Defesa William Perry convocou uma reunião com executivos. Os participantes
chamaram-lhe a "Última Ceia". Numa atmosfera pesada de mal-entendidos,
Perry informou os seus convidados que ataques iminentes ao orçamento militar
dos EUA exigiam a consolidação da indústria. Seguiu-se uma onda frenética de
fusões e aquisições, uma vez que Lockheed, Northrop, Boeing e Raytheon se reforçaram
à custa da extinção de empresas mais pequenas. Enquanto a procura interna encolhia, os empreiteiros da
defesa apressaram-se a assegurar novos mercados estrangeiros. Em particular,
puseram os seus olhos no antigo bloco soviético, considerando a Europa Oriental
como uma nova fronteira de acumulação. "A Lockheed começou a olhar para a
Polónia logo após a queda do muro", recorda Dick Pawlowski "Havia empreiteiros a inundar todos esses
países". Os fabricantes de armas tornaram-se os lobistas mais agressivos da
expansão da NATO. (…) Em duas décadas, 14 países da Europa Central e Oriental aderiram à NATO. Originalmente, a organização existia para
conter a União Soviética, e os funcionários russos monitorizaram o seu avanço
com alarme. Em retrospetiva, a expansão pós-guerra beneficiou os fabricantes de
armas, não só aumentando o seu mercado como estimulando o conflito com a
Rússia. (....) os membros mais recentes da NATO tinham entretanto comprado quase 17 mil milhões de
dólares em armas americanas. Instalações militares, incluindo seis postos decomando da NATO, proliferaram em toda a Europa de Leste. Temendo uma maior
expansão, a Rússia anexou a Península da Crimeia e interveio na região de
Donbass, alimentando uma guerra feroz e interminável. Os porta-vozes da NATO
argumentaram que a crise justificava a expansão. Na realidade, a expansão da NATO
foi um fator chave da crise. E a conflagração foi um presente para a indústria
de armamento. Em cinco anos, as principais exportações de armas dos EUA aumentaram 23%, enquanto as exportações francesas
registaram um salto de 72%, atingindo os seus níveis mais altos desde a Guerra
Fria. Entretanto, as despesas militares europeias atingiram níveis recorde. (....) mesmo com o aumento dos orçamentos militares, os
fabricantes de armas europeus - tal como os seus homólogos americanos - têm
exigido aos mercados estrangeiros que ultrapassem as restrições fiscais e os
custos de produção. Eles precisam de clientes para financiar a sua própria
acumulação militar: guerras estrangeiras para financiar a defesa interna». Jonathan
Ng, Truthout.
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