Contabilidade criativa de carbono: como a indústria e o governo fazem a queima de madeira parecer uma solução climática, por Alex Varley-Winter in DesmogUK 4jul2019. (excertos)
O Reino Unido comprometeu-se a ter contas certas nas emissões de gases com efeito de estufa geradas pela sua economia. Isso significa que, por cada tonelada de dióxido de carbono libertada, uma tonelada será capturada noutro lugar. É um conceito simpático, conhecido como 'net zero', mas depende de uma contagem precisa e honesta das emissões. E já há países a fazer o que Greta Thunberg chamou de "contabilidade criativa de carbono" para equilibrar os seus livros.
Isto é mais que evidente na indústria de biomassa. Nela se queima resíduos ou madeira para gerar energia, tal como com o carvão. A biomassa também emite dióxido de carbono e outros gases do efeito estufa, tal como o carvão.
Porém, ao contrário do carvão, as emissões de biomassa estão a ser mantidas fora das folhas de balanço do dióxido de carbono da maior parte dos países, o que é uma desonestidade, alegam os ativistas.
Em janeiro de 2018, 800 investigadores e cientistas pediram à Comissão Europeia para não considerar a biomassa florestal como combustível 'sustentável', prevendo que isso iria causar desflorestação massiva e poluir muito mais do que o carvão. Segundo eles, a queima de madeira é ineficiente e, portanto, emite muito mais carbono do que a queima de combustíveis fósseis por cada quilowatt/hora de eletricidade produzida. E acrescentavam: “Em 1850, o uso de madeira para bioenergia acelerou a desflorestação da Europa Ocidental, quando os europeus ainda muito menos energia do que agora. Embora o carvão tivesse ajudado a salvar as florestas da Europa, a solução para substituir o carvão não é voltar a queimar florestas, mas substituir os combustíveis fósseis por fontes de baixo carbono, como o sol e o vento." Apesar deste protesto, a biomassa florestal é, hoje, considerada um combustível sustentável segundo a legislação europeia.
Vários conservacionistas florestais avançaram com um processo contra a UE na tentativa de contrariar a promoção do uso da biomassa florestal como combustível neutro de carbono. Alegam que essa medida despoletou o abate massivo de florestas, por exemplo, na Roménia, na Estónia e na Carolina do Norte. Dizem ainda que o esquema favorece o crime organizado.
Além disso, compensar as árvores queimadas pelo crescimento de novas leva muito tempo: “Se se cortar e queimar árvores para obter energia, as emissões líquidas de carbono para a atmosfera excedem as de uma central a carvão durante mais de 40 anos e as de uma central a gás durante mais de 90 anos. " Mais: "Cortar e queimar as árvores não apenas liquida os estoques de carbono em pé, mas também elimina a possibilidade de essas árvores continuarem a crescer e continuarem a retirar dióxido de carbono da atmosfera".
Os ativistas culpam os subsídios pelo rápido desenvolvimento da indústria das péletes. Esta indústria não existia em 2008 e agora o Reino Unido importa milhões de toneladas de árvores norte-amerricanas para as queimar em péletes. Os subsídios são mesmo lucrativos, dizem.
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