sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Bico calado

  • «(…) A WhatsApp, uma plataforma do grupo Facebook, processou a NSO, a maior empresa de vigilância de Israel, acusando-a de ataques cibernéticos. Em apenas duas semanas, a NSO teria atacado telemóveis de mais de 1.400 utentes em 20 países. O spyware da NSO, conhecido como Pegasus, foi usado contra ativistas de direitos humanos, advogados, líderes religiosos, jornalistas e ativistas humanitários. Segundo a Reuters, altos funcionários de aliados dos EUA também teriam sido vítimas desses ataques. Depois de controlar o telefone do utente sem o seu conhecimento, o Pegasus copia os dados e liga o microfone para fazer vigilância. A Forbes descreveu essa aplicação como o "kit espião móvel mais invasivo do mundo". A NSO licenciou o software para dezenas de governos, incluindo regimes que violam os direitos humanos como a Arábia Saudita, o Bahrein, os Emirados Árabes Unidos, o Cazaquistão, o México e Marrocos. A Amnistia Internacional queixou-se de ser um dos alvos de spywares da NSO. Atualmente, apoia uma ação legal contra o governo israelita por emitir à empresa uma licença de exportação. Na mesma semana em que o WhatsApp lançou a sua ação legal, o canal de televisão americano NBC revelou que a Sillicon Valley está interessada em entrar em contato com startups israelitas envolvidas em abusos associados à ocupação. A Microsoft investiu imenso na AnyVision para desenvolver ainda mais a sofisticada tecnologia de reconhecimento facial que já ajuda os militares israelitas a controlar os palestinianos. As ligações entre a AnyVision e os serviços de segurança israelitas são visíveis. O seu conselho consultivo inclui Tamir Pardo, ex-chefe da secreta israelita Mossad. O presidente da empresa, Amir Kain, foi chefe do Malmab, o departamento de segurança do ministério da defesa. O principal software da AnyVision, Better Tomorrow, foi apelidado de "Ocupação Google" porque a empresa garante que pode identificar e rastrear qualquer palestiniano pesquisando imagens da extensa rede de câmaras de vigilância do exército israelita nos territórios ocupados. Segundo Yael Berda, investigador da Universidade de Harvard, Israel mantém uma lista de cerca de 200.000 palestinos na Cisjordânia sob vigilância permanente. Tecnologias como a AnyVision são consideradas vitais para manter esse vasto grupo sob constante controlo. O próprio governo israelita tem cada vez mais interesse em usar essas tecnologias de espionagem nos EUA e na Europa, pois a sua ocupação tornou-se motivo de controvérsia e escrutínio no discurso político convencional, especialmente depois da eleição de Jeremy Corbyn, há muito ativista dos direitos palestinianos, como líder dos Trabalhistas no Reino Unido e da entrada de deputados no Congresso dos EUA, nomeadamente Rashida Tlaib, a primeira mulher palestino-americana a ocupar o cargo. Israel receia que o movimento internacional de solidariedade BDS (boicote, desinvestimento e sanções), que apela ao boicote a Israel – seguindo o modelo da luta contra o apartheid da África do Sul - até que pare de oprimir os palestinianos.  Como resultado, as empresas cibernéticas israelitas têm-se envolvido cada vez mais nos esforços para manipular o discurso público sobre Israel, alegadamente intrometendo-se nas eleições estrangeiras. Duas dessas empresas foram manchetes. A Psy-Group, que se comercializava como uma “Mossad privada de aluguer”, foi encerrada o ano passado, acusada pelo FBI de interferência nas eleições presidenciais de 2016 nos EUA. O seu "Projeto Borboleta", de acordo com o New Yorker, tinha como objetivo "desestabilizar e interromper os movimentos anti-Israel a partir de dentro". A Black Cube foi denunciada, o ano passado, por realizar vigilância hostil aos principais membros do governo anterior dos EUA, sob Barack Obama. Aparece intimamente ligada aos serviços de segurança de Israel, tendo estado alojada, durante algum tempo, numa base militar israelita. Há outras empresas israelitas que procuram confundir a distinção entre espaço público e privado. A Onavo, uma empresa israelita de recolha de dados criada por dois veteranos da Unit 8200, foi adquirida pelo Facebook em 2013. A Apple baniu a sua aplicação VPN o ano passado após confirmar que estava a fornecer acesso ilimitado aos dados dos utentes. O ministro de assuntos estratégicos de Israel, Gilad Erdan, que lidera uma campanha secreta para demonizar ativistas estrangeiros do BDS, teve reuniões regulares com outra empresa, a Concert, o ano passado, segundo um relatório publicado pelo Haaretz. Este grupo secreto, isento das leis de liberdade de informação de Israel, recebeu cerca de 36 milhões de dólares do governo israelita. Os seus diretores e acionistas são a nata da segurança e informações de Israel. A Candiru, nomeada a partir de um pequeno peixe amazónico que tem a fama de invadir secretamente o corpo humano onde se torna um parasita, vende as suas ferramentas de hackers principalmente a governos ocidentais, embora as suas operações estejam envoltas em segredo. Se este futuro distópico continuar se desenrolando, Nova York, Londres, Berlim e Paris parecer-se-ão cada vez mais com Nablus, Hebron, Jerusalém Oriental e Gaza. E todos nós entenderemos o que significa viver dentro de um estado de vigilância envolvido em guerra cibernética contra aqueles que ele domina.» Jonathan Cook, in Dissident Voice.
  • O governo israelita criticou a decisão do tribunal europeu de rotular os produtos dos colonatos israelitas no território palestiniano ocupado como uma forma de discriminação e prometeu impedir sua implementação. MEM.
  • «Em 1995, a UGT dirigida por TORRES COUTO foi acusada pelo Ministério Público por fraude na obtenção de subsídios (em 1988/89) do FUNDO SOCIAL EUROPEU, num valor superior a 1,8 milhões de euros. Torres Couto, então secretário-geral da UGT, conseguiu a prescrição do procedimento criminal em que era acusado, graças a uma “conveniente” falha processual: “por ter sido notificado numa data posterior a todos os restantes acusados”. Era (e é!) esta a Justiça em Portugal. Torres Couto continuou a sua vida, o dinheiro nunca mais ninguém o viu.» Paulo de Morais.
  • «Talvez não tenhamos ainda reparado, mas aquilo que se está a globalizar não é apenas o capital ou o investimento, as empresas ou a inovação, o turismo ou a tecnologia – é também o desespero. (…) Ao Estado Social redistributivo e que provisiona sucedeu o Estado Liberal da “competitividade”, da “flexibilização laboral”, da “atracção de investimento estrangeiro”, da “privatização” – um Estado que se “funde com o capital” e por isso é cada vez mais permeável à corrupção. Se a “mão invisível” se impôs sobre os países e as suas legislações, as pessoas e o ambiente, munindo-se de todos os dispositivos jurídicos, institucionais e tecnológicos para agir globalmente, pelo contrário a luta contra as desigualdades permanece dispersa no interior de uma geografia de nações e do seu sistema de contradições internas. Para agravar, os contentores ideológicos tornaram-se difusos. Ao “conflito entre classes” sucederam-se os interesses dos diversos “grupos sociais” e agora, no limite, resta-nos a nossa própria “identidade” como forma de expressão e argumento no combate político. Será suficiente ou terá chegado o momento de “globalizar” a própria luta? O grau de marginalização e de invisibilidade ampliou-se a camadas vastas da sociedade — implica, por isso, que articulemos “conjuntos de reivindicações diversas” numa mão colectiva comum — tal como se anuncia nas questões ambientais. Só assim será possível fazer frente a um sistema económico cumulativo, global, monopolista e desregulado que se apoia na produção da desigualdade (entre pessoas e territórios) e na dispersão da luta social para progredir. (…)» Sebastião Ferreira de Almaida, in Público 13nov2019.
  • O presidente da associação de estudantes da Universidade da Flórida está a ser acusado de abuso de poder pelo uso do dinheiro de propinas dos alunos para hospedar um dos filhos do presidente Trump, relata o New York Times.

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