segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Bico calado

  • «O confinamento levou-me a descobrir que temos coisas a mais, que não nos servem para nada e coisas a menos, de que necessitamos. (…) Em tempo de confinamento deambulamos por casa: Um mundo de inutilidades. (…) Falta acrescentar o lixo que sai das televisões, da que estaciona no canto da sala, na do quarto; os comentadores, os da bola, os de tudo: do clima à bomba de hidrogénio. Os que me explicam o que acabei de ver, de ouvir. Todos, com e sem gravata, a informarem-me que a vida é perigosa e acaba mal, que o que hoje sobe, amanhã desce. Uma caterva de sirenes televisivas a gritar que vivemos no caos. Esquecem-se de informar que me vendem o caos em cada anúncio de publicidade! Descobri com o confinamento que o caos começa em minha casa. Não preciso de um pivô (com isto da neutralidade de género já será de incluir as pivoas?) para me avisar. O caos, construímo-lo logo na primeira mala de levar livros à escola, cadernos, borrachas, lápis. O caos começa nos que nos rodeiam. O caos é a ordem do mundo e ainda pago para me informarem do caos que eu criei! Há caos nos hospitais! Obrigado. E nas redações das televisões, da rádio e dos jornais? Aí não há caos, há estratégias de poder sob a forma de alarmes pela nossa saúde! E nos estádios de futebol? Não há caos, há corrupção! E nos bares e tabernas? Bebedeiras e vómitos que reproduzem as televisões! E nas escolas? E no trânsito? E nas praias? E nas romarias? E nas peregrinações? E nos lares de idosos? E nas creches e infantários? E nos tribunais? E nos paióis da tropa? E nos bancos? E nos aeroportos e até nos cemitérios! E nas nossas relações? Fazemos parte do caos. O que nos faz falta é uma qualquer indicação que nos ajude a viver no caos sem gritar contra o caos. Faz-nos falta uma panela de escape para evitar os ráteres que saem dos pregoeiros do caos! Falta-nos ordem nas ordens. Ou uma ordem para descobrir uma vacina, um teste rápido, mas seguro, à sanidade mental de alguns dirigentes que dê positivo ou negativo antes de tomarem posse. Temo que a ressaca do confinamento seja uma sociedade mais confinada, com mentalidades mais fechadas, com mais cabos da guarda a gritarem por ordem, por limpezas gerais, por desinfestações sociais. Eu, contra os fascismos anunciados, necessito de desordem, de desmascarar os ordeiros, porque eles ladram, mordem e matam. Vivemos em estado de catástrofe do nascimento à morte porque criámos uma civilização de caos, no paradoxo da abundância, de excesso de coisas e carência de virtudes. (…) Temos barulho a mais, hienas a mais, carpideiras a mais falantes e “ecrantes”. Temos coisas a menos: serenidade, consciência individual, cooperação, tolerância, respeito, reflexão. Humildade a menos para pensarmos o que faríamos se estivéssemos no lugar do outro, do diretor do hospital, do médico, do enfermeiro, do delegado de saúde, do administrador do lar, do diretor, do secretário, do ministro, do comandante, do que abre e fecha escolas e restaurantes. (…) Devíamos saber o que é importante. Um raio de sol pode ser suficiente. As catástrofes e o que estamos a viver é um estado de catástrofe, devia ajudar-nos a pensar no que é essencial para cada um de nós. Eu sinto falta de Liberdade e excesso de Perversidade!» Carlos de Matos Gomes, Coisas a mais, ou a menos?Medium.
  • «As políticas de anúncio, de repetição de promessas que tardam em se concretizar ou se esvaziam pelo caminho, esgotam-se sempre em pouco tempo. Num contexto como aquele que vivemos, carregado de ruturas na vida das pessoas, de desproteções, de sofrimento, de urgências que clamam políticas com rigor e ação, esse esgotamento acelera-se e torna-se perigoso. São múltiplos os casos, no plano nacional e na União Europeia, em que entre o anúncio e a concretização se verifica um desfasamento abissal. Onde deveria haver agilidade e rapidez há meses a passar. Onde todos deviam estar abrangidos, não faltam exclusões. Onde precisávamos de recursos volumosos, há mãos cheias de muito pouco. Assim, a desconfiança, a incerteza, o desespero e o medo crescem e gera-se um quadro cada vez mais propicio ao cinismo político e à manipulação. (…) Esta falta de agilidade em tempo real é, em parte, filha de incertezas que hoje pairam sobre quem governa, mas acima de tudo, de uma conceção política que sacraliza o desinvestimento e a ortodoxia orçamental. Umas palavras de anúncio e a desmemória cultivada por certa Comunicação Social e pelo ciclo (e circo) noticioso, não substituem uma governação com ética e rigor, geradora de confiançaManuel Carvalho da Silva, Anúncio não alimenta nem trata – JN 20fev2021.
  • «(…) A democracia alemã jogou o jogo da democracia impoluta e os nazis aproveitaram-se dessa fraqueza para se alcandorarem ao poder, alterando então as regras para se perpetuarem nele. Ficou-se à espera do “crime cometido” para só então se poder “democraticamente” agir. Simplesmente, uma vez cometido o crime, já era tarde para o punir e corrigir. Quando se diz que, só quando o CHEGA cometer um claro atentado violento (“tiros e pistolas”) contra a democracia, se poderá ilegalizá-lo, está-se a escancarar a porta a uma tirania.  A verdade, repito, é que o partido nazi já tinha deixado bem claro ao que vinha, e não me parece particularmente sensato que se tenha ficado à espera de ele destruir toda a Europa, para, finalmente, se intervir.  O Chega já deu claramente indícios de que não quer jogar o jogo da democracia e quem não quer jogar segundo as regras do jogo não deve sentar-se à mesa de quem joga.  Pode ser que assim, como se diz, a democracia fique ligeiramente imperfeita, mas é preferível ficar com ela imperfeita a assistir ao seu suicídio, a bem da pureza.  A perfeição não é deste mundo e eu prefiro viver com uma democracia um bocadinho imperfeita a cair de novo na ignomínia de um regime regido por um tiranete. (…)» Eugénio Lisboa, Banir ou não banir o Chega. Via De rerum natura.

  • «Se os militares responsáveis por torturas, assassinatos e desaparecimentos durante a ditadura de 64 tivessem respondido por crimes de lesa humanidade, como aconteceu na Argentina, não estaríamos hoje vendo generais senis do Clube Militar vociferando contra a democraciaCarlos Latuff.
  • Um documento descoberto em arquivos oficiais mostra que o governo francês ignorou os pedidos do embaixador de Ruanda em Paris para que as tropas francesas no país prendessem ex-funcionários do regime hutu e, em vez disso, providenciou a sua fuga. O documento, um telegrama do gabinete do então ministro dos Negócios Estrangeiros de França, Alain Juppe, foi assinado pelo atual chefe da secreta estrangeira francesa. Ele foi enviado depois de os líderes hutus terem chegado a um campo de refugiados controlado pelo exército francês. Eles tentavam fugir de Ruanda após a queda do seu regime, tendo orientado o massacre de centenas de milhares de membros da minoria tutsi. Havia soldados da paz das Nações Unidas no país, mas foram acusados ​​de se manter à margem enquanto a onda de assassinatos se desenrolou durante 100 dias. A ONU alegou que não tinha mandato para impedir as mortes e a maioria das suas forças retirou após a morte de 10 soldados da ONU da Bélgica. Extremadura Progressista.

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