«(…) Enquanto consumidores, todos nós já pagamos, no preço de muitos dos produtos que compramos, o valor estipulado para a reciclagem das respectivas embalagens, ou do produto em si, no caso, por exemplo, dos electrodomésticos.
O que custa muito dinheiro aos municípios é o tratamento do lixo indiferenciado ou daquele que, tendo sido mal separado, acaba também num aterro ou numa incineradora. Ou seja, a minoria de portugueses que já separa o lixo em casa está a pagar por todos os outros que não o fazem. E, nalguns casos, não paga pouco. Estas pessoas levam uma pancadinha nas costas. Estão a contribuir para um país e um planeta melhor, mas partilham o prejuízo sem que os outros partilhem o trabalho que têm.
E enquanto esperamos que a consciência ambiental impeça que uns desistam, a estes outros teimamos em não os acordar para a realidade: se eu consumo, se isso gera desperdício, não basta deitá-lo fora de qualquer maneira, pagar uma conta, e fazer de conta que o problema é dos outros. Mas isso é algo que a maioria de nós só perceberá quanto esse fazer-de-conta implicar uma conta bem mais alta da que paga o vizinho que já cumpre.
Se duvida disto, recorde o que aconteceu, quase de um dia para o outro, com o consumo de sacos de plástico a partir do momento em que o Estado impôs que passassem a ser pagos. Veja o que está a acontecer também com os mecanismos de incentivo, em dinheiro ou vales, à reciclagem de garrafas de plástico. Dois exemplos de um sucesso alcançado a partir do momento em que, negativa, ou positivamente, nos mexem na carteira. (…)»
Abel Coentrão, Um banho de água fria para quem já faz reciclagem – Público 20nov2020
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