Bico calado
- O New York Times está a recrutar um correspondente para Moscovo. A fluência na língua
russa é opcional, não obrigatória. Manifestar um sentimento tendencioso
em relação a Putin é uma das principais condições exigidas. Este anúncio até parece mais
dirigido a aspirantes a espiões.
- Depois de se livrar das amarras do “lay-off” dos
trabalhadores, a Navigator paga €99 milhões aos acionistas. Diogo
Cavaleiro, Expresso.
- «(…) Uma grande parte da direita portuguesa está
inebriada com a ilusão de que descobriram um atalho para o poder. Ao justificado
escândalo com uma decisão tática que terá consequências funestas e duradouras para a democracia portuguesa respondem fingindo
ofensa e vociferando insultos. E vemos um Rui Rio afirmar que está perto de
chegar a primeiro-ministro e alegar que nunca será manietado pela extrema-direita
apenas um par de horas depois de o líder da extrema-direita ter voltado a defender a expulsão de uma deputada portuguesa negra para
a Guiné-Bissau, sem que passasse pela cabeça a Rui Rio condenar o hediondo
racismo de tais propósitos do seu agora parceiro. A verdade é que Rui Rio já
está neste momento condicionado até nos mais ínfimos dos seus posicionamentos
pela extrema-direita, cujo líder passará a vida a esticar a corda e a
exigir-lhe solidariedade, numa posição que deixa Rui Rio sem condições para ser líder de uma direita
europeia digna. (…)» Rui Tavares, E se a direita anticolaboracionista tomar
partido? – Público 20nov2020.
- «A reportagem de Marco Alves que faz a capa da SÁBADO desta
semana (…) tem dois méritos muitíssimo oportunos: desmonta a perceção parola e
mal informada de que no tempo do Salazar não havia corrupção e faz-nos refletir
sobre o que ainda persiste desse regime no nosso regime. (…) Ora, a cunha (que
em Portugal é uma instituição bem anterior a Salazar) é uma resposta a
instituições disfuncionais. Quando as regras não são claras, definidas de forma
transparente e aplicadas de forma escrutinável por instituições bem
apetrechadas e geridas de modo competente, as pessoas procuram atalhos. A cunha
é esse atalho – e quando a cunha se mete ao chefe do Governo, ao homem com a
função de tornar eficientes as instituições, é porque é política desse homem
concentrar os poderes e ser o mandante – das promoções, dos apoios, dos
benefícios, dos negócios. Dito de outra forma, qualquer ditadura, por
definição, é corrupta. Essa cultura estrutural de corrupção, onde a vontade do
decisor é lei, não se derruba facilmente. Salazar caiu da cadeira – ou do
penico, ou lá o que foi –, o seu sucessor foi apeado numa chaimite, mas a
cultura de poder que a SÁBADO esta semana explorou – que era a de
Salazar mas era também a de outras figuras do regime, que manobravam os seus
favores à escala do seu poder – não está morta e enterrada. É certo que em
muitíssimos aspetos não há comparação. Onde antes se mendigava um subsídio numa
cartinha para o forte do Estoril, hoje há um sistema de Segurança Social. Há
direitos sociais estabelecidos na Constituição e nas leis. Há procedimentos e
regulamentos, há a possibilidade de os cidadãos recorrerem das decisões dos
serviços públicos, para os tribunais se necessário. Tudo isso, ou muito disso,
funciona mal, muitas vezes com enormes disfuncionalidades? Sem dúvida. Lá está:
a qualidade das instituições precisa de ser melhorada, porque é em última análise
essa a diferença entre ditadura e democracia: ditadura é o poder do chefe,
democracia é o poder das instituições, porque são as instituições coletivas que
nos protegem dos abusos individuais. (…) onde há muito cão, dizia o meu avô
Batalha, há muita pulga. O problema é quando a instituição não se livra das
pulgas. Hortense Martins não foi alvo da mais leve expressão de repúdio por
parte do seu partido, do seu grupo parlamentar ou da Assembleia da República.
Ninguém disse uma palavra sobre o assunto – o que faz da falha dela uma falha
do próprio Parlamento, do próprio regime que não se lhe opôs. O marido já
anunciou a vontade de se recandidatar à Câmara da qual foi expulso por ordem
judicial – o que fará, talvez com o apoio do próprio PS, se entretanto não for
condenado no processo crime que começou a ser julgado esta semana.(…)» João Paulo Batalha, Salazar vive! – Sábado
20vov2020.
- Metade dos portugueses não considera as medidas
“adequadas”. Confiança nas decisões de António Costa está a diminuir, conclui estudo
da Escola Nacional de Saúde Pública. Ana Maia, Púbico 20nov2020. Estudo mediocre: perante as conclusões do inquérito não
apresenta sugestões para minimizar ou resolver os problemas detetados.
- Boris Johnson criou uma comissão especial para reformular
o Serviço Nacional de Saúde. Até agora o esquema estava no segredo dos deuses.
A openDemocracy conseguiu, via jurídica, ter acessoa pormenores muito
curiosos: (1) nenhum membro é perito em saúde; (2) Munira Mirza, um dos
membros, foi antigo colaborador de Boris quando era mayor de Londres; (3) Adrian
Masters trabalha para a consultora McKinsey e já fez razias no Sistema Nacional
de Saúde em 2012, enfraquecendo-o e terceirizando-o; (4) William Warr fez lóbi
para a Lynton Crosby e coordenou campanhas eleitorais dos Conservadores.
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