Recortes de notícias ambientais e outras que tais, com alguma crítica e reflexão. Sem publicidade e sem patrocínios públicos ou privados. Desde janeiro de 2004.
segunda-feira, 1 de março de 2021
Bico calado
«A Pfizer foi a primeira empresa a colocar uma vacina
contra a Covid-19 no mercado. Irá produzir um total de 1350 milhões de doses
este ano, no entanto, já “pré-vendeu” mil milhões (82%) a um conjunto restrito
de países (ricos) que representam apenas 14% da população mundial. A
farmacêutica propagandeia não ter recebido qualquer fundo público para produzir
a sua vacina (ao contrário das restantes), só que o seu produto resulta de uma
parceria com outra empresa, mais pequena, a BioNTech. E a BioNTech recebeu
fundos públicos, precisamente 375 milhões de euros da Alemanha e 100 milhões do
Banco Europeu de Investimento. O primeiro anúncio de uma vacina contra esta pandemia
surgiu em Novembro, pela boca do CEO da Pfizer, que confirmou uma eficácia
superior a 90% nos ensaios clínicos com humanos sem, no entanto, tornar os
resultados públicos. Passariam semanas até conhecermos esses resultados. Mas
passaram menos de 24 horas até o mesmo CEO ter vendido ações da empresa no
valor de 5,56 milhões de dólares, aproveitando o efeito do anúncio que o
próprio tinha feito. Aparentemente, a venda das ações estaria planeada há
meses. O que não estava nos planos de ninguém era o anúncio de resultados de
ensaios clínicos, sem que os mesmo estivessem prontos... A Pfizer é uma das maiores farmacêuticas do mundo. (…)
Aos seus acionistas, a empresa já prometeu lucros de 15 mil milhões em 2021, só
com a venda da nova vacina. Sobre partilhar a patente da vacina para aumentar a
produção da mesma, o CEO tem apenas a dizer que: “Nesta altura, acho que não
faz sentido... e seria perigoso”! Mas quem é a Pfizer, afinal? Talvez seja mais
fácil responderem a esta pergunta: lembram-se do filme O fiel jardineiro? Um
filme de 2005, de Fernando Meirelles, com o Ralph Fiennes e a Rachel Weisz
(óscar para melhor atriz secundária), no qual a personagem de Rachel é
assassinada em África por estar envolvida numa investigação secreta a uma
multinacional farmacêutica, que estava a fazer ensaios clínicos muito pouco
éticos de um medicamento novo em africanos, manipulando os seus resultados e
dos quais resultaram a morte de várias pessoas. Pois essa multinacional chama-se
Pfizer e a história é verdadeira. Em 1996, a Pfizer enviou uma equipa para
Kano, na Nigéria, onde estava a ocorrer um surto de meningite. A empresa queria
testar um antibiótico novo, o Trovan, e viu o surto como uma oportunidade.
Desenhou ensaios clínicos para comparar o seu novo antibiótico com o
antibiótico clássico – o ceftriaxone. Só que um “whistleblower” dentro da
empresa revelou que a Pfizer não tinha pedido consentimento aos doentes para o
fazer – vários pais vieram afirmar que não faziam ideia de que os seus filhos
estavam a receber um medicamento “experimental”. Deste ensaio resultou a morte
de 11 crianças e mais terão ficado com paralisia cerebral. Mais tarde apurou-se
que a empresa administrava doses reduzidas de ceftriaxone às crianças, numa
tentativa de diminuir a sua eficácia, aumentando os resultados positivos do seu
produto, por comparação. A Pfizer acabou a pagar indeminizações na ordem dos 75
milhões de dólares à população de Kano. “Fast-forward” duas décadas e quando
rebentou o escândalo da “Wikileaks”, alguns documentos secretos tornados
públicos, demonstravam que a empresa tinha contratado uma equipa de
investigadores para “descobrirem” provas de corrupção do Ministro da Justiça
nigeriano, com o intuito de o chantagearem a abandonar o processo judicial
contra a Pfizer. Mas esta história horripilante não é a única que acompanha a
empresa. Em 2016, no Reino Unido, a Pfizer foi condenada pela Autoridade da
Concorrência a pagar a maior multa alguma vez passada por aquele organismo, por
ter inflacionado artificialmente o preço de um medicamento anti-epiléptico, a
fenitoína, para o qual detinha posição dominante de mercado. De um ano para o
outro a companhia aumentou o preço do medicamento em 2600%. A Pfizer também é
dona de uma vacina contra a pneumonia provocada por pneumococos, uma infeção
que afeta especialmente crianças vulneráveis, em países pobres. Entre 2001 e
2015, o preço da vacina aumentou 68 vezes e, segundo os Médicos Sem Fronteiras,
morrem todos os anos 1 milhão de crianças com esta pneumonia, por falta de
acesso à vacina. Em 2009, a Pfizer voltava a bater recordes, tendo sido multada
nos Estados Unidos em 2,3 mil milhões de dólares (…) por ter promovido
ilegalmente um medicamento destinado a tratar artrites, o Bextra, publicitando
o uso não autorizado noutras doenças, a prescrição de doses 8 vezes superiores
ao aprovado e por ter pago prémios indevidos a médicos prescritores. (…)» Bruno Maia, Quem é a Pfizer?– Esquerda.
« (…) A discriminação é evidente: a freguesia de Ponta
Garça assistiu ao fim da cerca sanitária a 22 de janeiro, quando tinha 56 casos
em 3500 habitantes. A cerca a Rabo de Peixe, que será reavaliada na
segunda-feira, já foi circunscrita à zona mais pobre da vila, mas a polícia
fiscaliza, nas ruas onde há infetados, se eles saem de casa. (…) Em nome da
privacidade, muitos resistiram ao uso obrigatório do StayAway Covid. Esta
semana, a Direção Regional de Saúde divulgou um mapa da vila de Rabo de Peixe
com a georreferenciação dos infetados. Para quem conheça a vila, é facílimo
identificar as suas casas. Violando a lei de proteção de dados, a imagem foi
difundida pelo “Diário dos Açores” e pela RTP Açores. Porque o pobre não tem
direito à privacidade. Quando são infetados, os “portugueses de bem” ficam
doentes. Os de Rabo de Peixe ficam criminosos. A pandemia revelou a nossa
desigualdade, a começar pela mais primária de todas: a que garante direitos
constitucionais diferentes conforme a condição social de cada um. É uma espécie
de apartheid informal.» Daniel Oliveira, Apartheid informal-
Expresso Diário, 27fev2021 – via Clube de Jornalistas.
De sábado para domingo (27-28 de fevereiro, a Catalunha
(população c. 8 milhões), registou menos mortes por Covid do que Portugal (população c. 10 milhões) - 24 mortes vs
33. O pessoal envolvido nos distúrbios de Barcelona deve ter sido mais rigoroso
no cumprimento das regras do uso da mascara.
Sem comentários:
Enviar um comentário