sábado, 20 de fevereiro de 2021

Bico calado

  • «(…) Enquanto este cantor espanhol entrava nos calabouços, o rei emérito Juan Carlos, um dos principais insultados por Pablo Hasél, gozava tranquilamente as suas imunidades e impunidades nos Emirados Árabes Unidos, após aí se ter refugiado na sequência dos escândalos de corrupção em que está envolvido. Esta disparidade na actuação da máquina da justiça criminal — de que se encontram, permanentemente, casos similares — é sempre algo de chocante quando nos debruçamos sobre o funcionamento da Justiça. E, no entanto, é assim mesmo o sistema: na verdade, os tribunais não existem para fazer justiça, mas tão-somente para aplicar as leis. Se a isto acrescentarmos as possibilidades que têm os transgressores, pertencentes às elites sociais, de “torcer” o sistema judicial a seu favor, fácil é concluir que nada tem de surpreendente o rapper ir para a prisão e o rei (sem mérito) ir para Abu Dhabi. (…)» Francisco Teixeira da Mota, A falar é que se (a)prende – Público 19fev2021.
  •  «(…) O aproveitamento da crise pandémica para luta político-partidária, na sua mais baixa componente, tem sido o maior factor da minha indignação, da minha enorme desilusão ao ver o estado a que isto chegou, como disse Salgueiro Maia no Portugal de Abril! A falta de sentimento patriótico, a falta de sentido de Estado da generalidade das forças políticas têm sido assustadores. Mais que tudo, indigna ver que se colocam acima de tudo os interesses partidários, de grupo, olhando cada vez mais para o próprio umbigo.  A comunicação social, com realce escandaloso para as várias estações de televisão, certamente capturada por interesses inconfessáveis, por isso não assumidos, tem-se distinguido por andar à procura do homem que mordeu o cão, porque essa é que é a notícia! Só sabe procurar o erro, a falha, o escândalo – que infelizmente acontecem mais do que o desejável e mesmo o admissível – para com isso fazer um alarido de todo o tamanho, escondendo o que é bem feito, desprezando os efeitos positivos que a sua divulgação poderia ter nos cidadãos. (…) Sejamos claros: se estas atitudes são expectáveis, por naturais, da parte de forças não democráticas, de forças que contestam o regime democrático e procuram levar-nos para novas ditaduras, de natureza neo-fascista, são inadmissíveis em forças que se assumem como democráticas, como defensoras dos valores de Abril! (…) Naturalmente, refiro-me aos democratas! Porque dos não democratas não podemos esperar tréguas… De igual modo, se essas atitudes são expectáveis em pasquins, em órgãos da comunicação social que vivem com base no escândalo, no crime e no sangue, são menos aceitáveis em órgãos de comunicação social que se querem respeitáveis e defensores dos valores democráticos.   Não se pode continuar a assistir ao que se passa, incluindo nos órgãos estatizados, onde, na generalidade, os pivots dos telejornais e outros opinion makers exploram os entrevistados e comentadores, na detecção do que correu mal ou menos bem, sem qualquer preocupação de valorizar o que está bem, levando o público a confundir a árvore com a floresta.  (…)» Vasco Lourenço, Responsabilidade colectiva e afirmação democrática, precisam-se! – Público 17fev2021.
  • «O lendário Grupo do Marcelino passou como uma estrela cadente, com personagens negros dignos de um Platoon à portuguesa, carregados de material bélico e de folclore africano, comem a carne dos inimigos mortos, dizia-se, num ritual que ultrapassava a tradição de canibalismo dos antepassados, que caíra em desuso, mas que preservava a aura mítica [...].» Victor Carvalho, Público Magazine, nº 213, de 27mar1994.
  • «Depois de os Comandos Africanos assaltarem a base do PAIGC [...] lembro-me de Marcelino da Mata e do Jamanca em Guidage, a venderem armas que tinham apanhado [...].» Joaquim Carneiro, soldado português, citado por Francisco de Vasconcelos, Público Magazine nº 295 de novembro de 1995.
  • Um parque de aventura de paraquedismo numa zona controlada pelo Partido Nacional foi inundado por verbas para incêndios florestais, obtendo muito mais do que o solicitado, enquanto uma série de projetos de recuperação de incêndios florestais nas Montanhas Azuis foram ignorados, até mesmo retretes extremamente necessárias para os bombeiros. Callum Foote, Michael West Media.
  • Luanda Leaks não foi apenas a história de como a antiga família governante de Angola fez fortuna esvaziando os cofres públicos. A investigação também mostrou como as empresas ocidentais desempenharam um papel fundamental na movimentação de biliões através de uma vasta rede de empresas de fachada, aconselhando Isabel dos Santos sobre como administrar o seu império empresarial e evitar impostos - e colheram lucros ao longo do caminho. Sabe-se agora muito mais sobre o montante que três das maiores empresas de consultoria do mundo - Boston Consulting Group, PwC e McKinsey - faturaram enquanto Isabel dos Santos foi presidente-executiva da Sonangol. Muito depois de muitos bancos terem rompido relações com Isabel dos Santos por causa de questões sobre a origem da sua riqueza, os gigantes da consultoria mantiveram-se próximos da milionária, apesar dos sinais reveladores de corrupção. Cada um recebeu dezenas de milhões de dólares em pagamentos através de uma obscura empresa de fachada no Dubai, propriedade de um amigo pessoal de Isabel dos Santos. Will Fitzgibbon, ICIJ. Entretanto, Angola pediu a um tribunal holandês que confiscasse em seu nome uma valiosa participação na Exem Energy BV, empresa de energia obtida pelo falecido marido de Isabel dos Santos, Sindika Dokolo. Em 2006, a Exem Energy BV obteve uma participação indireta de 6% na Galp, graças a um acordo com a Sonangol. Agora, os advogados da Sonangol alegam que a aquisição da participação da Galp atualmente avaliada em cerca de US $ 500 milhões não fazia sentido comercialmente para Angola e levou ao enriquecimento pessoal da família governante às custas do país, um dos mais pobres do mundo. Scilla Alecci, ICIJ.
  • Falhas na lei contra a lavagem de dinheiro levam Portugal a infracção. É a segunda vez em um ano que Bruxelas coloca Portugal no radar por causa da transposição de directivas europeias que se destinam a combater a lavagem de dinheiro. Pedro Crisóstomo, Público 19fev2021.
  • O Reino Unido ajudou Israel a ter a bomba atómica, titulava a BBC em 4 de Agosto de 2005. Tudo se passou em 1958, com a exportação de 20 toneladas de água pesada para o reator Dimona no deserto de Negev, em Israel. Não foi imposta a cláudula do seu uso exclusive para fins pacíficos porque, segundo os negociadores, isso seria demasiado rigoroso. Poucos sabiam do caso, nomeadamente ministros do governo de Harold Macmillan, - como Lord Gilmou, dos Negócios Estrangeiros -, o secretário de Defesa dos EUA, Robert McNamara, declarando-se admirados com os pormenores. A água pesada for a importada em 1956 da Noruega e transportada de barco para Israel. Quando em 1961 Israel pediu ao Reino Unido mais água pesada, o Daily Express divulgou a existência do reator Dimona e um provável programa de armas nucleares, o que fez o ministério dos Negócios Estrangeiros bloquear a venda. Embora Israel não tenha conduzido publicamente um teste nuclear e não admita ou negue ter armas nucleares, não assinou o Tratado de Não Proliferação Nuclear. Isso significa que a Agência Internacional de Energia Atómica não tem poderes para inspecionar as instalações nucleares israelitas.
  • As sondas espaciais da China e dos Emirados Árabes Unidos entraram há cerca de uma semana na órbita de Marte. Teresa Sofia Serafim, Público 19fev2021. E nós a pensarmos que só havia a sonda da NASA – os nossos media há dias que só falam dela…

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