«Olhando para as projecções avançadas pela Climate Central
para 2030 de inundações anuais relacionadas com a subida do nível das águas do
mar no território português, saltam à vista os estuários do Tejo e do Mondego,
mas é a mancha vermelha da zona de Aveiro a que mais assusta.
“Definitivamente, não creio que tenhamos condições para
continuar a investir dinheiros públicos para proteger interesses privados. Não
podemos estar com medidas pontuais para proteger algo que não é possível mais
proteger”, afirma Adriano Bordalo e Sá, hidrobiólogo, investigador do Instituto
de Ciências Biomédicas Abel Salazar. O problema, acrescenta, não se resolve
“com paninhos quentes: elaborar projectos, elaborar programas, elaborar seja o
que for, com palavras muito bonitas e com gráficos muito coloridos, mas para
ficar tudo na mesma. Em breve, vamos ter de começar a retirar pessoas da zona
costeira”, defende, acrescentando que “é muito mais barato prevenir do que
tratar”.
Quanto ao ordenamento da orla costeira, Ana Monteiro,
geógrafa da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e coordenadora do
Plano Metropolitano de Adaptação às Alterações Climáticas da Área Metropolitana
do Porto, destaca o atraso inacreditável deste POOC, que leva vários anos de
atraso relativamente ao projectado. “Temos de ser capazes de explicar às
pessoas, e fazer com que as pessoas acreditem, que é inevitável que as
incursões do mar vão ser cada vez mais violentas e mais frequentes”. Para isso,
deixa uma sugestão, que tentou implementar no Mestrado de Riscos, Cidades e
Ordenamento do Território da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde
lecciona: “aliciar as seguradoras” a fazerem parte da discussão, “porque são
directamente beneficiárias do problema”.
“Para trabalharem em riscos, precisam de saber qual é o risco que estão a segurar. Elas seriam aliadas perfeitas, ou quase perfeitas, se deixassem de segurar bens em determinadas áreas da linha de costa, porque colocavam nas nossas mãos a decisão. Se eu vou fazer um empreendimento, uma casa, uma fábrica, um hotel, mas sem seguro, penso duas ou três vezes. Para além do mais, vou discutir com alguém sobre porque é que aquilo não é segurável”, explica. Lusa/Público.
Em relação à orla costeira de Espinho, convirá relembrar as afirmações pitorescas de Pinto Moreira, presidente da Câmara Municipal de Espinho, proferidas em dezembro de 2016 por ocasião da inauguração da via permeável em Paramos : «A deslocalização destas pessoas favorece o avanço do mar. Devemos pugnar para que esta população fique aqui para que haja instalações porque só com a manutenção do aglomerado conseguimos suster o avanço do mar. Devemos fixar as populações perto do mar porque só assim conseguimos também criar sedimentos» (sic). É bem possível que, 5 anos depois, os copistas e cronistas do reino já tenham reescrito a história local. Por isso, não se admirem se não conseguirem localizar certos documentos primários. Alguns mancham a fotografia...
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