Bico calado
- «(…) As “reuniões do Infarmed” podem ter parecido a
alguns que servem para isto mas não servem. São organizadas como palestras
oitocentistas, onde quem sabe ciência e medicina ensina aos ignorantes que não
a sabem, para que depois estes tomem uma decisão política. Esta ideia
autoritária de comunicação, unidireccional, de cima para baixo, onde sábios
ensinam ignorantes, desperdiça o saber de quem ouve e desperdiça o conhecimento
que nasce da discussão aberta e permanente. E isso acontece quer quando quem
ouve os sábios são alunos quer quando são políticos. O facto de haver quem
entre mudo e saia calado destas reuniões significa que elas não cumprem
qualquer papel de construção de consensos ou de solidificação de opiniões. (…)
José Vítor Malheiros, FB.
- «O Diário de Notícias já sabe quantos mortos vai haver
nos dois meses que se seguem e faz disso primeira página. Terrorismo
informativo - é o que vende. (…) a maioria dos comentários - mesmo daqueles
médicos a que não falta uma agenda política - pouco ou nada contribuem para que
se tenha uma ideia clara e crítica da situação, por grave que ela seja. Parece
que alguns esclarecidos com tempo de antena, mais do que querer enfrentar a
onda, querem surfá-la. As poucas vozes lúcidas, as que nos dão as más notícias
sem se comprazer em nos aterrorizar, são poucas. O problema é saber
distingui-las.» José Gabriel, OLHÓ JORNAL! TRAZ A DESGRAÇA - FB.
- No parlamento finlandês, a esquerda rejeitou uma proposta
do parlamentar democrata-cristão Päivi Räsänen, sugerindo que a Finlândia
deveria - como outros países como Dinamarca e Chipre - perguntar a Israel se poderia
disponibilizar o seu excedente de vacinas COVID-19. Para a deputada Veera
Honkasalo, tomar a vacina de Israel
equivaleria a aceitar violações contra os direitos humanos, uma vez que mais de
4,5 milhões de palestinos foram excluídos do programa de vacinação de Israel. Pekka
Vanttinen, EurActiv.
- A partir de 22 de janeiro, o mundo estará, teoricamente, um
pouco mais seguro: entra em vigor o Tratado de Proibição de Armas Nucleares,
três meses após sua ratificação por 50 países. Este tratado tenta paliar o
fracaso do anterior Tratado de Non Proliferación Nuclear, que se mostrou
incapaz de frear o desenvolvemento armamentístico nuclear. Ecologistas enAcción.
- Um relógio localizado no Museu do Memorial da Paz de
Hiroshima foiatualizado de 705 para 49, indicando o número de dias que se
passaram desde o último teste nuclear realizado pelos EUA em novembro de 2020.
The Mainichi.
- O que segue não é a transcrição de excertos do discurso da
tomada de posse de Biden. São excertos de um artigo que ele publicou em maio de
2020 e que pode ser considerado como um programa de ação: «(…) Os Estados
Unidos precisam de ser duros com a China. Se a China conseguir o que quer,
continuará a roubar a tecnologia e propriedade intelectual dos Estados Unidos e
de empresas americanas. Também continuará a usar subsídios para dar às suas
empresas estatais uma vantagem injusta - e uma vantagem para dominar as tecnologias
e indústrias do futuro. A maneira mais eficaz de enfrentar esse desafio é
construir uma frente unida de aliados e parceiros dos EUA para enfrentar os
comportamentos abusivos e as violações dos direitos humanos da China, embora
possamos cooperar com Pequim em questões para as quais os nossos interesses
convergem, como as alterações climáticas, a não proliferação [de armas
nucleares] e a segurança de saúde global. Só os EUA representam cerca de um
quarto do PIB global. Quando nos juntamos a outras democracias, a nossa força
mais do que duplica. A China não pode dar-se ao luxo de ignorar mais da metade
da economia global. Isso dá-nos uma vantagem significativa para definir as
regras do jogo em tudo, desde o meio ambiente até ao trabalho, ao comércio, à
tecnologia e à transparência, de modo a que continuem a refletir os interesses
e valores democráticos. (…) Nunca hesitarei em proteger o povo americano,
inclusive, se necessário, usando a força. De todas as funções que um presidente
dos Estados Unidos deve cumprir, nenhuma é mais importante do que a de
comandante-chefe. Os EUA têm o exército mais forte do mundo e, como presidente,
vou garantir que continue assim, fazendo os investimentos necessários para
equipar as nossas tropas para os desafios deste século (...) Podemos simultaneamente
ser fortes e inteligentes. Há uma grande diferença entre o envio em grande
escala de dezenas de milhares de tropas de combate americanas, que têm que
acabar, e usar algumas centenas de soldados das Forças Especiais e recursos de informações
para apoiar parceiros locais contra um inimigo comum. Essas missões de menor
escala são militar, economica e politicamente sustentáveis e promovem o
interesse nacional. (...) Como presidente, farei mais do que apenas restaurar
nossas parcerias históricas; vou liderar o esforço de redesenhá-las para o
mundo que enfrentamos hoje. O Kremlin teme uma NATO forte, a aliança
político-militar mais eficaz da história moderna. Para conter a agressão russa,
temos que manter as capacidades militares da aliança afiadas e, ao mesmo tempo,
expandir a sua capacidade de enfrentar ameaças não tradicionais, como a corrupção
militarizada, a desinformação e o roubo cibernético. Temos impor custos reais à
Rússia por violar as normas internacionais e colocarmo-nos ao lado da sociedade
civil russa, que se levantou corajosamente repetidas vezes contra o sistema
autoritário cleptocrático do presidente Vladimir Putin. (...) Com a Coreia do
Norte, darei poderes aos nossos negociadores e avançaremos com uma campanha coordenada
e sustentada com nossos aliados e outros, incluindo a China, para promover o nosso
objetivo comum de uma Coreia do Norte desnuclearizada. Também vou usar uma
extensão do novo tratado START, uma âncora de estabilidade estratégica entre os
EUA e a Rússia, e usá-la como base para novos acordos de controlo de armas. E
tomarei outras medidas para demonstrar o nosso compromisso com a redução do
papel das armas nucleares. Como eu disse em 2017, acredito que o único
propósito do arsenal nuclear dos EUA tem de ser dissuadir - e, se necessário,
retaliar - um ataque nuclear. (...) A administração Biden unir-se-á aos aliados
democráticos dos EUA para desenvolver redes 5G seguras, lideradas pelo setor
privado, que não deixem para trás nenhuma comunidade rural ou pobre. Numa
altura em que as novas tecnologias remodelam a nossa economia e sociedade, temos
que garantir que esses motores do progresso sejam regidos por leis e éticas,
como fizemos em anteriores pontos de viragem tecnológicos na história, e evitar
uma corrida para o fundo, onde as regras da idade digital são ditadas pela
China e pela Rússia. (…) Estas são metas ambiciosas, e nenhuma delas pode ser
alcançada sem os Estados Unidos - flanqueados por outras democracias -
liderando o caminho. (...) » Joe Biden, Por que a América deve liderar
novamente - Resgatando a política externa dos EUA após Trump – Foreign Afairsmarço/abril 2020. Eduardo Galeano escreveu algures que «No geral, as
palavras ditas pelo poder não são para explicar as suas ações, mas para as
disfarçar». Anthony Blinken, nomeado por Biden para secretário de
Estado, já avisou que os EUA continuarão a reconhecer o líder da oposição
venezuelana Juan Guaido como presidente daquele país. Resta-me, por agora, citar um excerto de um artigo de Peter
Van Buren publicado na The American Conservative de 21jan2021: «Ironicamente, depois de todo o alarido de há quatro anos
sobre o tamanho da multidão, Joe Biden provavelmente teve a menor multidão da tomada
de posse da história americana - aproximadamente um autocarro cheio. Mas não nos
preocupemos. Imitando o tom dos media estatais norte-coreanos, o New York Times
garantiu-nos que, por causa da Covid, a "equipa de Biden tornou-se
adepta da decoração política destinada a tornare espaços vazios e despovoados
parecerem acolhedores, calorosos e patrióticos"».
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