quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Reflexão – O capitalismo verde vai resolver a crise climática?

  • «(…) Há, por um lado, quem ache que o sistema económico atual será capaz de lidar com o problema. Os adeptos do "capitalismo verde" apostam no negócio das renováveis e dos carros elétricos, na alteração individual dos comportamentos e em paliativos na produção e venda de produtos (cada vez mais as empresas publicitam produtos reciclados ou "verdes"). Querem uma transformação que não ponha em causa a produção e o tipo de consumo de massas, que não afete os mercados que especulam sobre recursos naturais ou os lucros das empresas que exploram recursos fósseis ou utilizam energias poluentes. Esta visão, que dominou até hoje, foi bem sucedida a criar novas áreas de negócio, mas falhou na proteção do planeta. E que não se diga que tudo foi feito em nome do progresso e bem-estar da Humanidade, porque sabemos como este progresso viveu da exploração dos países mais pobres que hoje são os primeiros a sofrer com as alterações climáticas; e sabemos como a finança e as grandes multinacionais ajudaram à concentração de riqueza e ao aprofundamento das desigualdades. O sistema desenfreado que está a destruir o clima é o mesmo que produziu a crise financeira, que se alimenta da precariedade, que preda os serviços públicos e que não tem pejo em financiar e beneficiar da economia da guerra sem fim. É contra este sistema hipócrita, que diz querer saber do clima enquanto protege as petrolíferas, que cresce um movimento, apoiado nas greves climáticas estudantis, que sabe que a mudança é urgente e para valer: limitar os combustíveis fósseis e as indústrias poluentes, reduzir os consumos supérfluos, mudar a produção e o trabalho, investir nos transportes públicos e na eficiência energética do edificado. Mas não se enganem. Estas mudanças não vão acontecer enquanto todos os outros aspetos da nossa sociedade forem subjugados à proteção da finança e das grandes empresas, dos seus lucros, e à obtenção de um excedente orçamental que lhes agrade. O clima tem de ser a prioridade, em vez da proteção da Banca: se o clima fosse um banco, já estaria salvo.» Mariana Mortágua, in Se o clima fosse um bancoJN.
  • «Longe de abordarem a crise climática e os conflitos, as abordagens baseadas no mercado saídas da Cimeira da Terra do Rio de 1992 e das Convenções Internacionais subsequentes correm o risco de intensificar os conflitos globais pela terra e a devastação ambiental, que se baseiam na violência e na história das florestas políticas», concluem Alexander Dunlap e James Fairhead, da University of Sussex, Brighton, num estudo intitulado “The militarisation & marketisation of natuare: na alternative lens to climate-conflict”.

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