domingo, 22 de novembro de 2020

Bico calado

  • O New York Times está a recrutar um correspondente para Moscovo. A fluência na língua russa é opcional, não obrigatória. Manifestar um sentimento tendencioso em relação a Putin é uma das principais condições exigidas. Este anúncio até parece mais dirigido a aspirantes a espiões.
  • Depois de se livrar das amarras do “lay-off” dos trabalhadores, a Navigator paga €99 milhões aos acionistas. Diogo Cavaleiro, Expresso.
  • «(…) Uma grande parte da direita portuguesa está inebriada com a ilusão de que descobriram um atalho para o poder. Ao justificado escândalo com uma decisão tática que terá consequências funestas e duradouras para a democracia portuguesa respondem fingindo ofensa e vociferando insultos. E vemos um Rui Rio afirmar que está perto de chegar a primeiro-ministro e alegar que nunca será manietado pela extrema-direita apenas um par de horas depois de o líder da extrema-direita ter voltado a defender a expulsão de uma deputada portuguesa negra para a Guiné-Bissau, sem que passasse pela cabeça a Rui Rio condenar o hediondo racismo de tais propósitos do seu agora parceiro. A verdade é que Rui Rio já está neste momento condicionado até nos mais ínfimos dos seus posicionamentos pela extrema-direita, cujo líder passará a vida a esticar a corda e a exigir-lhe solidariedade, numa posição que deixa Rui Rio sem condições para ser líder de uma direita europeia digna. (…)» Rui Tavares, E se a direita anticolaboracionista tomar partido? – Público 20nov2020.
  • «reportagem de Marco Alves que faz a capa da SÁBADO desta semana (…) tem dois méritos muitíssimo oportunos: desmonta a perceção parola e mal informada de que no tempo do Salazar não havia corrupção e faz-nos refletir sobre o que ainda persiste desse regime no nosso regime. (…) Ora, a cunha (que em Portugal é uma instituição bem anterior a Salazar) é uma resposta a instituições disfuncionais. Quando as regras não são claras, definidas de forma transparente e aplicadas de forma escrutinável por instituições bem apetrechadas e geridas de modo competente, as pessoas procuram atalhos. A cunha é esse atalho – e quando a cunha se mete ao chefe do Governo, ao homem com a função de tornar eficientes as instituições, é porque é política desse homem concentrar os poderes e ser o mandante – das promoções, dos apoios, dos benefícios, dos negócios. Dito de outra forma, qualquer ditadura, por definição, é corrupta. Essa cultura estrutural de corrupção, onde a vontade do decisor é lei, não se derruba facilmente. Salazar caiu da cadeira – ou do penico, ou lá o que foi –, o seu sucessor foi apeado numa chaimite, mas a cultura de poder que a SÁBADO esta semana explorou – que era a de Salazar mas era também a de outras figuras do regime, que manobravam os seus favores à escala do seu poder – não está morta e enterrada. É certo que em muitíssimos aspetos não há comparação. Onde antes se mendigava um subsídio numa cartinha para o forte do Estoril, hoje há um sistema de Segurança Social. Há direitos sociais estabelecidos na Constituição e nas leis. Há procedimentos e regulamentos, há a possibilidade de os cidadãos recorrerem das decisões dos serviços públicos, para os tribunais se necessário. Tudo isso, ou muito disso, funciona mal, muitas vezes com enormes disfuncionalidades? Sem dúvida. Lá está: a qualidade das instituições precisa de ser melhorada, porque é em última análise essa a diferença entre ditadura e democracia: ditadura é o poder do chefe, democracia é o poder das instituições, porque são as instituições coletivas que nos protegem dos abusos individuais. (…) onde há muito cão, dizia o meu avô Batalha, há muita pulga. O problema é quando a instituição não se livra das pulgas. Hortense Martins não foi alvo da mais leve expressão de repúdio por parte do seu partido, do seu grupo parlamentar ou da Assembleia da República. Ninguém disse uma palavra sobre o assunto – o que faz da falha dela uma falha do próprio Parlamento, do próprio regime que não se lhe opôs. O marido já anunciou a vontade de se recandidatar à Câmara da qual foi expulso por ordem judicial – o que fará, talvez com o apoio do próprio PS, se entretanto não for condenado no processo crime que começou a ser julgado esta semana.(…)» João Paulo Batalha, Salazar vive! – Sábado 20vov2020.
  • Metade dos portugueses não considera as medidas “adequadas”. Confiança nas decisões de António Costa está a diminuir, conclui estudo da Escola Nacional de Saúde Pública. Ana Maia, Púbico 20nov2020. Estudo mediocre: perante as conclusões do inquérito não apresenta sugestões para minimizar ou resolver os problemas detetados.
  • Boris Johnson criou uma comissão especial para reformular o Serviço Nacional de Saúde. Até agora o esquema estava no segredo dos deuses. A openDemocracy conseguiu, via jurídica, ter acessoa pormenores muito curiosos: (1) nenhum membro é perito em saúde; (2) Munira Mirza, um dos membros, foi antigo colaborador de Boris quando era mayor de Londres; (3) Adrian Masters trabalha para a consultora McKinsey e já fez razias no Sistema Nacional de Saúde em 2012, enfraquecendo-o e terceirizando-o; (4) William Warr fez lóbi para a Lynton Crosby e coordenou campanhas eleitorais dos Conservadores.

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