domingo, 14 de março de 2021

Reflexão – Para que serve um jardim de relva escanhoada?

Antigamente, os relvados eram cultivados pelos mais ricos, que podiam dar-se ao luxo de empregar homens com gadanhas. Na década de 1830, os primeiros cortadores de relva eram puxados por um cavalo com botas de couro macio para proteger a relva. Mas a criação dos subúrbios e o cortador a gasolina em 1902 fizeram com que o culto da relva imaculada se tornasse uma obsessão nacional.

Agora, desafia-se a estética e até a moralidade de um relvado.

Um relvado limpo é uma obsessão britânica predominantemente masculina, o corte movido a combustível fóssil é ruidoso e é o pior que se pode fazer à vida selvagem.

À medida que os jardineiros começam a transformar relvados em prados de flores silvestres, também as mansões, parques e campos de jogos abandonam os regimes tradicionais de corte e permitem que as flores silvestres floresçam.

Até mesmo os quads das faculdades de Oxford e Cambridge, considerados pelos tradicionalistas como o lar de alguns dos melhores relvados do mundo, ensaiam a renaturalização. O King’s College, em Cambridge, o ano passado transformou o relvado ao lado da sua capela num prado.

Trevor Dines, da Plantlife, incentiva as pessoas a deixarem de cortar a relva em maio para permitir que flores silvestres floresçam na relva. Os participantes da pesquisa da Every Flower Counts, identificaram 207 espécies de plantas que florescem em relvados. A Plantlife calcula que um metro quadrado de relvado reservado a plantes e flores silvestres fornece néctar suficiente para sustentar em média 3,8 abelhas por dia.

A Royal Horticultural Society aconselha os jardineiros a deixar os relvados ficarem secos no verão em vez de os regar, e considerar os prados de flores silvestres tolerantes à seca em vez da relva tradicional. Nos seus jardins em Wisley, Surrey, o arboreto e o relvado de coníferas passaram a ser mantidos como prados, em vez de serem cortados.

Nick Fraser, o jardineiro-chefe do National Trust's Nunnington Hall, North Yorkshire, alterna áreas de flores silvestres com relva cortada para garantir que não pareça negligenciada ou abandonada. “Quando começamos com os prados de flores silvestres, as pessoas costumavam perguntar: ‘A sua máquina de cortar relva está avariada?’ Ninguém diz isso agora”, afirma.

Patrick Barkham, The Guardian.

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