sexta-feira, 16 de abril de 2021

Reflexão: O que faz a energia nuclear atrair tanta corrupção?

 

«Outra questão que precisa de ser seriamente considerada ao avaliar o custo da energia nuclear é a corrupção. Um inquérito sobre a corrupção na indústria nuclear, realizado em 2013 por Richard Tanter, da Universidade de Melbourne, encontrou "corrupção generalizada e muitas vezes profunda" na indústria nuclear, afirmando que os regimes reguladores nucleares nacionais e internacionais eram "praticamente totalmente ineficazes".

Nos últimos anos, a indústria tem sido abalada por vários escândalos de corrupção. Em 2014, um escândalo de corrupção maciça envolvendo o fornecedor nuclear sul-coreano Korea Hydro & Nuclear Power, uma filial da Korea Electric Power Company, resultou em dezenas de empregados que receberam um total de 258 anos de prisão por fraude e corrupção. Muitas destas acusações relacionavam-se com o fornecimento de equipamento falsificado, algumas delas relacionadas com a segurança, a centrais nucleares na Coreia do Sul e nos Emirados Árabes Unidos. Em Julho, cinco pessoas foram presas em Ohio, EUA, por receberem 60 milhões de dólares de um operador de energia nuclear, em troca de um resgate de 1,5 mil milhões de dólares para o operador. Um mês mais tarde, os procuradores federais brasileiros acusaram uma subsidiária da EDF e da empresa nuclear brasileira Eletronuclear de corrupção.   

A construção e manutenção em curso de centrais nucleares são áreas particularmente susceptíveis à corrupção por duas razões específicas. Primeiro, por serem megaprojectos, são empresas extremamente complicadas que envolvem centenas de empreiteiros e subempreiteiros, o que cria condições férteis para a corrupção. Em segundo lugar, estas condições são exacerbadas pelo segredo que envolve a energia nuclear. Embora este segredo seja supostamente concebido para impedir a disseminação da tecnologia nuclear ou a captura de materiais nucleares, fomenta um ambiente que está protegido do escrutínio e do controlo público.» 

Neil Overy, Nuclear energy in Africa (Parte 2)New Frame.

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