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domingo, 14 de março de 2021
A contribuição do teletrabalho para a mitigação do aquecimento global
A Greenpeace publicou uma análise sobre o teletrabalho e
a sua contribuição para a mitigação do aquecimento global. Segundo os seus
cálculos, se fosse adicionado mais um dia de teletrabalho por semana, poderiam
ser poupadas 406 toneladas de CO₂ por dia em Madrid e 612 toneladas em
Barcelona. Por outro lado, se somarmos dois dias de trabalho a partir de casa,
a economia diária seria quase o dobro: 790 toneladas em Madrid e 1.153 em
Barcelona. Daqui concluem que as emissões diárias devido às viagens ao local de
trabalho poderiam ser reduzidas entre 7 a 8%, enquanto as derivadas do
transporte de passageiros em geral cairiam 3%. No pressuposto avançado, as
emissões das viagens de trabalho seriam reduzidas em ambas as cidades espanholas
em 14-15% e em 5-6% no caso das emissões produzidas pela mobilidade geral. Outra
das conclusões da análise é que o potencial do teletrabalho na redução de
emissões concentra-se na faixa etária dos 35-55 anos. Nesse sentido, os homens
podem contribuir mais para a redução das emissões do que as mulheres, “visto
que não só usam muito mais o carro para ir para o trabalho, mas também as
mulheres estão mais envolvidas em viagens não laborais no seu dia-a-dia que
ainda são necessários para realizar mesmo que teletrabalhe. No entanto, do ponto de vista social, uma adoção mais
generalizada do teletrabalho poderia aumentar a desigualdade social, uma vez
que enquanto as pessoas com maior poder aquisitivo e com alto nível de
escolaridade têm mais facilidade para trabalhar à distância, a maioria da
classe trabalhadora tem que continuar a deslocar-se para o trabalho e
geralmente possuem carros antigos e mais poluentes. Para enfrentar esses obstáculos, a Greenpeace e sugere uma
rede de transporte público robusta e competitive, um modelo urbano de
proximidade que defende a combinação de usos entre residências, lojas e
empregos e uma distribuição do espaço público que convide o cidadão a caminhar
e circular de bicicleta. Eduardo Robaina, Climatica.
O Fakebook desmonta as distorções em série sobre a crise
climática e o papel do Brasil nas negociações internacionais sobre o assunto
incluídas num artigo do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, no jornal O
Estado de S.Paulo: (1) “o Brasil permaneceu no Acordo de Paris e, desde então,
segue lutando para que seus mecanismos de mercado sejam implementados” – FALSO:o Brasil vem bloqueando desde 2018 as
negociações da regulamentação do Artigo 6, o artigo do Acordo de Paris que cria
mecanismos de mercado para o comércio de emissões. O Brasil não aceita que os
créditos de carbono vendidos no chamado Mecanismo de Desenvolvimento
Sustentável, previsto no parágrafo 4º do artigo 6, sejam abatidos da meta
nacional, o que para muitos países levaria a uma dupla contagem do
carbono negociado nessa modalidade. O Brasil também está em posição minoritária
ao defender que os créditos de carbono não vendidos no Protocolo de Kyoto sejam
transferidos na íntegra para o novo regime. Em 2019, na cimeira de Madrid, o
Brasil, juntamente com Austrália e Arábia Saudita, atravancou o progresso e mais uma vez por
conta de questões relacionadas com o artigo 6. O ministro Ricardo Salles foi
“comemorar” o fim da conferência numa churrascaria em Madri, ironizando o objetivo de “neutralizar emissões”.
Ao contrário do que alega o ministro, não foi “especulação” a ameaça de deixar
o Acordo de Paris, mas uma afirmação do presidente eleito, em dezembro de
2018: “Nós vamos sugerir mudanças no Acordo de Paris. Se não mudar, saímos
fora”. Houve pressão dos ruralistas, e o Brasil ficou. (2) “posto tratar-se de
uma das condições essenciais para que os compromissos assumidos pelo Brasil e
pelo mundo possam ser plenamente cumpridos” – FALACIOSO: o Brasil jamais vinculou suas metas no Acordo de Paris ao
mercado de carbono. A primeira NDC do Brasil, apresentada em
2015, dizia que o país se reservava o direito de usar mecanismos de mercado que
viessem a ser estabelecidos sob o Acordo de Paris, mas não dizia em nenhum momento
que sem eles não haveria implementação. Ao contrário, o documento afirmava que
“a implementação da iNDC do Brasil não é condicionada a apoio internacional”.
Apenas em dezembro de 2020, quando reescreveu sua NDC, sob influência de
Salles, foi que o Brasil vinculou suas metas “indicativas” de longo prazo, para
2060, à aprovação dos mecanismos de mercado. (3) “Apesar de sua parcela de
menos de 3% das emissões globais, o Brasil vem sendo injustamente citado por
alguns como se fosse um dos grandes vilões das mudanças climáticas.” – FALACIOSO:
o Brasil é o quinto maior emissor de gases de efeito estufa do mundo, e
retrocedeu sua atuação sob Bolsonaro, com aumento do desmatamento e mudança de
metas. Segundo o SEEG, o Sistema de Estimativas de
Emissões do Observatório do Clima, o Brasil lançou na atmosfera 2,17 bilhões de
toneladas de dióxido de carbono equivalente (tCO2 e) em 2019, primeiro ano do
governo Bolsonaro, um aumento de 9,6% em relação a 2018. É menos de 4% das
emissões globais, mas isso torna o país o quinto maior emissor do planeta,
atrás apenas da China (11,5 bilhões de toneladas), dos EUA (5,8 bilhões), da
Índia (3,2 bilhões) e da Rússia (2,4 bilhões). O dado mostra que a tendência de
redução das emissões no Brasil, verificada entre 2004 e 2010, está se
revertendo – em 2020, o país não cumpriu a meta da Política Nacional sobre
Mudança do Clima (PNMC). As emissões per capita do Brasil também são
maiores que a média mundial. Em 2019, cada cidadão brasileiro emitiu 10,4
toneladas brutas de CO2e, contra 7,1 da média mundial. (4) “O volume de gases
de efeito estufa hoje acumulado na atmosfera se deve à somatória histórica das
emissões dos países ricos, que por mais de 200 anos, desde o início da
revolução industrial, seguem queimando combustíveis fósseis.” – FALSO: embora
grande parte da elevação de temperatura observada hoje se deva às emissões
históricas dos países industrializados, mais da metade (831 bilhões de
toneladas) do CO2 acumulado hoje na atmosfera foi emitida após 1990, sobretudo
por conta das altíssimas taxas de crescimento e uso de energia da China e de
outros países emergentes. (5) “Contribui para a nossa parcela de 3% das
emissões a vergonhosa situação da nossa falta de saneamento, bem como o caos do
lixo em todo o país, contaminando o solo, as pessoas, a atmosfera e os
oceanos.” – EXAGERADO: o Brasil emite 2,17 bilhões de toneladas brutas de CO2
equivalente por ano. 44% das emissões brasileiras em 2020 decorreram apenas de
desmatamento, sobretudo na Amazônia e no cerrado. O setor de resíduos, que
inclui tratamento de esgoto e destinação de lixo, problemas citados por Salles,
contribui com apenas 4% das emissões do país. Tudo o que o país emitiu no setor
de resíduos em todo o ano de 2019 é emitido por desmatamento em 37 dias. (6) “Diversas
outras mazelas nos levam também a confrontar o histórico abandono e descaso em
relação aos mais de 23 milhões de brasileiros da Amazônia, que experimentam,
desde 2012, progressivo aumento dos índices de desmatamento ilegal, fruto,
dentre outras causas, do envolvimento em atividades ilegais por muitos dos que
não têm oportunidades, nem alternativa de emprego e renda, e que seguem sendo
solenemente ignorados, no Brasil e no mundo.” – FALACIOSO: embora evidentemente
a pobreza leve pessoas a destruir florestas e evidentemente o baixo IDH da
Amazônia tenha uma correlação (que não é necessariamente causal) com a
devastação, o desmatamento na Amazônia não é provocado majoritariamente por pobres
sem alternativa. Os grandes desmatadores são
fazendeiros, mineradores e grileiros de terras. Desmatar é uma atividade cara –
de R$ 200 a R$ 2.000 por
hectare derrubado *– e é feita por gente capitalizada. Hoje em dia, o
desmatamento é feito sobretudo por quadrilhas de invasores de terras, em
operações muito bem financiadas, com alta tecnologia e por vezes comandadas desde o Sudeste. Segundo o Ipam
(Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), 29% do desmatamento em 2019 aconteceu em áreas não-designadas –
ou seja, terras públicas invadidas -, 23% em fazendas cadastradas no CAR e 9%
em áreas sem informação (possivelmente também griladas). Somando-se aos
desmatamentos em terras indígenas e unidades de conservação, metade da
devastação é especulativa ou criminosa. Além disso, a maior parte da população
da Amazônia (mais de 68%)
vive nas cidades e não na zona rural. (7) “Nas próprias palavras de Kerry, ‘o desafio está em
trazer, de verdade, um volume sem precedentes de recursos financeiros sobre a
mesa’ e com isso reverter o que ele mesmo constata: ‘historicamente e
infelizmente, tem havido muitas palavras, mas sem a verdadeira implementação.'”
– FALACIOSO: o Brasil já tem R$ 3,4 bilhões doados por outros países para
projetos na Amazônia, que estão parados desde o início do governo Bolsonaro. O
Fundo Amazônia contabiliza R$ 2,9 bilhões, e o Floresta+, R$ 500 milhões. No
caso do primeiro, o governo trava há dois a aplicação dos recursos doados por
Noruega e Alemanha, e responde a um processo no STF por isso. O Floresta+,
criado no governo Temer, foi aprovado pelo Fundo Verde do Clima para beneficiar
povos indígenas, comunidades tradicionais e agricultores familiares, mas não sai do papel desde o início de 2019. Fakebook.
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