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sábado, 13 de abril de 2019
Bico calado
«Assange recusou ser membro do clube. Ele envergonhou tantos jornalistas porque conseguiu, através da Wikileaks, revelar muito mais manchetes do que eles tinham conseguido durante todas as suas vidas. Ele teve muito sucesso e mostrou o que os media de facto sempre foram, e nunca como agora, um apêndice do poder estabelecido. Ele expôs isso e não lhe perdoem por isso. » John PIlger, outubro 2018.
«É de uma arrogância sem limites tentar processar um editor não americano na Europa segundo leis dos EUA. Se o governo e os jornalistas do Reino Unido permitirem isso, talvez Moscovo ou Riad processem jornalistas britânicos por revelarem segredos sobre eles. É este o precedente criado.» Mark Curtis.
Na semana passada, o parlamento do Equador aprovou uma resolução pedindo uma investigação de corrupção sobre assuntos de Moreno em relação aos INA Papers, a partir de um alerta lançado pela plataforma de notícias digitais La Fuenteon, em 19 de fevereiro. A INA Investment Corp of Panama é perita em otimizar impostos. Alega-se que, a partir desse paraíso fiscal, foram utilizadas altas verbas de uma conta offshore para fazer uma série de pagamentos de presentes, compras de móveis e um apartamento em Espanha. E a detenção de Assange não passou de um número de circo que, alegando a defesa dos interesses nacionais, mais não pretende senão desviar as atenções internacionais do escândalo de corrupção que envolve Moreno e a sua família. Fontes: CounterPunch e Dissident Voice.
As acusações contra Julian Assange são um ataque direto à liberdade de imprensa, alertam peritos como Yochai Benkler, da Harvard e Carrie Decell, da Knight First Amendment Institute, Columbia University. A acusação diz que que «Assange conspirou ao encorajar Manning a fornecer informações e documentos de departamentos e agências dos Estados Unidos.» É uma função básica do jornalismo incentivar as fontes a fornecer informações de interesse público sobre as atividades do governo. A acusaão também diz que «Assange e Manning conspiraram ao tomar medidas para esconder Manning como fonte da divulgação de documentos confidenciais para o WikiLeaks.» Mas proteger o anonimato das fontes é precisamente a pedra de toque de muitos relatórios de segurança nacional e investigativa - sem fontes não haveria divulgação de informações, e a imprensa não poderia cumprir o seu papel de responsabilizar o poder. A acusação diz ainda que «Assange e Manning conspiraram ao usarem o serviço de chat Jabber e a plataforma Dropbox para colaborar na aquisição e disseminação dos documentos classificados.» Acontece que tanto o Jabber como o Dropbox são ferramentas de comunicação vulgarmente usadas por jornalistas que trabalham com denunciantes. Ed Pilkington, The Guardian.
«(…) Imaginemos Tony Blair arrastado da sua casa georgiana de vários milhões de libras em Connaught Square, Londres, algemado, para ser enviado para o tribunal de Haia. Pelo padrão de Nuremberg, o maior crime de Blair é a morte de um milhão de iraquianos. O crime de Assange é o jornalismo: responsabilizar os predadores, expor as suas mentiras e dar poder às pessoas em todo o mundo com a verdade. A detenção de Assange traz um aviso para todos os que, como Oscar Wilde escreveu, “semeou as sementes do descontentamento [sem as quais] a civilização não teria avançado”. O aviso é explícito para os jornalistas. O que aconteceu com o fundador e editor da WikiLeaks pode acontecer com você num jornal, num estúdio de TV, na rádio, enquanto está a fazer uma gravação. (...) O The Guardian explorou o trabalho de Assange e WikiLeaks como sendo, segundo o seu editor anterior, "a maior manchete dos últimos 30 anos". O jornal desmentiu as revelações da WikiLeaks e reivindicou os elogios e dinheiro de que daí vieram. Um livro do The Guardian sobre o assunto levou a um lucrativo filme de Hollywood. Assange e a WikiLeaks não receberam um cêntimo. Os autores do livro, Luke Harding e David Leigh, revelaram a sua fonte, abusaram dele e revelaram a senha secreta que Assange tinha dado ao jornal em segredo, que pretendia proteger um ficheiro digital contendo mensagens tiradas da embaixada americana. (…) O The Guardian diz que “O caso de Assange é uma teia moralmente emaranhada. Assange acredita em publicar coisas que não deveriam ser publicadas… Mas ele sempre expôs coisas que nunca deveriam ter sido escondidas ”. Essas "coisas" são a verdade sobre o modo homicida como a América conduz as suas guerras coloniais, as mentiras do Foreign Office Britânico ao negar os direitos a pessoas vulneráveis, como os habitantes de Chagos, a denúncia de Hillary Clinton como apoiante e beneficiária do jihadismo no Médio Oriente, a descrição detalhada de embaixadores americanos sobre como os governos da Síria e da Venezuela poderiam ser derrubados e muito mais. Está tudo disponível na página da WikiLeaks. Compreende-se o nervosismo do The Guardian. A secreta britânica já o visitou, exigindo e conseguindo a destruição ritual de um disco rígido. (…) Em 1983, uma funcionária do Foreign Office, Sarah Tisdall, divulgou documentos do governo britânico que mostravam quando as armas nucleares americanas chegariam à Europa. O The Guardian recebeu uma chuva de elogios. Porém, quando uma ordem judicial exigiu conhecer a fonte, em vez de o editor ser preso por um princípio fundamental de proteção de uma fonte, Tisdall foi traída, processada e detida por seis meses. Se Assange for extraditado para a América por publicar o que The Guardian considera “coisas” verdadeiras, o que impedirá a atual editora, Katherine Viner, de o seguir, ou o editor anterior, Alan Rusbridger, ou o prolífico propagandista Luke Harding? O que vai impedir os editores do New York Times e do Washington Post, que também publicaram pedaços da verdade provenientes da WikiLeaks, e o editor do El Pais, em Espanha, e o Der Spiegel, na Alemanha, e o Sydney Morning Herald, na Austrália? A lista é longa. (…) Mesmo que os jornalistas que publicaram as denúncias da WikiLeaks não sejam convocados por um júri americano, basta a intimidação a Julian Assange e a Chelsea Manning. O jornalismo a sério está a ser criminalizado por bandidos às claras. (…) O jornalismo a sério é o inimigo das vergonhas denunciadas pela Wikileaks. Há uma década, o Ministério da Defesa britânico elaborou um documento secreto que identificava as três principais ameaças à ordem pública: terroristas, espiões russos e jornalistas investigativos. Os últimos foram considerados a maior ameaça. (…)» John Pilger, in The Assange Arrest Is a Warning From History – MPN. Conferir com este artigo de Kelley Beaucar Vlahos, no The American Conservative.
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