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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Bico calado


  • «Nascido na Guiné Portuguesa, Marcelino da Mata tomou o partido da metrépole quando, em 1961, estalou a guerra colonial. Ajudou a fundar os Comandos e, até final do Estado Novo, participou em mais de 2000 missões de combate nas ex-colónias. Entre 1966 e 1974 recebeu inúmeras condecora¢ções, tornando-se o militar português mais agraciado de sempre. Após o 25 de Abril exilou-se na Espanha franquista e, em 1994, subiu a tenente-coronel.» JN 16fev2021
  • «A morte de Marcelino da Mata, um comando negro do Exército português que lutou ao lado do colonizador, teve homenagem de Estado. O Presidente da República, o chefe de Estado-Maior General e o chefe do Estado-Maior do Exército foram ao funeral. O ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, mandou uma mensagem à Lusa: “O ministro da Defesa Nacional lamenta o falecimento e expressa o justo reconhecimento ao tenente-coronel Marcelino da Mata, um dos militares mais condecorados de sempre, pela dedicação e empenho depositados ao serviço do Exército português e de Portugal.” O ministro da Defesa, que ainda não era nascido quando começou a guerra colonial, faz agora 60 anos, nem repara que ao escrever aquilo está tão simplesmente a reconhecer as condecorações da ditadura e o “empenho” — que segundo Vasco Lourenço envolveu crimes de guerra — de um militar numa guerra injusta, que enviou para o matadouro um enorme contingente de jovens portugueses, e por causa da qual Portugal foi objecto de várias condenações da ONU. Imaginem o ministro da Defesa alemão a homenagear a “dedicação” e prestar o “justo reconhecimento” aos commandos nazis. Ia parecer um bocado esquisito, não era? Aqui em Portugal, como a guerra colonial, os crimes de guerra e os massacres nunca existiram, não faz mal. Além de que, ao contrário do imperialismo nazi, o império português era um “bom” império.» Ana Sá Lopes, A guerra colonial nunca existiu (nem a ditadura) – Público 17fev2021.
  • «A família em cuja casa a minha mãe passou os 13 anos seguintes, até sair para se casar, era de salazaristas convictos, beneficiários e apoiantes do Estado Novo, com um pater familias brigadeiro. A minha mãe tinha pesadelos com Salazar e dizia-o, ao que o seu patrão lhe respondia que se ela fosse instruída já estaria presa. As minhas tias encontraram lugar noutras famílias do mesmo prédio; quando uma delas se queixou de só comer açorda (sem ovo, ao contrário da cadela da casa), a governanta ameaçou que a denunciaria à PIDE “por bolchevista”Rui Tavares, A menina e o Zeppelin – Público 17fev2021.
  • O governo australiano mandou fazer e divulgar um anúncio integrado numa campanha de vacinação. O anúncio inclui o logotipo do Partido Liberal. No programa matinal ABC TV Breakfast, o jornalista Michael Rowland perguntou ao Ministro da Saúde Greg Hunt por que houve necessidade de anexar o logotipo do Partido Liberal a um anúncio do governo australiano que dizia: “A Austrália garante 10 milhões de doses extra da vacina Pfizer.” Hunt respondeu com um ataque agressivo ad hominem ao profissionalismo do jornalista. Rowland perguntou ainda: “Quem paga as vacinas?” A única resposta, claro, é o público. O público, não o Partido Liberal. O público também pagou pelo próprio anúncio. No entanto, Hunt respondeu: "Eu sei que este é um problema para si, você identifica-se com a esquerda ..." e passou o resto da entrevista atacando o profissionalismo de Rowland com aquela alegre presunção que vem de sete anos no poder escapando com impunidade. Quando Michael Rowland fez aquela pergunta simples, Hunt não conseguiu responder honestamente, porque para fazer isso teria que admitir que a coligação no poder estava a usar o dinheiro dos contribuintes para beneficiar o Partido Liberal. Elizabeth Minter e Michael West, Michael West Media.
  • Rupert Murdoch e um grupo de investidores estão a aproveitar o momento para criar dois serviços de notícias de direita na Grã-Bretanha que vão desafiar a BBC e tomar emprestado muito do manual da Fox. Mark LandlerNYTimes.

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