segunda-feira, 2 de março de 2020

Bico calado

  • «Mais do que uma trapalhada política, este “Orçamento Participativo” é uma farsa, armadilhada em todos os pontos-chave da sua construção. (…) como a experiência autárquica comprova, a decisão por votação permite a vitória a projetos, não pelo seu interesse comunitário ou mérito próprio, mas pelo seu apoio por grupos de pressão particularmente organizados e fortes. (…) Segundo o documento aprovado, “as propostas ficam habilitadas a um apoio financeiro que pode comparticipar até ao máximo de 2/3 (dois terços) dos custos totais do projeto, sendo o remanescente financiado pelo proponente”. Ou seja, o cidadão que apresente uma proposta e tenha o seu projeto aprovado ainda vai ter de meter pernas a caminho para arranjar o financiamento restante (até €33.333). Mais, logo na apresentação da proposta tem de apresentar as garantias deste valor pessoalmente. (…) se o cidadão proponente não tiver dinheiro, pode por exemplo ir trabalhar para a obra na modalidade prevista de “trabalho cedido”, a valorar logo na proposta. Ou seja, se o projeto for de €100.000, e o “trabalho cedido” for correspondente a €33.333, como o prazo de execução é de apenas 6 meses, é mesmo melhor que o munícipe seja bom de braços, porque o seu trabalho terá de valer €5.500/mês. Concluindo, mais do que uma trapalhada política, este “Orçamento Participativo” é uma farsa, armadilhada em todos os pontos-chave da sua construção.» Filipe Guerra, in Aveiro: uma farsa chamada Orçamento ParticipativoNotícias de Aveiro.
  • «Quando alguém afirma que “todos os políticos são corruptos”, interrogo-me se esse alguém é ignorante, fascista ou pretende, apenas, gritar as frustrações e dizer que, ao contrário de ‘todos os políticos’, (ele ou ela) não é ou não pode. (…) A corrupção começa em casa, com uma oferta à criança para lavar os dentes ou comer a sopa; na igreja, com a novena para que chova ou a oferta a um santo para conseguir um qualquer benefício; na escola, quando se recorre a cábulas ou a cunhas ao professor; nos Tribunais, quando se defendem interesses ilegítimos ou é parcial o julgador; no futebol, quando se intimida ou suborna o árbitro; na AR, quando se faz uma lei sem equidade; na estrada, quando a polícia ignora os veículos de uma empresa determinada; enfim, em todas as situações onde o pequeno empenho, uma palavrinha ou uma lembrança afetam decisões. Quando nos reparam a persiana ou desentopem a sanita, e aceitamos pagar sem recibo, estimulamos a fraude e dividimos o roubo pelo prestador de serviços e por nós próprios. Se recorremos à oficina que não cobra o IVA ou a um trabalhador com baixa médica, somos cúmplices na fraude e no roubo ao Estado e à Segurança Social. (…)» Carlos Esperança, in A corrupção, a política e a demagogiaFB.
  • «Na era da informação de hoje, os media têm um poder extraordinário para moldar a opinião pública e ninguém está isento da sua influência. Os media são um verdadeiro 'quarto poder' depois dos ramos tradicionais do governo, controlando não apenas o que é dito e mostrado, mas também o que não é divulgado e, portanto, é omitido ao público. Esse poder enorme vem com uma responsabilidade ética igualmente enorme. Muitos meios de comunicação e jornalistas a nível individual mostraram uma notável falta de independência crítica e contribuíram significativamente para espalhar narrativas abusivas e deliberadamente distorcidas sobre Assange. Quando os meios de comunicação consideram mais apropriado espalhar piadas humilhantes sobre o gato de Assange, o seu skate e as suas fezes, do que desafiar os governos que se recusam a responsabilizar os seus funcionários por guerras de agressão, corrupção e crimes internacionais sérios, demonstram uma deplorável falta de responsabilidade, decência e respeito, não apenas em relação ao Sr. Assange, mas também em relação aos seus próprios leitores, ouvintes e telespectadores, a quem eles devem informar e empoderar. É como ser-se servido de comida rápida envenenada num restaurante - uma traição de confiança com consequências potencialmente graves.» Nils Melzer (relator especial da ONU sobre tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes), in The Canary.

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