Recortes de notícias ambientais e outras que tais, com alguma crítica e reflexão. Sem publicidade e sem patrocínios públicos ou privados. Desde janeiro de 2004.
sábado, 20 de fevereiro de 2021
Bico calado
«(…) Enquanto este cantor espanhol entrava nos
calabouços, o rei emérito Juan Carlos, um dos principais insultados por Pablo
Hasél, gozava tranquilamente as suas imunidades e impunidades nos Emirados
Árabes Unidos, após aí se ter refugiado na sequência dos escândalos de
corrupção em que está envolvido. Esta disparidade na actuação da máquina da
justiça criminal — de que se encontram, permanentemente, casos similares — é sempre algo de
chocante quando nos debruçamos sobre o funcionamento da Justiça. E, no entanto,
é assim mesmo o sistema: na verdade, os tribunais não existem para fazer
justiça, mas tão-somente para aplicar as leis. Se a isto acrescentarmos as possibilidades
que têm os transgressores, pertencentes às elites sociais, de “torcer” o sistema
judicial a seu favor, fácil é concluir que nada tem de surpreendente o rapper
ir para a prisão e o rei (sem mérito) ir para Abu Dhabi. (…)» Francisco
Teixeira da Mota, A falar é que se (a)prende – Público 19fev2021.
«(…) O aproveitamento da crise pandémica para luta
político-partidária, na sua mais baixa componente, tem sido o maior factor da
minha indignação, da minha enorme desilusão ao ver o estado a que isto chegou,
como disse Salgueiro Maia no Portugal de Abril! A falta de sentimento patriótico, a falta de sentido de
Estado da generalidade das forças políticas têm sido assustadores. Mais que
tudo, indigna ver que se colocam acima de tudo os interesses partidários, de
grupo, olhando cada vez mais para o próprio umbigo. A comunicação social, com realce escandaloso para as
várias estações de televisão, certamente capturada por interesses
inconfessáveis, por isso não assumidos, tem-se distinguido por andar à procura
do homem que mordeu o cão, porque essa é que é a notícia! Só sabe procurar o erro,
a falha, o escândalo – que infelizmente acontecem mais do que o desejável e
mesmo o admissível – para com isso fazer um alarido de todo o tamanho,
escondendo o que é bem feito, desprezando os efeitos positivos que a sua
divulgação poderia ter nos cidadãos. (…) Sejamos claros: se estas atitudes
são expectáveis, por naturais, da parte de forças não democráticas, de forças
que contestam o regime democrático e procuram levar-nos para novas ditaduras,
de natureza neo-fascista, são inadmissíveis em forças que se assumem como
democráticas, como defensoras dos valores de Abril! (…) Naturalmente, refiro-me
aos democratas! Porque dos não democratas não podemos esperar tréguas… De
igual modo, se essas atitudes são expectáveis em pasquins, em órgãos da comunicação
social que vivem com base no escândalo, no crime e no sangue, são menos
aceitáveis em órgãos de comunicação social que se querem respeitáveis e
defensores dos valores democráticos. Não se pode continuar a assistir ao
que se passa, incluindo nos órgãos estatizados, onde, na generalidade, os
pivots dos telejornais e outros opinion makers exploram os entrevistados e
comentadores, na detecção do que correu mal ou menos bem, sem qualquer
preocupação de valorizar o que está bem, levando o público a confundir a árvore
com a floresta. (…)» Vasco Lourenço, Responsabilidade colectiva e
afirmação democrática, precisam-se! – Público 17fev2021.
«O lendário Grupo do Marcelino passou como uma estrela
cadente, com personagens negros dignos de um Platoon à portuguesa, carregados
de material bélico e de folclore africano, comem a carne dos inimigos mortos,
dizia-se, num ritual que ultrapassava a tradição de canibalismo dos
antepassados, que caíra em desuso, mas que preservava a aura mítica
[...].» Victor Carvalho, Público Magazine, nº 213, de 27mar1994.
«Depois de os Comandos Africanos assaltarem a base do
PAIGC [...] lembro-me de Marcelino da Mata e do Jamanca em Guidage, a venderem
armas que tinham apanhado [...].» Joaquim Carneiro, soldado português, citado
por Francisco de Vasconcelos, Público Magazine nº 295 de novembro de 1995.
Um parque de aventura de paraquedismo numa zona
controlada pelo Partido Nacional foi inundado por verbas para incêndios
florestais, obtendo muito mais do que o solicitado, enquanto uma série de projetos
de recuperação de incêndios florestais nas Montanhas Azuis foram ignorados, até
mesmo retretes extremamente necessárias para os bombeiros. Callum Foote,
Michael West Media.
Luanda Leaks não foi apenas a história de como a antiga
família governante de Angola fez fortuna esvaziando os cofres públicos. A
investigação também mostrou como as empresas ocidentais desempenharam um papel
fundamental na movimentação de biliões através de uma vasta rede de empresas de
fachada, aconselhando Isabel dos Santos sobre como administrar o seu império
empresarial e evitar impostos - e colheram lucros ao longo do caminho. Sabe-se
agora muito mais sobre o montante que três das maiores empresas de consultoria
do mundo - Boston Consulting Group, PwC e McKinsey - faturaram enquanto Isabel
dos Santos foi presidente-executiva da Sonangol. Muito depois de muitos bancos terem rompido relações com
Isabel dos Santos por causa de questões sobre a origem da sua riqueza, os
gigantes da consultoria mantiveram-se próximos da milionária, apesar dos sinais
reveladores de corrupção. Cada um recebeu dezenas de milhões de dólares em
pagamentos através de uma obscura empresa de fachada no Dubai, propriedade de
um amigo pessoal de Isabel dos Santos.Will
Fitzgibbon, ICIJ. Entretanto, Angola pediu a um tribunal holandês que
confiscasse em seu nome uma valiosa participação na Exem Energy BV, empresa de
energia obtida pelo falecido marido de Isabel dos Santos, Sindika Dokolo. Em
2006, a Exem Energy BV obteve uma participação indireta de 6% na Galp, graças a
um acordo com a Sonangol. Agora, os advogados da Sonangol alegam que a
aquisição da participação da Galp ー atualmente avaliada em cerca de US $
500 milhões ー
não fazia sentido comercialmente para Angola e levou ao enriquecimento pessoal
da família governante às custas do país, um dos mais pobres do mundo. Scilla
Alecci, ICIJ.
Falhas na lei contra a lavagem de dinheiro levam Portugal
a infracção. É a segunda vez em um ano que Bruxelas coloca Portugal no radar por causa da
transposição de directivas europeias que se destinam a combater a lavagem de
dinheiro. Pedro Crisóstomo, Público 19fev2021.
O Reino Unido ajudou Israel a ter a bomba atómica,
titulava a BBC em 4 de Agosto de 2005. Tudo se passou em 1958, com a exportação de 20 toneladas
de água pesada para o reator Dimona no deserto de Negev, em Israel. Não foi
imposta a cláudula do seu uso exclusive para fins pacíficos porque, segundo os
negociadores, isso seria demasiado rigoroso. Poucos sabiam do caso,
nomeadamente ministros do governo de Harold Macmillan, - como Lord Gilmou, dos
Negócios Estrangeiros -, o secretário de Defesa dos EUA, Robert McNamara,
declarando-se admirados com os pormenores. A água pesada for a importada em
1956 da Noruega e transportada de barco para Israel. Quando em 1961 Israel pediu ao Reino Unido mais água
pesada, o Daily Express divulgou a existência do reator Dimona e um provável
programa de armas nucleares, o que fez o ministério dos Negócios Estrangeiros
bloquear a venda. Embora Israel não tenha conduzido publicamente um teste
nuclear e não admita ou negue ter armas nucleares, não assinou o Tratado de Não
Proliferação Nuclear. Isso significa que a Agência Internacional de Energia
Atómica não tem poderes para inspecionar as instalações nucleares israelitas.
As sondas espaciais da China e dos Emirados Árabes Unidos
entraram há cerca de uma semana na órbita de Marte. Teresa Sofia Serafim, Público
19fev2021. E nós a pensarmos que só havia a sonda da NASA – os nossos media há
dias que só falam dela…
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